No templo de um claro silêncio em fins
de Dezembro, reúnem-se os dias
com todas as suas derrotas e vitórias
com todas as suas fabulosas epopeias
Ali � o mundo é um simples assobio
de pedra no puro centro da luz
ali � o homem agarra o pássaro de gelo,
ainda sombra, em seu voo profundo
É então que algo se acorda por trás
da pele: uma fanfarra de ópio, talvez,
ou um jacto de água na terra desértica
É como se a alma fosse um longo arco
segurando o horizonte em suas molas
É como se as chagas não estivessem lá
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Aqui
nada há
que separe o barro do barro
aqui
as coisas moram em si mesmas
e se a chuva cai
as rosas abrem as suas pétalas
e se troveja
o mundo é um trovão
e se o sol mergulha nas entranhas do rio
os seixos são cordões de luminosidade
e é então que os peixes também
são aves
e é então que as árvores
também são astros
e é então que as pontes
também são janelas
aqui
as palavras também caiem
e apodrecem
e morrem como os corpos dos animais
ou das plantas
e depois ressuscitam
e alimentam-se do húmus
e do orvalho e da pedra
e de novo
crescem
e crescem
e as suas raízes rompem o mundo
e na sua presença
agora
- tão real !
todas as coisas são o que são
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Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.
Depois de passar três anos num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo. Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.
Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado. |