Ecos o dia
todo, palavras sem direção, como os braços de shiva, para atingir todos
ou atingir ninguém. Incômodo, como insetos no copo de leite, revestidos
com a espessa nata do último lugar. Olhos dentro do santuário, cujo
portal é porta de vidro ofuscada pelo branco e lembra sempre que entre
as entradas e saídas existe a palidez da incerteza e o risco tem a ver
com percepção. Dentro, tapetes empoeirados e nos cantos casacos que
derretem todos os dias um pouco do bloco sólido de formol que envolve
deus, que por sua vez não dança ao ritmo da fumaça om namah shivaya / om
namah shivaya a alma inala prostrada diante da parede, formulando
elipses para o alcançe do nirvana meditacional, ainda que a posição lhe
faça recordar castigo ou um cavalo de três patas a espera do sacrifício. |
Ca:mila . Camila Ribeiro nasceu no Rio de
Janeiro, em 1987. Observadora por natureza, escritora por impulsão –
pela necessidade (recorrente) de expressar-se em prosa e poesia. Voyeur
da realidade e de suas representações, encontrou no cinema um meio de
materializar suas idéias no continuum do espaço-tempo, desconstruindo-se
em impressões. |