Tomás António Gonzaga
Marília de Dirceu
Parte 1
Lira XXIII

Num sítio ameno
Cheio de rosas,
De brancos lírios,
Murtas viçosas;

Dos seus amores
Na companhia
Dirceu passava
Alegre o dia.

Em tom de graça
Ao terno amante
Manda Marília
Que toque, e cante.

Pega na lira,
Sem que a tempere,
A voz levanta,
E as cordas fere.

C'os doces pontos
A mão atina,
E a voz iguala
À voz divina.

Ela, que teve
De rir-se a idéia,
Nem move os olhos
De assombro cheia:

Então cupido
Aparecendo,
À Bela fala
Assim dizendo:

"Do teu amado
"A lira fias,
"Só porque dele
"Zombando rias?

"Quando num peito
"Assento faço,
"Do peito subo
"À língua, e braço.

"Nem creias que outro
"Estilo tome,
"Sendo eu o mestre,
"A ação teu nome."