Se bem me lembro, Frederico tinha duas camisas rendadas.
Uma preta, bordada a ouro e outra toda cor-de-rosa.
A preta era a sua preferida.
Era com esta vestida que sentia o mundo, com os dentes,
no seu pulsar matricial.
E sempre que Diotima visitava Frederico, o mar seguia-a.
E sem que ela desse por isso entrava na cozinha.
Então acocorava-se detrás da porta.
E ficava ali muito quietinho, horas e horas a fio,
ouvindo Hölderlin, recitando os seus hinos.
Era como um Vintage das melhores castas, à espera do tempo...
E as estrelas bailavam à tona da água e gôndolas carregadas
de ouro apareciam,
por um momento, por entre o crepitar das metáforas. |