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Luís de Miranda Rocha |
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A LUZ DA NOITE, O SOM DO MUNDO (fragmentos)
in: A luz da noite, o som do Mundo
Novo Imbondeiro, 2001 |
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1
Há um rumor, na voz que ouve, o mundo canta
Na voz que fala, o mundo ouve, o som do mundo
A luz da noite, incerta vaga, escuramente
A luz da noite, o som do mundo, azul escuro
Há um rumor, intenso grave, ouvido canta
O som do mundo, que no ar, o alterado
Esse rumor, imenso tão, suave grave
Ouvindo-o, esse rumor
Nocturno tão, grave ruído
2
Que de noite ressoa, mais intenso durante
Todo o som de que o mundo, e mais forte descanta
Obscuro intenso, alumínio ilumínio
Tanto a vida do mundo, percepção alterada
Rumor que ouvindo-o, que do mar que no ar
Percepção de que anda, que resvala desliza
Decrescente decai, declínio crescente
Alterado intenso, nos ouvidos ressoa
3
Que descanta, isso tanto, tão ouvido
Obscuro, na cabeça, arterial
Tão ouvido, que descanta, que altera
Desaltera, gravemente, esse ruído
Que altera, desaltera, que devasta
Indemente, gravemente, enrouquecido
Que devasta, tão ouvido, esse rumor
Esse som, que descanta, que nocturno
4
Anoitece o intenso quando ouvido da noite
Grevemente no ar o rumor o ruído
Da desordem do caos gravemente crescendo
O ouvido durante o que ouve o tremor
Do que ouve entreouve o sentido que treme
Anoitece o intenso excessivo intenso
O sentido de mais de que o caos que se forma
Anoitece entristece o sentido que cresce
Rumor que evolui do sentido no censo
Que furor que tremor do sentido oscila
5
Ouvindo-o indemente que ruído rumor
Tão agreste descanta esse som alterado
Em furor alterado o resíduo crescente
Ouvindo-o indemente azul grave obscuro
Ilumínio alumínio azul grave e intenso
10
O alastro indemente de que senso desliza
Alumíneo rumor grevemente veloz
De que senso o rumor progressivo que cresce
Alumínio intenso que intensivo decai
Numeroso inúmero
O clamor de que
Um furor que desvive
O seu som tão intenso
Um furor que descanta
Que desvive alterado
O som grave do mundo
Que oscila resvala
Que resvala flui
11
Indomínio crescente do sentido que anda
Alterado rumor inclínio que cresce
Na vida e no mundo na noite do mundo
No som de que avida do mundo descanta
Toda a vida que ouve nesse som que descanta
O sentido que cresce devagar e ligeiro
12
Escura vaga, azul a luz, da noite cresce
Por dentro ouvido, gravemente, o seu rumor
Intenso alto, luminoso que ilumínio
Alumínio, que ressoa, triste grave
Que descanta, como canta, tão incerto
Esse som, devastado nos ouvidos
Que ruído, que do mundo, quanto ouve
Tão nocturno, ilumínio, deflagra
13
O tão agreste grave, o som que anda
No ar durante a noite, o som do mundo
No som grave da noite, o mundo ouve
No som do mundo a noite, o mar demente
14
A noite, que do mundo, o som descanta
O canto, que do mundo, a luz depende
A noite, percepção, de que no ar
O mar, o som do mar, que no ar anda
A terra, percepção, de que terrestre
O som, do mundo ouve, intenso canta
A luz, tão irreal, demente que
No ar, celeste tão, grave cintila
15
O som do mundo, anda no ar, tumulto azul, imenso grave
O som do mundo, o som da noite, a luz da noite, azul escuro
A luz da noite, estrito intenso, a luz o seu, tenso alumínio
20
Tão grave o som do mundo canta
Intensamente nos ouvidos
Esse rumor esse furor
Esse clamor devastador
Ruído tão nocturno triste
Crescendo tão veloz alastra
21
O som do mundo ouve a noite canta
Um som tão grave triste nos ouvidos
O som do mundo tanto tão intenso
Um som imenso tanto um som nocturno
22
O que ouve no ar o que anda no ar
Esse som de que o mundo
De que a vida descanta
Esse errado rumor
Esse som obscuro
23
Ouvindo-o, esse furor, do mundo anda
No ar, e nos ouvidos, na cabeça
Descanta, grave tarde, quando a noite
Descanta, grave quando, o fim do dia
Ouvindo-o, que descanta, esse furor
Intenso, na cabeça, nos ouvidos
No ar, crepuscular, na formação
Da noite, esse furor do mundo vivo
24
Esse som veemente, tão demente indemente
Na cabeça a bater, a bater a bater
Nos ouvidos por dentro, da cabeça intenso
O que ouve tão grave, tão agudo o que ouve
O que ouve esse som, excessivo devasta
O demente indemente, devastado que canta
O que ouve esse som, o que canta descanta
25
Azul escuro grave a noite canta
O brilho frio tenso das estrelas
A pouca luz escura densa vê
Nocturno triste o som do mundo ouve
50
O que ouve esse vasto
Rumor grande que anda
Tão intenso no ar
Tão intenso ligeiro
O som grave do mundo
O que ouve de onde
No que ouve entrevê
De onde vem para onde
De onde a vida que som
Que sentido desliza
51
O que ouve persistindo esse rumor
Em furor veemente se transforma
Sensação que crescente percepção
Do que ouve persistindo tão incerto
52
Esse alastro luminoso da cabeça
Dos ouvidos tão veloz ao coração
