Logo nos primeiros poemas de Rodolfo Alonso se nos depara a vontade de construir un mundo humano e o desafio à adversidade do destino e opacidade do real. Mas esta vontade de construção não é idealizante e só se efectiva mediante a defrontação contante com o negativo da condiçao humana. Rodolfo Alonso é o poeta da esperança e da clara afirmação dos valores humanos que é necessário defender para a construção do mundo. Todavia, o poeta no possui uma ideologia ou uma mensagem, uma vez que o poema surge como realidade fundadora de um sentido não predeterminado, que vai despertar e consumar a vontade de construção humana. Esta vontade é muito forte e quase redunda numa afirmação ideológica dos valores da construção humana. Mas Rodolfo Alonso é sempre fiel as exigencias radicais da construção poética, evitando a sobreposição ideológica e a retórica dos princípios declarados. Todavia, a vontade construtiva é bastante acentuada e claramente definida, como neste passo: “la que yo amo está cerca de mí / nuestra fuerza es la fuerza de los hombres / está en mis venas y en mis músculos / caliente como el pan como la sangre como el vino”. Estes versos são menos uma declaração de princípios do que a assunção de uma força que engloba os valores elementais e sagrados do homem ligados à comunhão fraterna ou à construção de uma comunidade viva e autêntica. Toda a poesia de Rodolfo Alonso é animada por este fervor ético e elemental e, decorrentemente, por valores humanos que incidem na construção do mundo segundo os vectores de uma sensibilidade e de uma afectividade constantemente elaborada e vivificada pela criação poética. Assim, a liberdade nunca se dissocia da fraternidade, nem o amor da dignidade, nem o domínio pessoal do sentido da comunidade: “he construído mi dominio / tengo el día la ciudad el pecho de la lluvia / la libertad como una mano”. Mas se esta poesia tende sempre para o encontro numa comunidade viva, actual ou projectada no futuro, por isso mesmo está atenta à dor e à solidão, a tudo o que limita o homem na sua possibilidade de uma abertura ao mundo: “Escucha, en la alta noche, los aullidos del solitario. Él ronda las huellas recientes de tus pasos que aún gimen en la arena; él se ajusta a tu recuerdo, bebe el hálito acre que has dejado vibrando en cada sitio, en cada gesto, en cada interminable noche.” Todavia, a poesia de Rodolfo Alonso não está virada apenas para o domínio humano; na sua sobriedade expressiva, ela é também a exploração do obscuro mundo latente que não se pode ignorar sem perda da integridade poética e humana: “Vamos a adelantar un pie sobre el absurdo. / Vamos a conocerte: mundo incierto y animal, agua madura. / Estos ríos cavan la verdad silenciosa. / Necesitamos su virtud, su falta de costumbre, su vida de aventuras. / No se les puede dar la espalda.” A atenção à vida elemental é, neste poeta, não uma assunção exuberante e eufórica ou dionisíaca, mas um delicado veio da sua poesia. Mas esta delicadeza, que caracteriza toda a sua obra poética, não significa pobreza ou falta de intensidade poética, porquanto é uma condensação estética de grande efeito expressivo na sua pureza radical e na sua claridade formulativa. Este despojamento revela a um tempo uma grande força poética e a capacidade de a transmudar em formulações claras e simples de uma evidência nua e de uma essencialidade extrema: “incierta / fácil // tu mirada deslumbra / en el mal // inclinada / segura // yo te he visto volverte / entre los otros / en la luz // yo te he visto / te he amado // limpia // oscura”. Podemos dizer que a poesia de Rodolfo Alonso visa sobretudo criar uma palabra evidente e clara que corresponda a um “olhar nu” que abarque o real numa síntese breve e fulgurante: “no quiero perder / la mirada desnuda // la mirada implacable / la mirada cambiante / que dejas caer a veces / sobre mí // humillados // bajo el peso húmedo de la violencia / no morirán los ojos del amor // sometidos // no cesará la mirada inalterable // grietas / manos blancas // los ojos que sostienen el mundo no deben detenerse". Esta síntese é plenamente conseguida, sem prejuízo da riqueza do que é formulado e sem, de modo algum, trair a força criadora e o mundo selvagem e insubmisso que lhe subjaz. Por isso, a voz que o poeta procura é a “voz errante”, “a voz temível e ágil que ilumina o sangue”. Este é o domínio do informulável, quer dizer, do sagrado: “hay un abismo al borde del silencio / en lo alto de la voz // viviremos a merced de su aliento sagrado”. Assim, esta poesia extremamente condensada e breve, é uma poesia aberta ao mundo e à realidade humana sem interposição ideológica, animada por um permanente sentido ético de comunhão fraterna e pela vibrante intencionalidade de um olhar que se abre à nudez essencial do mundo visível e ao domínio invisível inerente ao ser. |