LUÍS COSTA:::::::::::::

Erotográficos

I


Sim, eu sei, sim, eu SEI - TE,

ó mais bela flor do meu jardim selvagem!

pois habitámos um tempo lacustre,

um tempo antes do tempo,

e amámo-nos no pontão, lembras-te?

lembras-te das grandes árvores 

pesando-se no vento,

como elas nos protegiam de Hyperion

(quando queimava) ?

e eu, eu era uma água secreta

que brotava das profundezas da terra

e sussurrante subia pela tua geometria  

e incendiava o teu colo,

o teu colo perfumado,

os teus peitos com doces mamilos hirtos,

até transbordar nos teu lábios

– ah como as nossas bocas se mordiam!

ah como os nossos corpos  

naufragavam um no outro!

era uma noite iluminada,

uma noite sem fim, só nossa,

com um luar crescente - só nosso ! -

onde depois do amor adormecíamos,

 

duas ânforas repletas de um vinho secreto.

 

II

 

Um dia faremos amor entre os livros

e as pinturas,  até que os livros

e as pinturas se incendeiem com

o lume dos nossos corpos.

um dia hei-de beber um vinho forte,

cor de sangue, pelo teu colo,

pois desejo-te, pois desejo-te

sismograficamente,

pois desejo todo o teu corpo, o teu sexo...

 

por vezes, nas minhas divagações

nocturnas,  imagino que beijo o teu sexo,

sim, que o lambo

como um fogo devastador.

e sinto os teus

dedos ávidos de limites no meu cabelo,

e os teus gemidos fazendo vibrar a noite,

a nossa noite,

a GRANDE NOITE,

com uma lareira onde o fogo arde

 

alto

e

poderoso.

Luís Costa
Sofia Ribeiro, Secretos da memória
 

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.