[aos cientistas da
poesia]
há um problema. este
poema não começou assim,
assim desta forma,
não, não. o poema
começou antes,
minutos antes de o
escrever,
e o primeiro verso
está muito longe
daquele que agora
expendi.
também a cor do
poema era outra, uma
cor difusa, definida
por olhos azulões,
que o expiavam e
viam através,
que suspiravam no
seu sangue castanho,
que sondavam o seu
insignificante-aos-olhos-de-muitos
significado mais
arterial,
uma cor fundida e
por outro lado fundente,
oblíqua,
verticalizante, material.
quando aqui cheguei,
um ou dois sonhos depois,
tudo era diferente e
diferenciado,
e nem uma palavra se
manteve quieta e justa.
e este exemplo,
creio,
negro e incerto,
inundado de um transparente opaco,
talvez possamos
reter e demorar na sombra patológica das sílabas,
tal bastando para
concluirmos:
1. que hoje não
podemos decretar a liberdade
da lágrima no rosto
preso
(concebemo-nos,
recordo, dentro de um animal adolescente)
2. que a poesia não
poderia ser, nunca,
como alegam esses
homens de palavra de veios pulsados
e microscopizada,
uma ciência exacta.
in Instalação, (a publicar em 2009) |