Plantar rosas na Barbárie

LUÍS SERGUILHA
Lútria 
(Do mais recente livro do Autor, Plantar rosas na Barbárie, a primeira parte, incluída a advertência de Ana Haddad)


Advertência!

Carta ao poeta dos devires furiosamente imprevisíveis

São Paulo [ finais de um verão chuvoso-nebuloso]  2017.

Meu poeta de todos os tempos,

Plantar Rosas na Barbárie  soa-sussurra aos meus ouvidos que pouco, ao longo de minha vida, conseguiu ouvir as prolongadoras da Memória.  Filhas de Mnemósine. Delas consigo apenas ecos esparsos. Uma música lacunar ao longe… E, dessa maneira, arrisco-me tremendamente diante de você e dos leitores de sua obra.

Ao ler este livro, em primeiro lugar, me veio à alma pensar no tamanho de sua solidão em seus infinitos movimentos circulares, como diria Sartre.  Num primeiro momento… a partir da imagem do título: Plantar Rosas na Barbárie equivale, (em minhas associações subjetivas), a lembrar as rosas do deserto. Solitárias…eternamente solitárias…têm ao seu redor apenas as imagens de um deserto que se prolonga indefinidamente. Algum deus compassivo concede às rosas do deserto, muito de vez em quando,  flores. No entanto, tais flores são tão transitórias como aqueles momentos de felicidade- instantaneidade que povoam nossas próprias solidões. Que escorregam mesmo na eternidade do meio-dia.

Meu poeta de todos os tempos…qual seria a cor de sua solidão? Quais são os misteriosos movimentos que regem sua alma? Consigo desvelar, ao que se poderia chamar de primeira parte deste livro, ou seja, quando você coloca, a nós leitores, a fúria oceânica que rege sua interioridade, movimentos de um quase afogamento que atravessamos neste momento histórico de pura barbárie. Vejo, desta maneira, Poseidon no ápice de sua ira! Uma ira incontida! Mas que ao mesmo tempo causa verdadeiros rasgos em nossa interioridade e nos leva, juntamente com você, poeta maior, a deslumbrarmos o mesmo encanto que paralisou Victor Hugo, em uma ilha solitária, (por quase vinte anos), quando escreveu Os Miseráveis tendo como paisagem as iras oceânicas as quais tão bem você nos faz enxergar!

As imagens-movimento que você sugere me faz lembrar também movimentos cilíndricos. (Sempre lembrando a você que as Musas que preterem). Uma espécie de sobe-desde-ondular mas, eternamente, marcado pela melancolia que expressa sua infinita capacidade de nos tornar um pouco mais humanizados. Entende o que estou a lhe dizer? Embora a sua poeticidade seja como  jorros de fúria… possui a incrível e rara provocação de nos fazer refletir a extensão de nossa incapacidade de amar! O que, sinceramente, sobra em você meu querido poeta. Sejamos francos: todos os poetas das primeiras águas amam em demasia…Por favor…corrija-me se eu estiver enganada! Amam a tal ponto a humanidade…que sempre estão a  desvelar o que há de mais oculto nas enganosas aparências do que nos parece legítimo.

No que se pode denominar em uma outra parte de seu livro, ou seja, Herbolárias,  há uma inquietude quase intransponível que se revela em imagens nada confortáveis para nós, enquanto, leitores. A luta com as palavras. A luta com a solidão única do poeta que se vê diante da linguagem e precisa, a qualquer custo, materializar suas imagens. Você tem a consciência dos lúcidos de que não há determinismo histórico e, sobretudo, a palavra realmente poética está a serviço do homem. A história, (para grande desgosto dos apocalípticos), é um processo imprevisível, visto que o seu agente é o homem. E como tal quem pode prever o homem meu poeta? Você, mais do que ninguém, sabe que somos pura indeterminação! Vejo em Herbolárias  a incrível velocidade de seus pensamentos. De seus movimentos angustiantes interiores  e que o poeta, a qualquer custo, necessita exteriorizar. Que angústias tão profundas são essas? Por um acaso os pré-devires dos quais nos fala Deleuze? Aqueles que rasgam o quase-determinado e que você os expulsa da história para, enfim, tentar nos devolver a liberdade? Seria isso? A liberdade maior que a maioria recusa, diria Sartre, porque  é um desafio doloroso para poucos? A liberdade é um desafio para seres que não se submetem. E você, constantemente, a desafia. Vejo isso claramente em Plantar rosas na barbárie.

Mas enfim…meu grande poeta…Plantar rosas na barbárie embora  desarticulada da lógica ordinária, linearidade e outros elementos que caracterizam as obras banais e desnecessárias para a humanidade, possui ressoares muito nítidos de uma fúria sem contenções-concessões.  Ora apelam para a grandiosidade de seu diálogo com as ciências, ora com o infinito, ora com a solidão.

A reflexão- pensamento dos leitores  é posto à prova do ilimitado da linguagem verdadeiramente poética, como é o seu caso. A sua poética, acima de qualquer coisa, é um desafio que instiga e faz pensar nos limites de nossa liberdade. Em outras palavras: o que pode a linguagem? O que pode um homem?

Bauman, (sempre nos lembrava), que há um mundo residual povoado de remanescentes. Sombrio e doente. Mas tal mundo é frequentemente ignorado por nossa incapacidade de ver. A invisibilidade provocada é uma grande arma de poderes estabelecidos. Ciente, mais do que nunca de tudo isso, você nos transporta para um mundo caótico e nos lembra, a todo momento, que a humanidade ainda pode ser resgatada…No entanto, somente a palavra poética poderá nos devolver elos e ecos perdidos nas curvas dos rios, nos azuis estelares e na travessia infinita (longa e cansativa) a que a vida insiste em nos submeter.

