Poema da invisibilidade das aranhas

 

 MARIA AZENHA


(para o Dia de Reflexão)

 

Sou uma poeta invisível.

Trabalho um alfabeto invisível.

Escrevo livros invisíveis.

Pinto telas invisíveis.

Cruzo ruas invisíveis.

Vejo mendigos invisíveis que

pedem esmolas invisíveis.

Conheço professores invisíveis que

ensinam em escolas invisíveis.

Tenho amigos invisíveis

que vivem em cidades invisíveis

que têm filhos invisíveis.

A minha mãe morreu invisível.

O meu pai tornou-se invisível.

Amo um homem invisível.

Os dias são invisíveis.

Os espelhos dão anos invisíveis.

As luzes nascem de noites invisíveis.

As pessoas pensam coisas invisíveis

em jaulas de tempo invisível.

Os loucos bebem remédios invisíveis

 

Os místicos contemplam aranhas invisíveis.

A minha alma é um cavalo invisível.

As redes sociais são barcos invisíveis.

Todo o meu tempo é gasto com um país invisível.

 

maria azenha

— inédito —