MEDITAÇÃO AGITADA
Uma tempestade faz rodar
furiosamente as asas
do moinho, na escuridão
nocturna, nada moendo – as mesmas
leis matêm-te acordado. A
barriga do tubarão
cinzento é a tua lâmpada fraca.
Memórias difusas descem às
profundezas do mar
e petrificam-se ali em estátuas
estranhas - verde
de algas é a tua muleta. Quem
deambula
pelo mar regressa petrificado.
MANHÃ E ENTRADA
O gaivotão-real, o navegador do
sol, segue a sua rota.
Por baixo, a água.
O mundo ainda dormita como uma
pedra
multicolor na água.
Mundo inexplicável. Dias –
como os caracteres dos Astecas.
A música. E eu estou preso
na sua tapeçaria, com os
braços erguidos, como uma
figura
da arte popular. |
CALMA NA RODA DE PROA IMPETUOSA
Numa manhã de inverno apercebemo-nos como a terra
rola para a frente. Uma aragem vinda
do oculto arremessa -se contra
as paredes da casa.
Banhada em movimento: a tenda do silêncio.
O leme misterioso no bando das aves migratórias.
Da escuridão invernal
sobe um tremolo
de instrumentos secretos. É como se estivéssemos
sob a alta tília do verão, de dez mil asas
de insectos
o fragor sobre a cabeça. |
Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.
Depois de passar três anos num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo. Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.
Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado. |