Você nos diz que “o mar liberta o tempo do movimento”! A sua escrita liberta o homem e o coloca  frente a uma temporalidade desconhecida. Lembra-nos que a sonhada atemporalidade ainda é possível. Lembra, sobretudo, uma bela afirmação de Deleuze quando diz que somos seres pobres em temporalidades. Um cavalo cavalgando ou mesmo algumas aves são mais ricas que nós.

Nossa temporalidade tão esvaziada…a partir da leitura de Plantar rosas na barbárie é uma alternativa feroz, provocante e vigorosa de que a palavra poética jamais se deixará vencer. Sua poesia supõe a continuidade daqueles cuja invisibilidade aparente sempre atravessará e habitará desertos e solidões.

Aceite minha admiração. O meu carinho. A minha eterna ternura por você.

Ana Maria Haddad

Ana Maria Haddad Baptista é mestra e doutora em Comunicação e Semiótica/PUC/SP. Pós-doutoramento em História da Ciência pela Universidade de Lisboa e pela PUC/SP. Pesquisadora e professora dos programas stricto sensu em Educação da Universidade Nove de Julho (SP). Ensaísta e autora de diversos livros e artigos.

 

LÚTRIA

           conceitos em fractalização poética(  plagiotropia algorítmica)

A poesia é a potência da desumanização, é uma força a-consciente arrasadora das prácticas da significância, é o espírito da matéria em renascença contínua, o grito despelado, agadanhado do corpo histérico-expressionista que acelera as variantes ritmáveis da vida da morte nos seus transpiradeiros experimentais, pululantes, anónimos dentro de um universo sem história: não espera nada, não forma leitores, nem mediadores, se faz tempo de contaminações imanentes, se faz traço das traçaduras desenhadas pelo corpo eslazeirado, empeçonhado, corpo-rascunho intensificador dos limites ilimitados dos afectos( composição irrefreável de sentidos nas cosmicidades do silêncio e do indizível): dizer sim ao processo acontecimental do fulgor sangrento, nodoado, ao acaso das resistências das forjas sígnicas, produzindo o ABERTO excrementício de uma arena co-participada sem organização, um exercício múltiplo de vizinhanças escarificadoras de línguas nervinas, uma sombra esfíngica expandida, um atractor estranho espasmódico que impulsiona as afectologias animalizantes das palavras em desaparição entre relações do corpo-de fragmentações-de-um-todo-sem-interpretoses e as aprendizagens algebraicas dentro de balanceamentos electromagnéticos com geometrias arquimedianas germinativas (um repovoamento extemporâneo com espessuras indeterminadas acontece no espaço vectorial esboçado por imagens-móbiles em transmutação anamórfica):

 

as infecções bacterianas do poema geram-se a si próprias por meio de errâncias, exílios revezados intensamente, andaços cruzadores de signos que estorcegam os poros da transposição de fronteiras, revigorando o trágico da existência, desvendam direcções noológicas, ecoam-se em todas as torceduras das raias, aglomeram-se ao abrirem as colagens do futuro, transmutam-se na imprevisibilidade, vasculham-se no imperceptível, destroem sistemas percepcionados (dançar nas ressonâncias dos simulacros demoníacos das superfícies): são cinemas-in-corporais, verbos intransitivos, rebentações-do-revir a recolherem o excesso da vida, contínuos intervalares de inesgotáveis relações, dobras desejantes sem objectos, forças ópticas, sonoras, tácteis e até ilegíveis que nunca se actualizam, intensificando a ignomínia, a anormalidade nas visões sanguissedentas como cruzamentos de mapas semióticos, de luzes-matéricas a absorverem os micromovimentos que contaminam a existência entre alterações vertiginosas, inomináveis (afirmar as diferenças que cravam o tempo no pensamento com intercessores de planos pluralizantes onde o silêncio é um espongiário-sígnico de uma miríade de apeirons acústicos, o poema abre as forças do corpo às conexões de todas as espécies, irradiando improvisações do tempo acontecimental, breviários disjuntivos da memória absoluta do esquecimento onde as atracções contaminadoras do sensível intensivo, violenta os pensamentos órficos numa só golpeadura de multiplicidades emergentes entre blocos heterogéneos não mensuráveis)!

 

Os palíndromos do poema não são virtudes psicológicas, são reminiscências-mundo-copuladoras de fractais enérgicos, plasticidades rigorosas dos arquivistas virtuais integrados nas grandes angulares do corpo, bosquejos ontológicos-das-multiespécies, são coexistências do ELAN VITAL das alavancas-cruéis-dos-pontos-de-vista, das forças-dos-actos-topologistas que estão simultaneamente em todas as possibilidades relacionais, variam sem cessar, dilacerando transversalmente as velocidades lentas do corpo para explorarem os silêncios musicais embaralhadores de cânticos, de golelhas, de laringes, de ejaculações( agramaticalidade do movimento da matéria com ininterruptas repercussões de acasos extremos que efectuam a potência cartográfica do tempo), sim, fazem vir a natureza com todas as expressões cósmicas porque a vida é um jogo lúdico-flutuante, um intensificador de forças das estéticas paradoxais, um ritmo de intensões no meio do caos-grito, do caos-ulceração, do caos reinventor das in-visibilidades, das anisomorfias desviantes e vibracionais, são sensações onomatopaicas exaltadas que varam despenhadeiros com sudações das ruínas erógenas porque mergulharam nas catástrofes inventivas da intersecção cérebro-mundo: haja MAGOS, XAMÃS, haja RAIAS de instantes dos destinos inconscientes, dos trilhos das inexistências sem decifrações porque o eterno retorno da violência da excripta-poética é a querença da anatomia transbordante da mãe que experimenta e revigora a cabeça veloz do mundo e perante o filho liberta a loucura dionisíaca do animal, a dança mutável do espírito, livra as ossaturas sintácticas de resoluções de agruras, há um passado expandido a entranhar-se na matéria-espiritual com uma miríade de probabilidades de futuração, há um embate crítico das linhas tetânicas, dos restos artesanais com os movimentos sígnicos fora das gramáticas, uma epiderme andarilha que não circunscreve a palavra, uma batida vazia do tempo simultaneamente instantânea e ilimitada a engendar a adivinhação-olhante perfurada por multidões re-existentes, encontros vitalistas, experimentações desbastadoras de compêndios sensório-motores, sim, há uma captura da infinitude no último TIGRE de William Blake que sempre debuxou as escaldaduras da língua sem designar realces, evidências, há uma anti-memória nas caligrafias inventadas por ritmos sígnicos-sensíveis (um artesão das emboscadas do tempo, uma miríade de capturas de microzonas vibráteis do pensamento-sem-pensamento dentro do cérebro-herbário que evita morrermos dentro da verdade: o poema regamboleia o espaço sem veredictos)!

