Estrelas-do-mar são saudade
Dos
astros que brilham no céu
Igualmente a morte dos homens
Só
tem forma de eternidade
do livro “Se o poema tem areia”
2.
a viagem
malas mais malas e mais malas muitas
levamos sempre quase tudo
e
quase nunca
“peço desculpa este comboio vai
para
onde”
?
“o
comboio não sei, a carruagem
segue para lisboa
confira a carruagem
seguinte”
quase tudo:
um
só pão
e a
magnólia de daniel
o
momento da fuga em plena noite
uma
estrela esculpida em forma de hora
um
anjo para todos os serviços
co’a voz numa caixinha negra
e
um álbum de premonições
valas mais valas e mais valas incomuns
onde jazem os beijos por beijar
de
onde se erguem palavras vez em quando
e
vez em onde
“peço desculpa a carruagem vai
para
onde”
?
“isso não sei, só sei que o meu lugar
vai
p’ra paris ou praga ou moscovo”
“e
o meu lugar p’ra o mar vermelho”
“e
o meu para o deserto”
“o
meu
o
meu lugar vai para o centro da romã”
quase nunca:
um
só pão
um
só peixe
alegria num floco de vinho
a
fórmula da infância
a
chave do reino do sono
a
laranjeira do gato
e
um cimo
falas mais falas e mais falas vez em vez
e
quando em onde
não
parece imundo o mundo
quando passa assim depressa
na
janela
verde verde roxo-branco
branco branco negro-azul
chuva chuva na vidraça
e
sempre o mesmo pensamento
tens de ir para onde o verbo vai
e o
verso
cai
na
primeira paisagem
eu
vi
cardumes de fogo
abrindo uma exceção
na
maré viva de pinheiros
e
servindo pois de refeição
a
regimentos inteiros de deuses
perenes como a história da água
caducos quais faúlhas de uma nuvem
na
segunda paisagem
pressenti
um
trapo de vidro tinto
uma
água de verde sal
e
um sol de ninguém
hasteados sobre derrotas do tempo
derrotas do espaço
e
histórias sem herói
na
terceira paisagem
vi
senti e pressenti
as
lágrimas inférteis de minha mãe
o
sopro já extinto de meu pai
“peço desculpa este lugar para onde
vai”
?
“o
lugar não sei, o meu olhar
segue para a fronteira do relógio
para o passe-partout segue o meu rosto
viaja a minha mão para o rubi
p’ra o cravo o coração leva o seu eco
na
direção do sangue envio o sexo
e o
corpo nu inteiro
à
toa sem roteiro
viaja até ao
livro
mas
o senhor, para onde deseja ir”
!
“eu
quero ir
para onde toda a gente
vai”
do livro “o fim não é o fim” |