Ó bosques encantados de Züschen!
Terra boa, pura de cogumelos puros,
Dai-me um pouco da luz do vosso encanto,
Da vossa leda mansidão,
Dai-me o sono das bétulas e dos fortes carvalhos,
Das faias que perturbam o azul,
Dai-me
O seu poderoso sistema de raizes,
Feito de mundos abismais.
Por eles descerei aos limites dos homens,
Como um farol descerei áquele inferno dantesco
Que fumega nas caldeiras do seu coração.
A pirâmide mágica será a minha tenda.
Ali descansarei, à luz da candeia, com o
livro dos mortos entre as mãos.
Ali aprenderei a morrer sem morrer,
Ali descobrirei a mulher dos meus sonhos,
Mulher-metade- barro- metade- luz,
Carne da minha carne,
Descendente de Maria Madalena.
E a sua menstruação fluirá;
Metálica e pulsante
Fluirá;
Pelo crucifixo do meu toráx estilhaçado
fluirá,
Será o maior rio do mundo
Rio-encontro- de- todos- os-rios,
Grande mãe fluvial,
Dilúvio,
Universo dos meus ditirambos,
Evoé,
Ombro de Gilgamesh talhado na carne,
Telhado.
Depois virá o jejum pascal,
A abstinência,
O desejo de renovação...
Renovação do amor,
Do nosso amor
ainda mais cortante que a lâmina da navalha,
Ainda mais contundente que os dias de Outono
Atirando caixotes de lixo pelos ares,
Magros Outonos
Que acendem poderosas lareiras em nossos corpos.
E no pico do monte haverá uma sarça em fogo,
Monumento do nosso amor.
Assim o amor permanecerá vivo até ao Dia Final,
Assim o amor será uma fonte cristalina,
Uma divina torrente,
chave das chaves,
Imaculada aliança,
Olho no coração,
Que vê para além dos muros,
( muros que vamos construindo à nossa volta
Sem o sabermos )
Império das água comunicantes,
Como pálpebras adormecidas nos terraços de pedra e cal,
Para que a liberdade desabroche em nossos corações,
Para que seja uma tatuagem inconfundivel,
Evidência digna de trazer na carne,
Manto lilás,
Palavra no corpo do barro.
Ó barro dos dias!
Este será o tempo das grandes navegações,
Homens sábios chegarão de longe,
Homens sábios como Novalis,
que será o nosso guia
por entre os labirintos-de-nós-mesmos,
Luminoso astrolábio;
Os seus poemas serão erupções de ossos falmejantes,
O fogo na noite,
O fogo da noite,
O leite da sagrada e santa noite.
E Assim mergulharemos na vida,
Assim beberemos do sonho sagrado,
De todas as suas maravilhas e virtudes
E os bosques de Züschen serão o nosso Templo:
Já nada haverá que nos faça recuar,
Já nada haverá que nos separe da vida.
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