Sou noctívago,
Trineto de um morcego.
Amo a noite, amo noite.
Oh! terá que voltar de novo a ser manhã?!
Amo a sombra das árvores,
sua pele brilhando ao luar,
a tempestade dos arcanjos,
as moscas do verão,
asas explodindo
contra redes de silêncio.
Penso. Imagino.
O mundo é um abecedário secreto
em livros raros,
como o “ Livro dos Mortos “
Ardem-me os olhos,
tochas iluminando o fundo da terra,
Ardem-me os olhos,
suas metálicas raízes,
como uma secreta melodia,
como uma luva
remexendo na minha cabeça,
abrindo-a como quem abre uma romã,
a chama de mim-mesmo,
o seu puro arcaísmo.
E há palavras que emergem...
Como charruas ou foguetões
emergem
são fogo na boca,
são armas de arremesso
aguilhões rompendo a lua,
tocando a Via Láctea...
Escrevo,
atordoado escrevo;
o tempo já não existe
o tempo já não existe.
Serei eu quem escreve?
ou será a noite,
o leite dos anjos correndo pela minha mão,
a sua límpida e fresca maré ?
O meu coração abre-se
é um estame de luz no centro da noite,
uma bússola sem ponteiros...
Oh Santa noite!
Terá que voltar de novo a ser manhã? |