1. Em Agosto, colocas
num bolso um lenço azul
e sopras entredentes.
2. Os estigmas: rancor
sonolência, harmonia
e a praça já deserta.
3. O rótulo garante
muitos poemas limpos
na Olivetti nova.
4. Sabes e sabes bem
quanto o calor por vezes
faz suar entrepernas.
5. Sabes e sabes bem
quanto o frio normalmente
nos ajuda a pensar.
6. Uma jovem que aguarda
de lábios entreabertos
o troco no guichet.
7. Quando empurras a porta
um deus algo confuso
‘stende-te a mão saúda-te.
8. Nunca gostei de padres
que por sobre a batina
usam camisolão.
9. As bem-aventuranças:
astúcia, persev’rança
o furor a meiguice.
10. Ao lado o empregado
de mesa muda a toalha
e serve-te a cerveja.
11. Resíduos de amargura
dolorosa presença
que estimulas em verso.
12. O ministro, sereno
na TV vai falando.
Eu engraxo os sapatos.
13. Num pátio onde rebrilha
o calor as formigas
lá vão lá vão em fila.
14. Aqui as cançonetas
mais do que as borboletas
fazem a Primavera.
15. Abotoo a breguilha
com discrição e lesto
abandono o cenário. |
Gérard Calandre nasceu em 1952, na Bretanha, França. Viveu na Itália, leccionando na cidade de Messina. De formação científica, tem-se mantido afastado do mundo das Letras. Autor do livro Vestígios, traduzido por Nicolau Saião e de textos esparsos sobre o seu ramo profissional. Visitou Portugal em 1992 e 1997. Após o falecimento de sua mulher foi viver para o Canadá francófono.
Tem colaboração nas revistas “Diversos” – dir. José Carlos Marques, “Bicicleta” – orientada por Manuel Almeida e Sousa, “Agulha”(Brasil) – dir. Cláudio Willer & Floriano Martins, etc..
NS |