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3 Nótulas do caderno de Buridan |
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1. Estou em acreditar
que um homem equilibrado ( se houver tal bicho), e bom moralista jamais
será capaz de fazer GRANDE poesia. Grande parte dos GRANDES poetas,
enquanto homens, são e foram contraditórios. Pensemos em Pessoa, Camões,
Baudelaire, Benn, Trakl, Rimbaud, Nerval e muitos, muitos outros.Há
também que não confundir entre o homem e o poeta. O poeta, ainda que o
homem desse poeta, seja um ser sociável, será sempre um solitário, um
outcast, um exilado no mundo. As asas do albatroz (romântico ) de
Baudelaire são uma realidade. Ele encontra-se do outro lado do rio...
Estou em acreditar igualmente que o centro do poeta é a margem. Há no
poeta de facto um sentido inato de revolta. Um não estar contente. Se
alguém se torna poeta, a meu ver, aconteça isto conscientemente ou não,
esse tornar-se poeta advém de uma falha, de uma falta que o poeta vê no
homem e no mundo: a poesia põe a olho nu a ferida aberta do homem e do
mundo.
2. O que fica de um
artista (poeta, pintor, músico etc.) não é o homem, ma sim a obra. É
claro que houve muitos artistas que, como homens, foram de facto
contraditórios ( muitos socialmente falhados ) e simpatizaram mesmo com
ideias políticas ditatoriais. Mas há que distinguir entre o homem e o
artista. A arte está sempre acima de todas as morais e politiquices.
Talvez possamos dizer mesmo com Antero de Quental que ela é santa, eu
diria, pura, porquanto não se deixa contaminar pelo desejo de poder, nem
pelas banalidades do homem. Por sua vez A GRANDE poesia é uma voz no
homem , mas uma voz em revolta, de facto transgressora, uma voz que
transcende sempre o demasiado, demasiadamente humano.Como se pode ler
num poema de Ko un: " Ele [ o poeta ] é, para sempre, uma estrela fiel
no firmamento
3. O que é um poeta
moderno? Um poeta moderno, a meu ver, não será tanto aquele que faz uma
poesia ou uma arte que quer ser moderna a todo o custo. Um poeta moderno
é todo aquele que consegue graças à sua obra transcender o tempo
histórico em que essa obra nasceu, ou seja, a sua obra é capaz de falar
aos leitores de todos os tempos. Poderemos afirmar ( lembrando
Heidegger) que estes são os poetas que vêem do futuro. Sendo assim
Camões, Baudelaire, Dante, Pessoa, Hölderlin e outros são muito mais
modernos do que muitos daqueles que hoje se dizem modernos.
Luís Costa |
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Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.
Depois de passar três anos num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo. Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.
Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado. |
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