Que ouvido que rumor do que ouvido
Que pode dentro escuramente luminoso
Agreste grave canta o som do mundo
53
Esse furor, agreste que, agudo grave
Na cabeça, indemente, o som descanta
O som do mundo, intensa vaga, vasta informe
O som do mundo, alegre triste, que alastra
Que se ouve, nos ouvidos, obscuro
Alumínio, ilumínio, densidade
Excessiva, que perturba, que obstrui
A incerta, percepção, irreal que
54
Radiante, obscuro, que descanta
Alumínio, ilumínio, se o vê
Se o ouve, que desliza, que resvala
Tão demente, indemente, que ruído
55
Ouvido como a noite o mundo anda
Que canta que descanta que nocturno
Intenso dentro o ouve é que rumor
Furor claro escuro grave intenso
60
Deflagra que luz
Tão agudo tão grave
Tão imenso tão forte
Luminoso alumínio
Tão real irreal
Que transluz que rumor
Tão suave e agreste
Na cabeça por dentro
Nos ouvidos interno
61
Vaga luz alumínea
Que pequeno ilumíneo
Que se ouve se canta
Que se ouve por dentro
Que se ouve por dentro
Ilumíneo rumor
Tão intenso que ouve
Que ouvido se altera
Que ouvido se altera
Vaga luz que ouvida
Que se ouve que anda
Que desliza ligeiro
62
Que ligeiro desliza, o tão grave rumor
Dos ruídos externos, o resíduo crescente
Do ardente ilumínio,que do som deflagra
Pontual gradual, tão intenso crescendo
O descanto do mundo, na cabeça ressoa
63
Que percepção, que se desloca,
Que formação, de que imagem
Tão vaga tão, incerta nula
Desgrave tão, e alterada
Desalterado, crescimento
Ondeio que, ondula o ar
64
A voz que canta, a sua fala, o som da voz, o som que canta, é obscuro.
O som que ouve esse rumor, do mundo ouve, a noite cresce.
É um clamor, cada vez mais, extenso e alto.
É um furor, devastador, intenso e nulo.
65
Dirigi-se esta fala a que ouvidos
O som o que da voz aí desliza
Diz pouco esse dizer é tão escuro
Nas margens faz-se ouvir incertamente
Dos centros de que vem de que resvala
Não tem há muito não origem nem
Há muito que não tem nenhum destino
Descentro que deriva desvaria
O sentido que tem é senso informe
A fala que se ouve aí descanta
Descanto progressivo que se ouve
O canto o grave que no som se diz
66
A voz que fala, a quem a ouve, o som durante
Esse rumor a noite canta, o som ruído
Devastador, imenso cresce, o mundo anda
A vida anda, essa deriva, a vaga incerta
Nocturno tão, esse som grave, o mundo triste
A percepção, que litoral, de noite o mar
Imenso o som, que grave canta, o mundo ouvido
A percepção, de que a vida, sensação
A sensação, de que no ar, o som de que |
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Luís de Miranda Rocha, jornalista, crítico e poeta
O jornalista, poeta e crítico literário Luís de Miranda Rocha morreu hoje (28 de Março de 2007) em Coimbra aos 59 anos, vítima de doença súbita, disse à agência Lusa o professor universitário Pires Laranjeira. |
Segundo o docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Luís de Miranda Rocha morreu hoje de madrugada em casa.
Autor de obras de poesia como «O Corpo e o Muro» (1968), «Os Sextos Sentidos» (1982) «Os arredores do Mar, os Subúrbios da Noite» (1993), ou «Nocturnos Litorais» (2003), Luís de Miranda Rocha trabalhou durante dez anos no antigo Diário de Lisboa e na revista Observador.
Actualmente era director-adjunto do jornal «Voz de Mira» e leccionava no ITAP - Instituto Técnico Artístico e Profissional de Coimbra.
Como ensaísta e crítico literário escreveu em diversas publicações, nomeadamente na Colóquio/Letras e em vários suplementos culturais.
«Foi, sobretudo, um poeta não canónico, de alguma forma marginal aos centros do poder cultural», disse o professor Pires Laranjeira, amigo do ensaísta.
Na perspectiva do professor de Literaturas Africanas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Luís de Miranda Rocha «é um dos raros poetas do Século XX que não usa o sentimentalismo, a retórica empolada de um discurso da tradição portuguesa, mas, pelo contrário, uma linguagem muito semelhante à música experimental».
«Foi um crítico de poesia de invulgar qualidade», disse à Lusa o director-regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita, também amigo do autor.
Para António Pedro Pita, professor do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras de Coimbra, «foi marcante o modo como Luís de Miranda Rocha acompanhou a produção poética dos anos setenta».
«Numa época em que a actividade crítica era muito intensa e até polémica, Luís de Miranda Rocha foi um dos críticos mais influentes», frisou.
Um dos seus títulos mais recentes neste domínio foi «Fingimento e Escrita/Fernando Pessoa numa Perspectiva da Comunicação e dos Meios».
O funeral do jornalista e ensaísta realiza-se quinta-feira, pelas 16h00, para o cemitério de Mira, concelho de onde era natural.
Lusa/SOL
IN: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=27321
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