aconchegam‑me calores sibilantes na mata densa subterrânea
onde as raízes pastam
os nossos relógios: rápidas estalactites do amolecer da terra
dedos que nos massajam o arrastar penitente
onde nasce o brilho mineral
boca ardente à terra seca
os lanhos grossos da árvore mãe
boca rasgada de gritar espesso
aos joelhos gastos de magros festins e rijos ossos
os bichos as águas podres e alimentícias
os sons surdos que vibram no estômago ácido que nos guia
sempre as paredes aconchegando‑nos ao desespero
raspar raspar as costas onde as raízes
o brilho mineral que nem chorar
cristaliza lamina os olhos ao desespero
fúria de gatinhar o espírito
mãe hemorrágica cobre o anoitecer permanente
sangue de todos que se esvai na terra onde as raízes
nuvens negras coaguladas na cristalização
mineral dos olhares que se esgotam no caminho
onde nasce o brilho e nem chorar
pútridos extremos que fazem andar e servem
os nossos relógios o desespero tubular
o afogamento como mundo a boca as mãos entrelaçadas
e a carne viva nem escorre nada suporta o corpo
onde nasce o brilho mineral
ao desespero ainda o nascimento
a concepção sacrificial penumbra
e as rosas tão banais... |
Pedro Luís Gomes Afonso nasceu em Faro, em 1979.
É um dos membros fundadores do Sulscrito, Círculo Literário do Algarve (http://sulscrito.blogsome.com) e faz parte da direcção editorial da revista de literatura Sulscrito.
É autor do blog “a pedra” (http://apedra.blogsome.com).
Publicações:
- Representado na Antologia de Novos Poetas Algarvios – Do Solo ao Sul, Faro, Dezembro de 2005, ARCA, pp 35-58.
- Representado e traduzido para Castelhano na Antologia de Poesia Portuguesa Actual – Poema Poema, Revista de Poesia Aullido nº 15, Punta Úmbria, Huelva 2006, pp 152-163.
- Representado na Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa, Editora Exodus, Fevereiro de 2008.
- Publicou poesia em algumas revistas de Portugal, Espanha e México.
- Tem publicado no seu blog o conjunto inédito de textos rapaz-areia, em http://apedra.blogsome.com/category/rapaz-areia/. |