LUÍS COSTA:::::::::::::

Dois poemas

DEITAS- TE na posição vertical

como se faz quando o amor é uma violência.

uma violência mansa, inviolável;

um orvalho que invade o círculo prodigioso do fogo

e estremece no colo dos animais.

 

nomeias-me

e estendes - me os linhos dourados da tua boca,

os fabulosos linhos,

para que os meus pés encontrem o caminho secreto

 

– o caminho certo que me leva a ti.

 

e ando sobre a água

e ardo sobre a água

e flutuo

sou uma tremenda violação

um milagre

uma violação imaculada.

 

e assim atravesso todas as portas sem as abrir

e assim desço a ti

 

até que sejamos uma só substância

no aconchego das fontes nocturnas.

Foto: Sara Navarro
 

NESTA manhã derramo a luz do sangue do meu corpo

no teu corpo, os teus cheiros subindo-me nas narinas

opulentos , fortes como o bronze das cores nocturnas

ah esta penetração fabulosa por onde o divino

e o animalesco se misturam:

a lua e o sol tremendo nos grandes bosques

um rio que transborda as margens e conquista o temor

das casas e dos filhos e da morte dentro das casas

 

e nos espelhos desta ira que nos une e absorve, somos:

uma cegueira  iluminada.

 

Excessos de luz,

Luís Costa

 
 

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.