Na Rua do Touro, ao pé das escadinhas
que antecedem a grande descida da praça do Tribunal
entrei por uns minutos no livreiro-antiquário
Às vezes vejo-me ali como que em séculos passados
Palaciano se calhar aproximo-me com a boca aberta
Restos de sono vontade louca de ler comichão
E diz-me o proprietário nos seus tempos um belo compincha
E ao dizer-me, não vou repeti-lo, mostra-me uma folha de papel
não de árvore verbena teixo das Índias eucalipto
Era um manuscrito de Manzonni
Só deus sabe como lhe teria ido parar às mãos
A letra muito firme as ideias límpidas um ar de quem
lavava as mãos simpaticamente depois de obrar
Tudo se conjuga
Tudo se irmana mesmo em casos particulares
linhas interseccionando-se quebradas abatidas
de rostos de passos que se perderam de motivos
Uma escrita articulada entre si e rigorosa
obedecendo bem a leis exactas e ao eventual aparo
Pouco depois no Café olho algumas folhas onde tracei
afirmações, ou dúvidas, ou restos de música retórica piolhenta
perdão um solfejo de palavras que afinal me dizem muito
letra mal acabada que pena um pouco rasca
emendas riscos agudos e graves e o papel amarfanhado
Por vezes seremos obrigados a escrever dissonâncias
mas faz favor não tenho o jeito dos séculos
o amplexo mesmo a lisura e isso me custa
Neste debate gramatical a que eu mesmo presido. |