 

Proustianamente não nos salvarão pela confidência do parasita divino mas pelas forças anabólicas, catatónicas, dislógicas e catabólicas da arte: aqui-agora: sentimos a imortalidade das vísceras da alma, a anquilose da consciência, as encruzilhadas das línguas vadias, as línguas anómalas que combatem o poder matricial, sim, o acontecimento do poema não faz regiões, cria ritmos geodésicos-multilíngues e conecta o corpo do esquecimento ao brinca-brinca do afecto extremo sem medo de enlouquecer (sentir o animal das geografias demenciais no inconsciente espartejado pelas superfícies voltaicas do anapéstico, dos exilados polissémicos onde o acto de pensar é forçado pelo devaneio do hermafroditismo): cartografar as tatuagens parturientes do sangue musical e viver diferentemente as chagueiras da palavra porque o poema delira no fundo dos fórceps do tempo, reencontra o tempo e recupera HUME no bordel do acaso do alto-mar, faz do seu corpo um mónada de bifurcações contemplativas, de polifonias placentárias inesperadas que o infinitiza com toda a ventilação espiritual (regerminar o tempo miasmático, contrair a matéria mutante dentro das linhas abstractas, sim, o poema é constituído por milhares de estilos inestancáveis, de extremos rigores dos olhares ampliados, foge da fixação dos géneros, transgeografa-se, efractura a percepção com a prenhez do incriado intensivo, sim, o poema não é humano, nem divino, é um gérmen cósmico, é um bacilo alpinista, um arrancador, extractor de entranhas, um escalador de si-próprio-sem-origens porque é atleta-animal a enfrentar a morte dentro do imprevisível, resiste à serventia (força afectiva da natureza onde o sublime é uma saída monádica, uma tendência estilizadora sem aversão ao tempo, ao caos, ao acentrado, ao veemente)! Estamos mergulhados no vitral-háptico que transborda os confins do corpo com a inesgotabilidade fluídica do real (acção do poema é produzir o inominável, é manutenir o mundo no estilhaçamento infinito da distância, é inventar a membrana do impossível, é ruminar os extremos histéricos, é suplantar rémoras por meio de voragens)!

 

O poema intensifica-se ao despedaçar as morateiras do sensório-cronológico, ao reinventar o animal-corpo-oblívio, ao pensar a eternidade, a natureza e o tempo que jamais educará, manipulará o leitor, porque suas forças desumanizantes o atravessam, perturbando-o, incomodando-o sem mensagens significativas (as fendas pulsionais do leitor regerminam nas superfícies esboroadas, obsidentes, estranhas: aqui-agora, o leitor elimina a norma patológica e entrega-se à longevidade do instante de si mesmo, recebendo a crueldade dos simulacros, as arrebatadas liquefacções, o fora caótico dos sentidos e os acasos convulsivos do impensado, sim, evita ser encarcerado pelos sistemas de poder sentimental e pelos comportamentos emocionais): o poema não encontra nada porque arruína denominações, devasta o próprio poeta, desarma traduções, é um traço elevado da vida, é uma epiderme ininterruptamente lisa curvada, estrangeira, anorgânica, ensarilhada, inflexa, dilatada onde o dentro e o fora se entrecruzam por meio do tempo abstracto impulsionador da diferença etológica, tempo transemiótico, exsolvendo superfícies com outras superfícies excessivas, ladras, afirmando a violência sígnica da memória-de-olhos-que-não-morrem, memória grávida de raias encriptadas: vazar, misturar, fundir instantes inventivos com as duplas capturas do ritmo enlouquecido, uma força afectiva da sintaxe desequilibrada estimula outra força de outras sintaxes indizíveis que vivem numa aparição-quase-desaparecida, provocando fugas, devaneios, auscultações não-linguísticas, entre signos indiscerníveis, imprevisíveis,assignificantes (evitar qualquer história pessoal, ou familarismos)!

