Num poema de Charles Baudelaire, a natureza é um templo
de pilares vivos:
Tudo nos fala, tudo nos quer dizer ou contar qualquer coisa.
Mas os nossos tímpanos, despojados de mar e de luar,
desaprenderam de ouvir os oboés das coisas infinitas,
oboés que se expadem no ar como o âmbar, o incenso,
o almíscar ou o benjoim.
Ao cimo das ladeiras ouvem-se, agora, de preferência,
as varinas do utilitarismo,
a sofreguidão dos hamburgers monstruosos
os arrotos da coca-cola - tão gostosa!
Porém, lá no fundo, nas caves deste arranha-céus
sempre bem maquilhado,
sempre pronto para a fotografia mais inesperada
ainda nos resta a poesia
a sua suavidade celestial, a sua escatalogia, o seu orfismo!
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