…e vai-se daqui muito a Badajoz,
poiso de Espanha a iludir Madrid
para quem de ser baixinho é incapaz
de se atrever ao largo de horizontes.
Dez léguas distamos de Elvas
para se comprar um vestido,
dez léguas por vezes bastam
da raia de Espanha adentro…
Porque estas terras, senhor,
não sendo de grandes frutas,
muito ao revés dos negócios
das nossas lojas reais
de panos e vitualhas,
sinceridade das falas
dos índios cá pelos Cafés,
são ágeis e perspicazes
no comércio do lazer,
quer de dia quer de noite,
com jogos e mulheres encomendadas
para as tabernas.
E os amuletos exóticos,
as penugens, os berloques
das macumbas aldeadas,
tisanas, fumigações,
os ritos, os sacerdotes,
ouve dizer-se que luzem
por ser pequena a divisa
nas alfaias das precárias
e reduzida a partilha,
– muito cerce!
que os escribas fazem dos dízimos.
É maravilha de ver
os chefes das velhas tribos
alterados, e as matronas,
comparadas minguadas
na pecúnia, a consolar-se
de sociedades e custas,
asinha por Badajoz.
Há muitos rapazes espertos
analfabetos e ricos
que passam de berlinda e de candonga
crivados num alvará
dos que fazem licitude.
Há muitos casos de amantes
contratadas
e proxenetas nos templos
das novas feitiçarias.
São outras as raparigas
legalizadas por sorte
dos mesmos homens diferentes,
os lavradores sem lavoura
que, agora, comerciais,
deixarão de ser noviços:
– previstos os respeitáveis
das colónias.
Nem todos, porém, senhor,
aqui são por mais igual.
De antigos há muito povo
de bem haver entretido
na calma do seu serralho.
Mas no tempo é destemperada
cobiça das vossas terras.
Daqui, como dizia, a Badajoz,
terra de Espanha a iludir Madrid,
ainda por lá vai bastante gente
expedita de boa fé.
Haveis ainda o reduto
(Deus guarde vossa mercê!)
de quantos já se preparam
para resistir e ficar.
Com eles negociai
residência e alvedrio, bons aprestos,
– que as pragmáticas exigem
e os alcaides.
De Portalegre, senhor,
não tenhais esperanças.
E acautelai-vos também,
nestas paragens, de máquinas
e dos Flippers. |