|
|
|
|
Lisboa
Tomas Tranströmer
(Versão de Luís Costa
feita a partir do texto original e da tradução alemã) |
|
No bairro de Alfama os eléctricos
amarelos cantavam nas
subidas.
Havia duas prisões. Uma era para os
gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser
fotografados!
"Mas aqui", disse o condutor, dando
risadinhas como um quebrado,
"aqui estão os políticos". Eu vi a
fachada, a fachada, a fachada
e lá em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos,
espreitando
para lá do mar.
A roupa pendia no azul. Os muros
estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos depois, peguntei a uma
senhora de Lisboa:
isto é real, ou fui eu que sonhei ? |
|
TOMAS TRANSTRÖMER
:
Tomas Tranströmer nasceu a 15 de
Abril de 1931 em Estocolmo. Estudou literatura e história das religiões, assim como psicologia.
Começou a escrever poemas ainda
durante o seu tempo de estudante. Em 1954 foi publicado o seu primeiro
livro: “ 17 Dikter “ ( 17 poemas) .
Tranströmer, cujos poemas se
encontram traduzidos em mais de 30 línguas, é considerado um dos mais importantes poetas suecos da
actualidade. A sua poesia ( bastante próxima da “ poésie pure “ de um
Paul Valéry ) “ aposta “ sobretudo na
intensidade e, partindo de uma linguagem que, com o passar dos anos,
se tem vindo a tornar cada vez mais lacónica, de
imagens concentradas, mas fulgurante, consegue provocar no leitor uma
enorme sensação de deslumbramento e
surpresa, podendo ser, em muitos casos, considerada surreal.
O universo poético de Tranströmer,
como o poeta/ ensaísta Harald Hartung diz: “não é deste mundo, ele é antes um
espaço imaginário que projecta uma luz fresca, mas intensa, sobre os
objectos e os homens”.
Em 1990 o poeta foi vítima de um
derrame cerebral que lhe afectou a capacidade de falar. No entanto
recuperou a saúde.
Anos mais tarde sofre, de novo, uma
série de derrames cerebrais. Desde então escreve sob grandes
dificuldades.
O seu último livro, Den stora gåtan
" (o grande mistério), um livro com 5 poemas, bastante curtos, e 54
haikus, foi editado em 2004. Desde então
não publicou mais nada.
Tranströmer encontrava-se, de há
vários anos para cá, entre os principais favoritos ao Prémio Nobel da
Literatura. Finalmente recebeu-o em MMXI. |
|
Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.
Depois de passar três anos num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo. Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.
Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado. |
|
|