Havia, naquela manhã, um alvoroço suspeito a sobrevoar o céu.
Eram bandos de pássaros!
Maria levantara o rosto. As cearas de trigo moviam no vento cores
doiradas a sobrevoar o céu com os pássaros- e seus olhos, tão perto de lá,
vidraram girassóis.
Havia também pombas e pombos pousados no chão, ali, perto dela.
Alimentou-os com pão que tirou da sua bolsa de pano colorido. E. depois,
enxotou-os da sua beira.
Eram pássaros, permaneceriam eles iguais se pensássemos neles
sendo flores?
Os pássaros passavam. As pombas passavam. Como ela passava nos
dias!
Há dias que são só manhãs! Antecede-se a noite dormida!, tinha
decidido levantar-se assim que a aurora surgisse no reflexo da sua janela.
Há noites durante o dia!
Aprontou-se.
Beijou o marido e o filho. Saiu a caminho da Igreja.
Já no banco da igreja, a sua serenidade estampada em todo o seu
ser, despertava as estátuas do suspenso sono eterno, algumas choraram. Mas
Maria abstraíra daquele momento qualquer pluralismo, ao considerar a fé
ser um estar individual e de momentos ímpares.
Quando saiu da igreja foi ao café e pediu um chá de camomila, em
casa bebeu a infusão de passiflora. Depois caminhou até à estação do
comboio.
A manhã— húmus formado do corpo da noite— azulava timidamente,
mas a natureza já surgia opaca ao sol.
Havia, naquela manhã, um alvoroço suspeito a sobrevoar o céu. Era
Maria? Eram pássaros! Circulavam em demanda o fio que o céu lhes reservara
para cantos solenes.
Pensou! - No céu, quem o habita?, entende a mudança
da cor nas estrelas e na lua. O interior. O treme sol.
Chamava-se Maria.
Maria!
Seu filho chama!
Seu filho chama—Mãe.
Chamava-se Maria! Tinha um campo de cereais no cérebro que moviam
no vento cores doiradas. Lábios secos. Fé.
Nos olhos, manhãs. Girassóis nos olhos.
Mãe.
A.fe
2015.08.21
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