3 de Janeiro 1889, em Turim. A tarde azul. Uma Droschke pára diante de um hotel.
Um chicote espuma raiva. Relinchos abismais. Nietzsche atira-se ao
pescoço de um cavalo. O seu choro faz estremecer a Piazza de Carlo Alberto
até aos alicerces.
Sobre a cabeleira desgrenhada vêem-se relâmpagos e violinos quebrados.
O bigode farfalhudo é um medonho oceano, cuspindo baratas e morcegos.
Lou Salomé deixara-o abandonado na catedral da solidão. Áquela hora já passeava,
certamente, com Rainer Maria Rilke pelas margens do Neva.
Assim que a Primavera chegue , regressarão ao campo, a uma aldeola de Dykanka.
E aí passarão os dias, até ao Inverno seguinte, caçando borboletas
e dando-lhes nomes wagnerianos. |