Dai-me uma varanda de ventos
Com um passadiço sobre
O atlântico
Dai-me o voo das gaivotas
Que trazem em seu bicos
A profundeza do luar
Deixai-me inverter os buracos
Da minha voz
Sobre as mós dos moinhos
De dom Quixote desenrolar
A inflexão dos rochedos
Arrancar os rostos das máscaras...
Dizer criança, dizer mulher
Dizer esperança, dizer amor
Trazer na cúpula dos dedos
As madrugadas ancestrais
Colher da macieira amoras
Colher das videiras cerejas
Fazer do movimento do teu corpo
Elástico, bailarina, um arco bem retesado
e do bico do cisne
Uma flecha
e nas grandes nuvens que passam
desenhar cavalos de água
Cavalgai! Cavalgai ! Cavalgai !
Cavalgai cavalos de água !
Cavalgai por mim adentro
Rasgai-me o peito inssurecto
Levai-me no trote da vossa
Cavalgada, nu, escalpado...
Deixai-me moldar a fúria do barro
selvagem, deixai-me morder
As veias dos astros, sem receio
Correr... correr por planícies
Por matagais, por praias, por desertos...
- até explodir em cor
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