 

Quando o poema se afirma a si-próprio e mergulha na potência falseadora da natureza, na vida cristalina, imerge no tempo do corpo em conexão com composições afectivas, constitui-se na ritmicidade dos recomeços rés aos exórdios da diferença com dobles-bordas das heteronomias porque quem compõe o caos da linguagem não vive de destinações, de desígnios nem de recompensas, mas da fabulações cartográficas da existência entre relações de forças do imprevisível e a eternidade crivada por processos criativos onde o grito de Edvard Munch, o grito de Woyzeck, o grito de Celan, o grito de Lorca, o grito de María Panero, o Grito de Villon, o Grito de Ângelo de Lima, o grito de Artaud ressurgem singularmente com o vazio que esporeia a invenção, o não figurado, o não alinhado entre a infinitude do acontecimento e o imperceptível (levar o corpo-palavra ao limite do novelo de duração, à transbordância larvária, ao descentramento da realidade para produzir consistências conquistadoras do virtual do tempo: intraduzível brecha retraça o indizível das sensações enxameadas onde a força dançante do corpo é em si a paradoxalidade do pensamento, a matéria contínua das co-existências, explorar mapas ignorados, destruir prossecuções sacralizadas do fazer-poético por meio de conceitos moventes, de transposições do polilinguismo, decifrações sígnicas molecularizadas entre atractores estranhos e mistagogos-insanos): fazer de cada poro do corpo uma angulação ritmável, um rabisco-germe do inacessível, uma palavra excisada, uma ameaça de relações de forças a entranhar no sentido analfabeto porque a linguagem proléptica não se desarticula da vida, é uma presença exílica-vibrátil que se remove na desaparição por meio de signos gesticulantes, de pluralidades plásticas, onde o olhar rasurado ressurge intensamente entre corpos secretores de tempo que potencializam a vida na sua própria inexistência, sim, o leitor mergulha a visão do texto no aparecimento da cegueira (uma orla translativa sem fronteiras e desmedidamente abíssica esponja os restos das supressões, os quase-conceitos, as ressonâncias por vir, sim, o texto movimenta-se no infinito da pulsação germinal, nas derrocadas evasivas, porque é atravessado por afectologias-do-passar-se onde em cada instante o inesperado recomeça, destruindo os sintomas da morte).

 

O poema em tecelagem revoltada é o pensamento veemente sem casa, é a intersecção do movimento infinito das medusas com as fendas involuntárias do real a evitarem as leis da irreversibilidade, é um vórtice de agoridades à deriva, é a tragicidade traduzida da exultação polinizadora, é o devir animalizante transfixado por interrogações imanentes, é uma parresia movente sem hereditariedades, sem profecias, uma monadologia vampira onde os lançamentos movediços dos ardis ex-crevem na palavra voluteada pelos delírios( ritmos i-matéricos da vida: pensamento, sintomatologia, descodificação, afecção, fissura: o corpo se expressa com linhas de mandinga): no poema não existem mediadores de palavras, nem significantes déspostas, existem intercessores da vida, trabuzanas viróticas-verbais que combatem os tempos da entropia, pervagam na sua própria desaparição para vibrarem, transverterem, actuarem e arruinarem os trilhos por onde ziguezaguearam!

 

O poema não produz poema, nem está assujeitado ao amestramento localizável, à temporalização do préstimo, escapa aos códigos, ele regermina na abstracção do caos, regurgita-se, engrena-se, vomita-se entre os processos inventivos acentrados, o indecidível turbulento da linguagem, o descodificável, o indiscernível, fazendo do corpo um ritmo crítico de si mesmo, redobrando os rasgos sinápticos ao incomensurável (povoar o intensivo com as afecções-bacantes em acto-phanéron-libertador-da-vida porque o agramatical-em-si no sensível é o inestancável, o inobjectivável que experimenta a sensação, torna pensável o impensável, visível o imperceptível, dizível o inexplicável, traduzível o indefinível, audível o ininteligível)!

O poema é extemporâneo, é uma miríade de sentidos virados do avesso, é uma natureza que dá conta de si-própria, um trajector de alomorfias que busca futuros e rastros estéticos imperceptíveis ao conectar-se com os heterogéneos, transverte perspectivas sem hierarquias, exalta a revivescência das línguas, das matérias inacabadas, coloca a palavra e a hipofaringe em risco, criando topologias intermitentes no intervalo surfista dos tempos que constroem passagens para múltiplas geografias com vigores imperceptíveis: tresvariar sobre os desertos do poema (o poema foge de quem o provocou, o poema é obsessivo e não existe, não tem profundidade, porque o entrelaçamento do sentido é sempre a hesitação sem assinatura, é o impossível, não tem mapas, não tem centros, não tem rumos, é o germe das forças invisíveis desestabilizadoras, o vórtice do intervalo das qualidades não actualizadas que roçam e transbordam o intangível, é o NONADA de Rosa e Aquilino entre vozes rés às enxurradas da citação cósmica):

 

o poema e o animal adivinham os canais da defunção, experimentam o transe noutros experimentações sígnicas, pressentem o des-viver, afirmando a vida na eternidade ao repetirem diferentemente o caos (fendas delirantes de duplos movimentos) na máxima transformação, porque não necessitam de agnição, nem estão reféns do cógnito, eles constroem novas levadas de existência, de heteronomias, alicerçam os acasos do provérbio tracejável( dobra infinita em tensão) e combatem os hospedeiros dos microfascismos porque  resistem sempre, RE-existem por meio de forças matéricas pensadas próximas da catástrofe-regerminadora onde o ritmo inaudito é variado por sensações criativas( religar linhas em transdução, fazer do acidente uma reinscrição que escapa ao repositório, não tem começo, nem origem, nem olheiros, não tem aversão ao enérgico porque explora os deslocamentos dos eixos da terra, uma voz antes das palavras, as linhas tensionadas da errância, as áreas de indiscernibilidade com os cortes enérgicos do real, sim, fazer escolhas por meio de um corpo em amorfismo, uma expressão estranha que chama o nada povoado para estremecer as superfícies sensíveis e acatar o ruflo dos arquivos esquecidos do mundo: o sentido é arrancado ao falso movimento de uma pré-visão( sobrevir como pensamento da própria existência em desassossego, a rompedura esboçal recupera a sua respiração entre coalescências cristalinas)

 

