O ser, caligrafia incerta.
O poema é um acto novo, inicialmente indefinido,
mergulhado nos violinos de água, nos augúrios da descoberta,
precipitando o nada, o desconhecido;
a trípode, o bálsamo, o desconcerto, a anémona;
a noite da noite; um som terrível;
o cânone abrindo a luz secreta da solidão,
o murmúrio indivisível imortalizando o nome.
Um sabor que começa a nascer.
Vejo o ser, caligrafia incerta, torres de alabastro.
Um poema — a única forma de conhecer o tempo,
a ordem criadora, a latitude boreal, os cometas da metamorfose,
lunações no céu nocturno; um único ponto de luz.
Uma razão, um fundamento.
O fulgor imediato para descobrir a escuridão,
o lado-morte por vezes, um barco para o Hades
— uma vela de mim.
Procuro, entre a palavra e o metal, a pedra e o silêncio,
o gérmen da claridade,
nessas águas iniciáticas, lugares onde as árvores amadurecem,
onde as folhas se propagam,
onde as cigarras gemem, exuberantes, fascinadas pela forma da
substância.
A noite — vivo fragmento na dança das casas, borboletas
voltejando;
os tempos, os lugares.
“Natura arsque”.
Nesses momentos, invoco Atena, a fonte de Hipocrene, leitos de água.
Novelos de prata, vida infinita;
formei a minha alma de intérprete dos pássaros e dos sonhos
(folhas orvalhadas, mistério oculto).
Canto essas paredes incólumes à destruição
e canto a teoria das coisas, a mobilidade apoteótica das raízes.
Canto a pureza, esse canto azul,
sob o sol dinâmico de um grito originário,
num poema que é um verso de água,
múltipla
e
criadora. |
IVO MIGUEL BARROSO
Data de nascimento: 8 de Dezembro de 1978
Licenciado (em 2001) e Mestre em Ciências Jurídico-Políticas (em 2007),
pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Assistente-Estagiário da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
entre 2001 e 2007.
Assistente, desde 2007.
Tem obras e artigos publicados no âmbito do Direito Público, desde 2003;
e poemas publicados em revistas literárias e antologias desde os 15
anos.
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