Senhor, na tua mão direita deposito
o meu coração,
na esquerda os meus ossos decantados
e vazios
Procuro e não encontro,
sou um daqueles teus filhos
que trazem o mar no fundo
de um gavetão
Senhor, eu creio que o Sol
se levanta e põe
e que a lua pode ser uma rosa -dos- ventos,
um nimbo de loucuras nos caracóis
de todos os santos
E quando olho para tudo quanto me rodeia
acredito na tua palavra
habito nela
como uma abelha na sua colmeia
Senhor, no meu pensamento
existir é uma chaga fresca, retesa sobre
as tempestades do teu altar,
O teu silêncio faz-me doer
Sim! pesa-me, tritura-me
deixa-me blasfemar
mas ao mesmo tempo dá-me coragem
para te desbravar
Senhor, és o deserto do meu coração,
um lagarto ao sol do meio-dia,
um suspiro, o vinho no lagar.
Em ti mergulhado, em profunda oração ,
dou graças por poder cantar,
cantar o mundo, escrever estas
palavras cravadas d� amor furibundo,
como um Pégaso de água, como um
mártir alegre em sua dor
Luís Costa |