Por
estar distante, mas também por
conveniência,
não
escolhi eu mesmo o vestido de Natal
para minha mãe
Apenas
enviei à Branca, minha irmã, o
dinheiro necessário
Foi
ela quem, conhecendo nossa mãe como
ninguém,
decidiu pelo modelo, cor e,
principalmente, tamanho
Do
resultado da escolha, nada sei, mas
sei que,
mais
uma vez, fui investido de comodismo
Sentimento estranho, imaginar como,
na noite de Natal,
ficou
minha mãe nesse vestido que eu nunca
vi
Mas
logo se vai o alento, pois nem mesmo
sei sua cor
Com
certa tristeza, a conclusão que não
tem conserto:
Não
fui eu quem, realmente, deu o
vestido,
posto
que ausente quase sempre estive
e sei,
o mais valioso e verdadeiro presente
é a presença
Dei o
dinheiro, eletronicamente
transferido
Branca, indo muito além,
deu cor, concreta forma
e a
ela seu tempo inteiro sempre dedicou
Eu
apenas paguei o vestido que nem sei
se minha mãe usou
E se o
tiver usado, com o que ela combinou?
Uma
sandália? Um sapato de salto bem
baixo?
Aquele
antigo colar de pérolas? Um laço no
cabelo?...
Em
meio a uma prece nunca feita, meu
sobressalto:
Depois
de ter sido filho por tanto tempo
tão distante,
num
instante sou pego em cheio pela
constatação:
já não
há regresso, não mais físico
encontro nessa história
E para
mim o que fica, além de saudade e
dor,
é esse
vestido, sem forma e sem cor,
para sempre pendurado no cabide da
memória.
Iniciado em 31/12/09
Concluído em 6/01/10 |