A noite vai adiantada
na penumbra do meu boudoir…
Sobre o meu coxim
de seda encarnada,
pobre de mim!
não posso descansar!
Revolvem-se em convulsões
sombras escuras!
São almas, são corações,
são desventuras!
Oiço chorar…
Escalda-me a cabeça!
Lá fora o vento não cessa
de ulular…
Que intraduzível anseio!
Busco, procuro, tacteio…
Nada! Nada!
A seda desmaiada!
O meu vestido…
E o vento a uivar!
Outro gemido…
E eu a procurar,
a procurar…
Olho em redor…
– É junto a mim,
é sobre o meu coxim
que geme a dor!
Despedaçam-se ilusões
dolorosamente!
Rasgo o cetim que me veste,
em convulsões,
perdidamente!
E o vento sempre a uivar…
Outro grito espavorido!
Sinto latejar a Dor…
É dentro do meu vestido!
Foi aqui que a Dor gemeu…
É no meu ser, dentro de mim.
– Sou eu! Sou eu!
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