:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::

ARQUEOLOGIA INVIOLÁVEL
PELOS BOSQUES DE ZUESCHEN

4 POEMAS COM SCHOPENHAUER

1

Nós, despimos-te os mistérios da noite;
Pusemos tudo a claro.
No meio da praça grande,
Perante o júbilo das feras
E os olhos dos carrascos,
Colocámos-te a cr’oa de espinhos.

Sem rumo, ou olhos que vêem,
Despenhámo-nos por um funil de vazio.
Ignorámos o sinal da cotovia.
Já não existem mistérios, nem surpresas,
Nem os mélicos sorrisos das crianças.
Sim. Pusemos tudo a claro.

Tão claro como uma noite sem fim.

2

Vieste, sem que te procurasse, ou chamasse,
Assim como uma borboleta, ao acaso. Ainda
Tinhas a inocência toda. Um rebento d’astro
Brilhava-te na íris. Um oceano, nos teus cabelos.

O tempo dormia, o espaço dormia, no óvulo
Da eternidade; nem uma brisa se atrevia
A tocar as folhas. Que sonho seria esse?
Será possível sonhar sem gestos ou palavras?

Sem gestos ou palavras abriste os horizontes
Dos meus dias. Entreguei-me na volúpia dos
Teus braços. Cresceram-me asas, cresceram-me
Músculos, sonhos cheios de gestos e palavras.

Vieste, e quando as primeiras chuvas caíram
Tinhas perdido toda a inocência.

3
Meio do mês de Junho
Os campos tão claros!
O céu tão nítido!
No pátio do meu palácio
Balança um limoeiro crisofilo
Mais além uma cerejeira
Pardais crisópteros saltam
De pernada em pernada
Prrii prrii pi pi prrii prrii...
Abelhas povoam
O encanto das acácias
Açucenas heliotrópios
Crisântemos boreais...
Perfumes vegetais
Lançam borboletas ao vento
Cambalhotas heliófilas
Saltos de encanto
Longos, longos assobios,
Chocalhos...
As sombras escodem-se
Debaixo da sua própria sombra
Rios desenham o teu corpo...

Meio do mês de Junho
Na taberna das tuas horas
Bebo espaço
4

Muro branco longo
Muro branco
Onde me sento a ver
O mar

Daqui envio as minhas
Caravelas
Daqui invento cidades
Distantes

Asas sussurram dentro
Dos pomares
Arcos disparam flechas
Partem

Mansidão de igrejas espaço
Branco
Estradas que se dissipam
Em cereal

Sentado sobre o muro
Branco
Forjo espadas contra
O silêncio

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.