Expírito-Multiversos, como soma, não é um livro para ler-se e pronto. Para mim, consegues criar verdadeiramente um universo alternativo, poessível, onde os neologismos, os inventos, as decomposições têm um sentido muito preciso, fatal. E é tudo de enorme coerência, uma reflexão que na medida em que a lemos, está sucedendo, está correndo, está fluindo. Conseguiste captar o pensamento em fluxo e também fracassaste, porém todos os que tentaram captá-lo nesse fluxo constante, pelo menos na modernidade, fracassaram, porque desde os românticos alemães é parte do destino: fracassar.
Friedrich Schlegel e Novalis diziam maravilhosamente que criar é criar compreensão, mas também incompreensão, e que a incompreensão (a nescencia de Novalis) é necessária, é fundamental para a criação. E assim está em ti, não porque haja poemas ou linhas ou obras “incompreensíveis”, mas sim porque estás falando sempre da incompreensibilidade como qualidade íntima da comunicação. Como qualidade única do que é o lugar onde tudo se torna real e virtual, possível e poessível. Fizeste uma obra formidável. Admiro a coerência, a serenidade para ir construindo este belo edifício. Estás como um arquiteto, e combinaste magnificamente as formas do poema de verso livro, os aforismos, os mini-ensaios à Nietzsche, e profundamente está teu diálogo-réplica-monólogointercâmbio com Mallarmé, José Gorostiza, Paz, Nietzsche, Deleuze-Guattari, Marcel Duchamp…
Rubén, teu Expírito é algo precioso, algo maravilhoso, e esta não foi senão uma primeira leitura. Muitas vezes senti o que sempre senti e admirei em Nietzsche: é impossível lê-lo “seguidamente”, ou de uma sentada. Impossível. A carga é tão intensa, cada fragmento tem uma carga tão forte de sentido que é impossível terminar um e continuar o seguinte como se nada. Ao mesmo tempo, é necessário seguir, porque isto é parte do efeito buscado, embora seja impossível abarcá-los de uma só “olhada”. Tens um mundo, Rubén, que mais se pode querer?
Jorge Aguilar Mora, escritor e professor.
Universidade de Maryland, USA |