Vejo teu corpo
e penso num Domingo de Ramos:
um aceno de palmeiras
um halo de estrelas:
frestas de luz em que se somem
um cristal de lembranças,
um jumentinho,
a cruz das tuas ancas.
Penso num Domingo de Ramos
como aquele, sempre festa:
do vinho, da água, da poeira,
do rebrilhar de peixes sobre pedras.
Vejo teu corpo
e soam litanias:
há espadas de folhas e um abrigo
sob o branco marfim do teu vestido.
Penso num Domingo de Ramos,
no teu horto, no vermelho da boca,
na Paixão,
no mistério que desce das colinas,
olivas espalhadas pelo chão.
Cálice despejando em minha língua
um fel de histórias esquecidas:
a hóstia consagrada do perdão.
Vejo teu corpo e penso
num Domingo de Ramos.
Como aquele,
em que me acenas
o sangue de um cordeiro degolado,
brilhando sobre a luz das açucenas.
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