:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::

ARQUEOLOGIA INVIOLÁVEL
PELOS BOSQUES DE ZUESCHEN

DIOTIMA

IN MEMORIAM FRIEDRICH HÖLDERLIN

Ó bela Diotima!

O mundo é a minha voz.

Junto à margem do Neckar,

Lúcido de fogo e rosas

E sagrados rebentos,

aclamo-te,

E os barcos passam

e passam...

 

Ah!

como amo as paisagens

Germânicas,

Os longos campos,

As grandes florestas,

o sua noite medieval,

mas o meu verso sempre teve

a destreza e leveza

da Grécia matinal.

 

Diotima,

Em ti descobri a vida

Na vida,

A graciosidade dos cisnes,

A seiva jorrando,

Uma fonte colorida;

Por ti vi o mundo a fogo visto,

Para lá dos olhos...

 

Ah!

como lembro os teus

Doces peitos!

O teu sexo aberto,

Uma constelação,

Desperto na recordação

Adormecida.

Ah esta ânsia de vida!

Esta ânsia de ser tudo

E todos!

 

Os dias passam-me por cima

Habitam-me,

Multiplicam-se em mim,

São o milagre do vinho,

a hóstia magnífica

o reino que nunca

terá fim.

 

Quem sou ?

 

Diotima,

sou eu,

O grande viúvo,

o teu belo Scardanelli.

 

E da minha torre de marfim

Vejo o fabuloso Neckar a correr:

Ó aguas santas!

Ó águas imaculadas!

E ao sol posto

À altura das pêras douradas,

No silêncio das bétulas,

volvo a mim..

DIOTIMA II
Para uma jovem poeta

Oh minha amada!

Sou um pastor nas encostas da Serra da Estrela:

Pela manhã ordenho as minhas ovelhas, uma por uma.

 

Quando o meu rebanho entra na cidade, toda a gente

Vem à janela- o mundo é uma festa!

 

A meu tempo também louvei os deuses de barro,

A meu tempo também fui amigo dos vendilhões do templo

A meu tempo também elogiei Sodoma e Gomorra.

 

Entretanto aprendi a distinguir entre a luz e as sombras,

Aprendi a decifrar o silêncio das águas do Mondego.

 

Por isso construí uma casa sobre aquelas águas,

Uma casa lacustre, toda iluminada, pronta para te receber.

 

Ah como adoro tosquiar as minhas ovelhas!

Da sua lã tecerei um véu, que te of’recerei na nossa primeira noite.

 

Oh minha amada!

 

Toma este cálice, bebe do doce sumo das minhas romãs.

Bebe, bebe, minha esposa, minha amada!

Por ti, darei tudo quanto tenho, até o meu chapéu de palha.

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.