A poesia é uma renovação eternal dos entretempos que exprimem intensidades, escapam da fisionomia em direcção às medusas labirínticas, às dores das sombras que não se anunciam: fissurar as verdades com uma só cortadura da insânia que nada profere, mas faz da fala uma visão: singularizar a palavra noctâmbula com o lapso inacessível feito de sentidos da gravidade entre enervamentos de hipérboles porque a carcaça arquitectónica da-na textura emancipa e expulsa simultaneamente a existência da ruína já-fora da cronologia, capturando a imagem inventiva no horizonte impessoal que extraverte o movimento expressivo até à modorra do devaneio, sim, faz passar o presente do invisível que nos faz ver as energias sígnicas do equívoco corpóreo num cristal flutuante onde a língua infinitamente desgarrada se torna um processo veemente, um animal em evasão que está em permanente liça com as palavras fora da obra, decompondo a linguagem maternal, reconstruindo-se demoniacamente entre diafaneidades, tentando enunciar sem sinalizar (enfrentar os limites sintácticos para extrair a estagnação, a vigília asiladora à palavra ou será o esquecimento expressivo?): a poesia é uma FORÇA de arcos interceptados, uma afectação monstruosa dentro de forjas dos acasos que exigem ritmos paradoxais e catástrofes pictóricas, sim, o que está na precedência foi esculpido seguidamente por perguntas convexas, perguntas fragmentadas pela equivocidade: a palavra sonda a palavra sem recompensações, sem intencionalidades (crivar o caos do desvendamento com o encontro da cisão das euritmias, gerar substância falante com a visão exasperada, quebrada por desertos adentrados na duração de si-mesmos, tentando despedaçar distâncias onde o incomensurável se obdura por meio do grito da excriptura que é incapaz de consumar: uma geologia-cerebral enervada, escava a súbita hesitação em curvatura tensionável que nos atravessa sem rostos, vivificando o hodierno futurível quase separado da insânia aforística que se eterniza no animal ilegível: não há natureza natural no animal-leitor, ele se reproduz a si mesmo, não pertence ao poema, não busca o poema e quando pronuncia poema desfaz-se para gerar potência na vida doutro poema como uma visão-espiritual ressoante na mudez dos lugares de passagem (confirmar e conter o desastre):

 

a cabeça a movimentar-se por trás do signo: o poema torna-se poema quando o animal ao sincopar-se diz: poema, o animal estraçalha o sensível com tempos e actos, é o dentro do rastro da voz e da escrita, está invisível e infinitamente finito ao anteceder o poema com o retorno da natureza sobre seu recolhimento-expansivo, sim, ele faz-nos contemplar larvarmente o infinito, ocultando-se no ciclo cósmico, despedaça bolhas, sonambuliza a vida na interrogação sem essencialismos, estiliza o mundo com o invizível, o intangível, a metamorfose em profligação onde o estrangeiro não é o outro que não fala, é a luz que discrímen a luz, claridade contraluz, é o sentido fractal do retorno repercutido que reinaugura o corpo-geometral dentro do porvir, fazendo das vivacidades autopoiéticas, rastros aberrantes, falhas escultoras do caos, dobras sem epistemologias, cruzamentos de sensações porque o provérbio-poema é um misturador de permutas ontológicas, é o ritmo da luzência do zoonte, o impensável do presente-vivo, a crueldade sem mártir em permanente decifração, impossível enfrentar a luminosidade epifânica do animal que abandona a cabeça no espelho fracturado para trabalhar a morte com a frayage da infinitude eliminadora de gestos sepulcrais( cada palavra vive a sua ulceração ao transpor as raias da insânia ): fazer resistir o instante da força háptica da palavra, o diferenciador da palavra que nos arrasta para uma caterva de signos da diferença onde o fora-adentrado enlouquece a fala-do-eterno-retorno que tenta movimentar o esquartejamento do espaço por meio da resignação ao desejado, desejando! O poema repete-se diferentemente na duração mutante ao golpear-se por esfinges verbais e não verbais mergulhadas nos lançadores de dados corporais!

 

O provérbio-poema é um cristal em translação indeterminada, um movimento dentro das imagens-vivas em ininterrupta variação, um ritornelo em transmutação incessante, uma alavanca do mundo em irrupção, uma invenção de si que agita mónadas por meio de topologias moventes onde o sabor da invenção é um reencadeamento de forças acósmicas corporalizadoras do mundo das afecções que quebram o arcabouço das circularidades, para buscar as perspectivas chegantes sem origem, nem finalismos: são bosquejos, desenhos, diagramas, centelhas, cartografias de evasões que se infiltram nas sinapses do impossível, na encurvadura intervalada do mundo porque não existe livro-pronto, mas sismógrafos processuais-criativos, oscilações matérias misturadas que interceptam mapas, laceram mapas compondo o caos com a vida na expectação de uma expectativa em recomeço ininterrupto (as imagens resvalam umas sobre as outras, escapam aos contornos, refractando a luzência numa pluralidade de planos até ao intensivo das expressões): aqui-agora:

