Em vida tinhas tudo, menos a morte.
Agora, estás completo. Em figura
em pedaços dispersos nos muitos olhos
que te visitaram já no esquife
ou através dos séculos. Completo
como um risco no céu, ou um canto
que alguém entoa ao amanhecer. Completo
como a tinta o escuro a própria madeira
Toada pouco a pouco desfazendo-se.
O teu quarto, a tua roupa, os gestos
que fizeste durante a pose destinada
vivem no mundo por detrás de ti
no mundo que ora há ora não há por detrás de ti
Desaparecem. E na rua
que o pintor calcorreava todos os dias
existirá ainda a tua memória
uma interrogação, talvez uma dúvida?
A prova é que não falas, ou então tudo dizes
Leve rasto de fumo inscrito nos anos perdidos. |