É
desejo de voltar atrás,
resgatar o que não mais existe
É, num instante, distante interior,
pendurar-se ao velho trem
e, leve, apenas seguir em frente...
É, sem temer as fagulhas da
memória
crescendo ao sabor do vento,
costurar a própria história
com o vai-e-vem das agulhas do tempo
Era a barra do açude, boca da
noite...
Pio de pássaros, brisa soprando amiúde...
E sob o céu, em seu desatino,
meu tio, barra do chapéu quebrada,
olhos úmidos na terra rachada
Era eu, menino, nas asas da
imaginação...
Içando as âncoras dos meus navios em pleno sertão
Foi papel de seda, sede de
livre ser...
Linha da pipa, em contumaz movimento,
fazendo ponto de cruz com a linha do horizonte
E quanto mais forte a lembrança – bolas de gude –
mais se esparrama em cores o sentimento
E também em fragmentos, a tristeza...
Dor de saber que os sonhos mais caros
perderam-se todos em algum lugar
do mesmo antigo e mutante horizonte
É. Era. Foi e para sempre será...
Essa consternação, esse quase luto...
Hoje, cada de nós, está emaranhado
nos nós de seu próprio reduto
Não mais o ser tão ingênuo
Não mais o ser tão menino
O sertão da infância para sempre se foi
O tempo, cruel argamassa, nos endureceu...
Cidade grande. Pedra. Concreto. Cimento
Em quase tudo, ausência de sentimento...
(Puxa, irmão, como é difícil acreditar
que o destino fosse nos transformar).
Iniciado em qualquer
lugar do espaço aéreo entre Belém e Brasília, em 8/9/2015 e concluído em
São Paulo, em 16/9/2015
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