Sinto que nunca estive tão calmo
Os motivos, antigos, para a ira
são, hoje, ilhas perdidas em mar, ali distante
Num instante, a essencial veracidade,
contida e percebida no simples olhar
Contemplativo realmente estou
Senhor de um ser que não mais se ressente
e que, cada vez mais, mais forte se sente
Ao entendimento, sou de todo receptivo
As adversidades, entrego, serenamente,
a um Deus que ainda não conheço
Na convicção - mesmo frágil - de Sua
inexistência,
espero que o senhor Tempo cuide de todas elas
E, consorte do acaso, bem sei:
tempo não terei para qualquer lamento
na travessia do espaço entre vida e morte...
E todos aqueles que , durante tanto tempo,
ser vulcânico me conheceram,
pensarão que hoje sou um ser em extinção?
Revolvo-me e, olhar fixo nas águas,
fisgo esse pensamento-peixe
que, distraído, nadava por aqui:
Tudo no Universo é parte de uma única vida
que o tempo todo, devidamente, se reparte...
Todos nós somos seus contraditórios fragmentos,
efemeridade indispensável à perpetuação.