 

o leitor sem nome coexiste na virga-férrea fractal dos conceitos, desvia-se, contrai-se no recomeço da errância do poema, desliza na adjacência estranha da lavra-vidente com as abaladuras paradoxais do presente, concentrando a eternidade no cérebro caleidoscópico, na violência de um turbilhão de rupturas-olhantes para rupturar enunciações pré-estabelecidas, ensanchar as superfícies das sensações, desarmar a narcose dos sentidos, recusar a serventia, arremessar ritmo no caos, produzir tempo, encéfalo e corpo, sim, pontos de vista em arcos veementes ziguezagueiam pela linha do tempo, conectando-se a mundos possíveis entre atractores estranhos e as afecções sígnicas, carregadas de multiplicidades fabulatórias, dúvidas irresolvidas, verbos rapinados, topologias larvares, imagens ópticas-sonoras-intensivas (sentir o cristal acósmico no sentido da arena-textual que se confronta com o silêncio coalescente da virtualidade actualizada, esboça a sua fuga no real das coexistências temporais e destrói qualquer mediação entre poema e mundo porque as oscilações, os estilhaçamentos, as forças intrusas-mutáveis são descomunais, derrubam espelhações, sim, a palavra é arquejada, aflada, chicoteada dentro das vísceras do corpo estrangeiro, um corpo roubado ao corpo em conflagração, um corpo ateado pela palavra irruptiva e tremendamente espermatizada pelo impoder: no desmoronamento nada se diz, apenas se esbulha o invisível, o imperceptível e foge-se na própria desaparição, sim, o sentido se diz juntamente com a carne rasgada, com o gesto-grito-da-agramaticalidade, das medulas silabárias em efracção de um suicídio colectivo, a palavra do outro anarquiza a vassalagem do tempo ao movimento, fortalece-se no presente que pervaga e no passado que se preserva e no ritmo diagonal tenta chegar antes do corpo que persegue o corpo para o eviscerar, mascarrar, enodoar, visionar): são interpretações incomensuráveis, decifrações infinitas, danças inexistentes, hesitações expressionistas onde o tempo da plasticidade não pára de se dividir, impulsionando o imponderável da existência, eis, o THAUMAZEIN e o APEIRON da aprendizagem inventiva, vitalizando o ponto resplandecente da SAÍDA que desenvencilha a vida inconsciente da carnadura( confrontação crítica): estimular, intensificar, problematizar o corpo, expandir o corpo vibrátil no poema sem construção, sem efeito que o perfurará acosmicamente em todas as direcções e assim, produzirá violência-vida com o vicejo do imprevisto da agoridade e do falso: abala tudo que se desloca com seus ecos de existência imortal e com suas micropercepções espontâneas em velocidade ilimitada, sentimos o tempo simultaneamente ininterrupto e imóvel, absorvemos a experimentação molecular da morosidade intensiva da palavra abstracta que tenta implodir por meio de nós!

 

A poesia é uma desaparição inesgotável, uma errância-mundo, é uma diferença de si-mesma, o meio extremo que se reproduz fora das faculdades psicológicas, escapa das configurações literárias, inventa a sua própria voz-crítica-estética-ética sem tatuagens-identitárias, mergulha naquilo que ainda não existe, nas falhas invasoras, nos gestos onomatopaicos, desarticula-se ininterruptamente, constrói re-existências por meio de automovimento analfabético, colocando o pensamento em relação adjacente, fazendo-nos experimentar novas estranhezas, novas sensações, novas incisões ilegíveis, novos tensores na língua (o apeiron e a vidência esponjam o risco indecifrável da estilização existencial com as forças falsárias do criativo): fluxos dobrados, invertidos e desdobrados do abecedário agramatical, absorvem em variância, misosofias, molecularizações, potências indecidíveis, sim, febres catalisadoras, híbridas, contagiantes, aberrantes que se confundem com as cirandas do transe da vida porque arrasam qualquer origem da memória para construírem a própria gramática fabular longe dos equilíbrios (colidir silêncios com os gritos sígnicos dos devaneios intraduzíveis): é um animal em fuga atópica, em ritornelização com vitrais góticos vibradores de forças foronômicas, um animal ritmável-contemplativo com tremendas espessuras entretemporais que vem-vive do excesso do mundo, do improvisado, do inesperado, expandindo-se, existindo-se, incorporando-se entre acoplagens sintomatologistas e espaçamentos silenciosos ao anexar-se à multidão solitária e transdutora, à incomensurabilidade do estar dentro-e-fora de si-mesmo com as forças do esquecimento e das superfícies mnémicas-ontológicas em apagamento cruel, sim, uma rota que se oculta ao reeencadear-se nos limites invisíveis( o poema desaparece não desvivendo porque é uma fuga irrepresentável, é o corpo desidentificado com desdobramentos, diferenciações, expulsando a teologia-vigilante, a figuração humana com os poros do fora barroco que captam o gótico-mónada do dentro, sim, destruir a interioridade do ser porque sua duração heterogénea é um impulso disjuntivo eliminador de adestramentos, de freios): sair dos eixos, traçar linhas divergentes na natureza, captar, fender, inventar até à saturação e mesclar o mundo por meio de fissuras ilimitáveis abertas à produção de espaços sem fundo (bestialidade-animalidade-politonalidade num processamento acontecimental, fortalecido pela ininterrupta insurreição das assintaxias e pelas epifanias de correntezas de vida onde a vastidão do indiscernível se dissolve com as multiplicidades caóticas, recomeçando o real indizível onde nada se distingue___dançar o espaço caótico com as forças sensíveis da diferença (sonoridade translúcida de uma língua não nascida, uma língua em vizindade enfeitiçadora):

