LUÍS COSTA::::::::::::

Cânticos para Sulamita

(Depois de uma leitura dos Cantares de Salomão)

1
Foi na recâmara do Senhor que te conheci,
Foi ali que beijei os teus lábios de fino escarlate
Pela primeira vez,
Foi ali que me disseste:
Ah! Beija-me com os beijos da tua boca!
Beija-me! Lambe-me o sexo.
Quero ser tua!
Foi ali que inventámos palavras nunca antes ditas,
Palavras rubras de sangue,
Palavras interditas,
Foi ali que bebemos pelo cálix do amor,
O mais aromático dos vinhos.

2

O teu rosto era um pedaço de romã,
E as faces eram graciosas entre os brincos,
- Ó bela morena!
E as tranças lembravam os rebanhos de Jacob,
Descendo,
Impetuosos,
Pela montanha de Galaad;
E o teu ventre era um profundo oceano
Que eu adivinhava
Por baixo da túnica de puro linho.

3

Em frente ao rio que dividia a terra,
O cedro do Líbano erguia-se como um holofote inaugural.
Foi ali que construi a nossa casa.
E os barcos de papel singravam,
Iluminados,
Rumo ao outro lado do mundo.
Leves,
Singravam e singravam...
Eram os nossos corações
Abertos como grandes janelas de par em par,
Perfumados de incenso,
Ávidos de beberem o suco da vida,
Ávidos de luz
Como pássaros de luz

4

As vigas da nossa casa eram de cedro,
As suas traves de cipreste,
E o nosso leito era verdejante
E ali adormecíamos,
Depois do amor carnal,
Ao ritmo da sinfonia dos anjos.

5

Agora,
Antes de regressar ao silêncio do mar,
Ao universo dos seus búzios quebrados,
Por um momento olharei para trás,
Por um momento recordarei os teus olhos,
A boca,
Os favos de mel que emanavam da tua língua,
Os teus formosos e retesos mamilos
Contra o meu peito,
O teu pescoço entre o calor dos meus beijos,
As tuas coxas bem modeladas,
E o sexo aberto,
Uma flor,
Entregue à tempestade da minha língua

6

Num último suspiro ver-me-ei
Passear pelos teus jardins
E pelos campos
E pelas margens ladeadas de casas lacustres...

L. C. Züschen 2009

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.

http://oarcoealira.blogspot.com/