Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
Na tua pátria aldeia!
Então eu me ajuntava com Glauceste;
E à sombra de alto Cedro na campina
Eu versos te compunha, e ele os compunha
À sua cara Eulina.
Cada qual o seu canto aos Astros leva;
De exceder um ao outro qualquer trata;
O eco agora diz: "Marília terna";
E logo: "Eulina ingrata".
Deixam os mesmos Sátiros as grutas.
Um para nós ligeiro move os passos;
Ouve-nos de mais perto, e faz flauta
C'os pés em mil pedaços.
"Dirceu, clama um Pastor, ah! bem merece
"Da cândida Marília a formosura.
"E aonde, clama o outro, quer Eulina
"Achar maior ventura?"
Nenhum Pastor cuidava do rebanho,
Enquanto em nós durava esta porfia.
E ela, ó minha Amada, só findava
Depois de acabar-se o dia.
À noite te escrevia na cabana
Os versos, que de tarde havia feito;
Mal tos dava, e os lia, os guardavas
No casto e branco peito.
Beijando os dedos dessa mão formosa,
Banhados com as lágrimas do gosto,
Jurava não cantar mais outras graças,
Que as graças do teu rosto.
Ainda não quebrei o juramento,
Eu agora, Marília, não as canto;
Mas inda vale mais que os doces versos
A voz do triste pranto.
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