 

os ecos perfuradores de fendas-da-matéria-luz-em-movimento, as tecelagens sígnicas do devaneio, as tessituras semantúrgicas escarificam o magnetismo do impensado porque carregam a potência da vida, a lucidez activa e quebram a proponderância do orgânico com imensas laçadas mutantes-hieráticas-diagramáticas que não páram de revolutear, envolver e baralhar (alvéolos das forças sígnicas jogam dados contra as energias do mundo, metamorseando tudo em múltiplos intervalos da palavra que se escava a si-própria, são rasgamentos das distâncias em quase-recomeço porque as sensações fractalizadoras vivem em tensão impessoal, acósmica e entremeada de ritmos incontroláveis, de vozes arrastadoras de outros-de-nós-mesmos, sim, tudo é inventado no movimento infinito, sem datações, sem carbonos 14: prismas incomensuráveis de choques sígnicos nos transpõem inesperadamente entre actos esquecidos e os palcos repercutidos do tempo paradoxal): transformar o corpo numa incógnita, na acracia de um deserto sem entrada nem saída, deserto carregado de intensidades tenta criar trilhos com esboços que repetem o irrepetível dentro da porventura artista onde o retorno se infinitiza para transverter o animal numa potência de reinventar o jogo trágico com o riso que extrapola a morte, sim, no poema há vidas absolutamente em risco, há choques erráticos, sentidos cegos, visões eclipsadas, traduções precárias porque em cada prisma-devir a interpretação é uma contaminação de acasos, é um ardil de silêncios de adivinhações e de coexistências informes que se reinventam numa fala falsa, no movimento que se apaga a si mesmo para experimentar o instante do rastro do pânico de tresloucar (a distância é sempre uma proximidade inconfessável, um sulco liso onde os limites se intersectam por meio de zonas múltiplas com expressões intensivas, sim, o poema sem ideias, sem transcendências se abre como um cardume de forças intercessoras, heteronômicas): macaréus desejantes no presente eternamente recomeçável, se metamorfoseiam, se afirmam na renovação vibrante-espiritual da matéria, impulsionando voltagens inclassificáveis na ritmicidade ininterrupta do animal que trespassa os limites das palavras em queda arrebatada, a palavra se opõe à palavra para ter acesso à violência do sublime erótico sem o saber absoluto, o poema golpeia o seu entrelaçado na vista descentrada pelas fracturas das radiações do bricoleur)!

 

A poesia força-nos a pensar no resvaladio, a desviar, transplantar a pergunta labiríntica que experimenta, a escavação do vazio, a luz excessiva com a lucidez tremendamente desmesurada que tangencia a cumplicidade vibratória do caos, se refaz no caos, multiplica e criva o caos por meio de molecularidades imanentes e de golpes móbiles do tempo que nos mostram as aberrações da anterioridade da duração afónica, os signos imateriais, sim, o embaralhamento intensivo das imprevisibilidades, produzem diferenças virulentas entre cinemas-corpos autopoiéticos e os risos dramáticos onde a impermanência do singular mistura as forças do virtual com o real-presente que nos gesticula entre metamorfoses multidirecionais, falsificantes, destruindo o mundo das formas e as normoses empíricas por meio de eternais recomeços das disjunções inclusivas! A poesia nos conduz pelo vazio criativo da positividade das divergências múltiplas dentro do movimento ilimitado dos insterstícios da linguagem: as sínteses dissemelhantes da morte compõem a vida, reactualizando o passado futurível com arquivos sísmicos: a afocalidade que transporta o pensamento às volteaduras de um vinco desfigurado de si-mesmo, a greta em desdobramento da imagem-matéria faz-nos entrar numa corrida de obstáculos entre sombras de imensuráveis possibilidades, de forqueaduras indiscerníveis que se condensam no instável-flutuante, recompondo feixes histéricos com partículas-assignificantes, perfuradoras da visão em deslizamento interrogativo, problemático, sim, o poema constrói mundo nas fabulações sonoras das línguas sem fundos (no presente incomensurável das expressões do tempo sensível, o inconsciente produz-se tremendamente fora de controlos humanos)!

 

A poesia provoca a revivescência da cosmicidade feiticeira, a experimentação ética, a linguagem-luz disjuntiva, a reaparição dos dicionários vivos-indecifráveis, subverte silenciosamente os códigos das predominâncias instauradas ao capturar as cartografias intensivas dos personagens rítmicos do mundo, as vidências voltaicas-cibridas, as línguas insanas, dementes, desertoras, delirantes, insituáveis por meio de intermezzos lúbricos, de ritornelos movediços, de processos inacabados para apreender durações sensíveis, traduções indecifráveis, lances de dados das hemorragias acontecimentais com o phanerón-balbuciante das raias de todas as artes, de todas as ciências, de todas as forças rupturantes da natureza, fazendo geografias caológicas, fundindo vida no instante que se eterniza e se desvanece simultaneamente porque os eixos que rabiscam o grito, exigem deciframento sem explicação, se cruzara para intensificarem os roubos das camadas de tempo dos diagramas (colocar a vida no futuro com ritmos exaltantes fora das recognições): força germinativa-germinal de heterogéneses, activadoras do pensamento-impensado-mesclado, do pensamento em conflito com o sensível-fusional, tudo está dentro das séries divergentes do pensamento da natureza: desmedido mistagogo das memórias cósmicas, arroubo ininteligível do texto-sem-rostos onde o vazio produz realidade instável, inventa-mundos, é insaciável e povoado de aparecimentos de corpos sensíveis, sim, o poema necessita permanentemente de se reinventar dentro de composições violentas e afirmativas (disseminação contida de signos). O animal-poema é uma espera impossível que se aproxima da morte ao revelar signos da obscuridade, triando o que mais afecta o sublime entre o excrileitor e o mundo (captar os tempos imperceptíveis com o acontecimento que está antes da palavra)

 

