A noite desce. Com os seus cavalos de nuvens engole a montanha.
Na floresta os sátiros rebolam-se no cântico de Diónisos. São as bacantes
Transportando ossadas, as cinzas do mundo, toda a sua nudez.
O vinho corre e as colinas libertam-se das suas poses de estátuas.
Arbustos e ninhos de pássaros nocturnos sibilando nas pedras, nas suas
Arcadas pré-históricas. Sexos purificados e casas lacustres emergem,
De súbito, do fundo de idades esquecidas. As águas brilham de tal modo
Que a noite se incendeia. Incendiados homens e mulheres correm pelas
Clareiras: os corpos húmidos de seiva nova.
Sem ferro nem betão, as suas pegadas. Uma nova dança afirma-se, já.
Sim, uma nova dança vê a luz do mundo.
Na simulação dos relógios, na sua pobre e resignável tristeza, nos seus
Dias de caruncho, as correntes rebentam-se, os ossos incendeiam-se.
As prisões do espírito explodem em sangue rejuvenescido.
Sob a destreza dos dedos de Beethoven, o mundo eleva-se das cinzas.
Nas cavernas do barro mora, agora, o sopro sagrado |