Ouve , à noite, como a seda se
rasga
e a taça de chá cai ao chão, sem
ruído,
como por magia,
tu que só tens palavras doces para
os mortos
e levas um ramo de flores na mão
à espera da morte
que cai do seu corcel, ferida por
um cavaleiro
que a prende com os seus lábios
brilhantes
e chora pelas noites pensando que
o amavas,
e diz: vem para o jardim , vê
como as estrelas caem
e falemos em sossego para que
ninguém nos ouça
vem, escuta-me , falemos de nossos
móveis
tenho uma rosa tatuada na face e um
bastão
com um punho em forma de pato
e dizem que chove por nós e que a
neve é nossa
e agora que o poema expira,
como uma criança, te digo :
vem, eu fiz um diadema
( sai ao jardim e verás como a
noite nos envolve ) |
Nascido em
Madrid, 1948, Filho do poeta Leopoldo Panero, sobrinho de Juan Panero e
irmão de Juan Luís Panero, todos poetas, Leopoldo María Panero é hoje
considerado um dos poetas mais importantes da Espanha. Leopoldo tem uma
formação humanista: estudou filosofia e letras na universidade de Madrid
e Filologia Francesa na Universidade Central de Barcelona.
Ainda
muito jovem, foi incluído na legendária antologia poética de José María
Castellet "Nueve novísimos poetas españoles" (Barral, 1970) a qual reúne
obras de poetas, considerados os mais renovadores dos anos 60. Os outros
8 poetas que fazem parte desta antologia são: Manuel Vázquez Montalbán,
Antonio Martínez Sarrión, José María Álvarez e "La coqueluche", composta
por Félix de Azúa, Pere Gimferrer, Vicente Molina Foix, Guillermo
Carnero, Ana María Moix.
Em 1974,
numa reunião em casa do editor Jaime Salinas, Octavio Paz mostrou uma
grande admiração pelo jovem Panero, distinguindo-o entre os demais
jovens poetas espanhóis.
Durante a
sua juventude, sente-se fascinado pela esquerda radical. A sua
militância antifranquista leva-o à prisão. Daqueles anos datam também as
suas primeiras experiências com drogas que vão desde o álcool à heroína.
Porém
enganam-se todos aqueles que pensem terem sido as drogas e o álcool a
causa da sua loucura, se é que podemos falar neste caso de um louco. A
verdade é que há uma grande lucidez criativa na loucura de Panero.
Segundo algumas vozes, talvez a perda da razão tenha as suas origens nos
excessos de leitura. Disto não temos a certeza. Mas certamente que nos
ouvidos de Panero ecoam as vozes de Rimbaud, Baudelaire, Lautréamont,
Nietzsche, Lewis Carroll, Edgar Allan Poe, James M. Barrie, H. P.
Lovecraft etc.
Sofrendo
de esquizofrenia, é internado, em 1970, pela primeira vez, numa
psiquiatria. Contudo as suas constantes reclusões em psiquiatrias e
manicómios não o impedem de escrever uma copiosa obra não só como poeta,
mas também como tradutor, narrador e ensaísta. Nos finais dos anos 80,
altura em que a crítica reconhece a grande qualidade da sua obra, Panero
decide ingressar, de modo permanente, no manicómio de Mondrágon. Dez
anos depois muda-se, por vontade própria, para a Unidade Psiquiátrica de
Las Palmas, Gran Canaria.
A vida do
poeta em torno da sua famosa família, foi filmada no documentário “ el
desencanto " ( 1976 ) de Jaime Chávarri. Na década de 90, Ricardo Franco
revisita os Panero para filmar " Después de tantos años. "
Enquanto
os seus companheiros de geração discutiam em tertúlias e apareciam nos
meios de comunicação, Panero passava os dias em pensões sórdidas,
psiquiatrias e manicómios. No entanto isso não o impediu, repetimos, de
criar uma obra copiosa e de grande valor.
Hoje,
Leopoldo Maria Panero pode ser visto como um dos grandes mitos da
literatura espanhola contemporânea e é, sem dúvida, uma das figuras mais
controversas.
Desde há
vários anos, tem-se vindo a tornar um nome familiar nos meios de
comunicação: em revistas, jornais, rádio e programas televisivos.
Leopoldo
Panero é o arquétipo do poeta decadente, tanto amado como repudiado. E é
encarado como um poeta maldito ( malditismo que ele mesmo cultiva
conscientemente) na linha de Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont, Blake,
Artaud etc.
Não
obstante, foi o primeiro membro da sua geração a aparecer na editora
clássica espanhola Cátedra, a ter um excelente biografista, J. Benito
Fernandez ( " El contorno del abismo " , Tusquets, 1999) e a ser
incluído na história da literatura, bem como a aparecer em antologias e
programas académicos.
A sua
poesia é profunda, explosiva, lancinante e transgressora. É um poeta da
liberdade total, um poeta que transcende as fronteiras da normal
normalidade e da literatice como poucos o fizeram/ fazem.
Luís
Costa |
Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.
Depois de passar três anos num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo. Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.
Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado. |