O nojo das palavras.
O bom nojo das palavras.
É demais.
Depois de uma tarde no cinema
esta gente por aqui deprime-se
Lembra-me de antigas ambições, deixa-me branco
o nojo das palavras ou então um grande susto.
Meio arruinado tento o destino com uma de Petrarca
mas não vai, não arranca, nada se mexe
Nestas alturas o melhor é esquecer o passado
Esquecer o futuro, fingir que há algures um mapa
de antigos países à nossa espera.
Como eu gostava de saber os ritmos secretos
de velhas civilizações
Não há que hesitar: solenizemos o desgosto
A flor, o arbusto que se incendeia de cor numa esquina
pode talvez servir de alguma ajuda
Descobrir coisas sensíveis e assim
tantas outras maravilhas são pó
Não há diferenças entre justos e injustos
Mas não há diferenças mais que não seja um sinal
dos nossos reinos ocultos de corpos onde a Terra acaba
Essas crianças desfeitas um intervalo entre dois retratos
a vinha virgem que o tempo devorou
O nojo das palavras mesmo poucas que sejam
mesmo que pouco nos digam e nos perguntem.
Não os pensamentos completam o abandono
são presenças vivas no mundo que não existe
Os teus olhos às vezes ensinam-me
embora olhos não haja nesses mundos atónitos
É uma hipótese
a jovem folhagem, o odor
E que estariam eles a fazer na altura
em que algo se quebrou?
A origem do Homem, memória insustentável
O nojo das palavras e tudo termina. |