A poesia porosamente derrama mundos, perfura, dissolve rostos-euísticos, desobstrói devaneios, auscultações, apaga traços, produz crise ao trilhar, emborca a linguagem, produz diéreses, rasgadelas, desertos que tangenciam o imperceptível, o inominável, o indeterminável, sim, vaza, extenua, deslaça o in-sonoro das palavras, estrondeia, cauteriza, dispersa o real, faz falar a cegueira com a insurreição esculpidora da existência acontecimental, entrelaça visões flutuantes, trespassa embates, mina entropias, dicotomias, se transforma, retransforma, se inventa, re-inventa, se microagita, se mistura, se revolta contra tudo que recusa a vida, é uma cartografia polinizada por parafrenias porque é catástrofe germinal, é uma força incomensurável de interpretações andarilhas, de oscilações electromagnéticas, de descodificações de afluências ilimitadas entre contemporâneos-futuríveis-larvários e percepções impessoais, é um animal fraudulento, vidente, falsário, contrabandista de topologias à deriva, de invaginações-do-geometral, de atravessamentos sígnicos, de diagramas-sensitivos carregados de conexões mutantes, de decomposições compositivas, de intensidades fractais que esboçam o real ao desterritorializarem a presença do excriptor em direcção ao abalável geográfico, repleto de coexistências intermináveis porque o animal-poema se constrói e se contradiz entre processos de fuga emergente e zonas estilizadas pelos forros a-sígnicos que induzem o executável para o descolamento turbilhonante (vazaduras, limiares, voltagens, passagens, jorros a indeterminarem as submersões e as ruínas dos sentidos, tudo numa percussão titubeante):

 

o funâmbulo do insulamento ressoa na povoação invadida por zonas obscuras, alisa-se na procura de putrescências silabares, de paradoxos libidinais, de dobras cerebrais, de reais-por-vir, do não-dito dos ecos das vozes anteriores onde o sujeito e objecto se destronam e se descentram num ritmo de descontinuidades, sim, velocidades desmedidamente finitas a fugirem ao domínio das percepções hierarquizadas, enfrentar vidas desconhecidas e produzidas por audições e visivas resultantes de desvios simulacrais, de terebrações do inesperado, de rumores inobjectiváveis, de escalavros subvertedores de códigos linguísticos, de aventuras enciclopédicas, destruindo com jucundidade familarismos, humanizações das verdades salvacionistas, espelhos vampirizados, reconhecimentos nadificantes, diabolizações disciplinares, sim, o poema necessita do fracasso, do espalhanço ininterrupto porque suspende o circuito do mundo ao absorver a guilhotina dos alvos desconhecidos sem morrer, escuta a decomposição-regerminadora do mundo, ausculta os interstícios polinizadores e esgotadores da linguagem, destrói os liames microfascistas do eu-déspota,vira tudo do avesso ao exaltar a língua, obriga-a a sair do seu ecossistema por meio de variações afectivas, de imagens em escapamento e em hibridização, fazendo proliferar texto-corpo-deslocamentos-tectónicos nos olhares-cosmogónicos que se cruzam nas forças dos feixes de sensações, prolongando-se a si-próprios e resistindo com as repetições metamórficas da dor, levando o leitor para o invisível irritável do sensível, para a alomorfia de pirotecnias deslocalizadas no mundo-outro que absorverá o tempo puro a cada instante porque seu corpo será infectado, afectado e arremessado na experimentação imprevista para saber o que pode fora das imagens castrativas, das blindagens representativas, sim, re-existir nas superfícies profundas de moventes artesanias onde a linguagem dos insanos, dos prostibulários, dos devassos, e da desrazão ressurgirá, se entre-cruzará indefinidamente em milhares de atlas sem hierarquias( rarefacção modal, catalisadores mutantes-dadivosos, desregramento experimental e descolamento epifânico da crueldade )

 

A poesia cartográfa tudo que está em fuga, em convulsão por meio do pensamento em transbordância, de linhas de entrecortes, de micropercepções gaguejantes, indiscerníveis, in-decifráveis que escapam em rede às estruturas dualistas, aos órgãos classificadores. Caminhos coexistem com outros caminhos em dispersão e o mundo se mundifica e torna a vida inobjectivável, sim, sentimos adentro e fora de nós uma multidão bastarda-lenta-veloz a escarificar o experimentado futurível com desvios simultâneos, cavalgando sobre todas as línguas para esculpir a estrangeiridade, entranhar nos arquivos espácio-temporais, escutar o infinito no corpo acoplador de uma miríade de bifurcações afectivas-vibráteis que combatem as vazaduras da morte na língua! É uma energia tremendamente vadia e obscura, uma revolta enunciativa, um vazio perfurador de loucuras sem neuroses que dilacera superfícies e nos avizinha do excessivo-delirante, do acontecimento disruptor do exílio ao minar ininterrompidamente o dizer, a palavra em contágio com o tremor habitacional doutra palavra nos fiapos da palavra-outra, atingindo as visões fabuladoras, a transbordância dos limites onde o enunciável-do-poema-mundo-de-qualidades-não-actualizadas se interpola fora de si-mesmo porque sente a retracção fragmentada, os sentidos migratórios da transversalidade lisa, a excreção do corpo transfixada por incógnitas, o acidente assígnico perante a memória que se arruína, se incendeia nos rasgamentos construtores do processo inventivo que atingirá a completude por meio dos insanos atingidos por movências de lugares em mutação: tudo se fricciona no enfrentamento de um real inexaurível, materializando espiritualmente o oblívio na translação do ilegível que faz do corpo uma semiótica impessoal, uma geografia sem lugar, um crivo fora da consciência (vareios afirmam as afecções da vida e escapam das possíveis visibilidades, o poema vive sempre nas linhas musicais de feitiçaria porque activa as desterritorializações do impossível entre línguas desconhecidas) sim, sentimos o entrelaçamento dos magnetismos das emancipações híbridas sem transcendências, fazendo da indistinção das rasuras, da indeterminação das orlas, das semióticas não verbais, as errâncias das ulcerações sígnicas-brownianas, as superfícies enérgicas das linguagens em perpétuo desequilíbrio, em cisão inclusiva de micro-pontos-de-vista, de raias animistas tensionadas, criando sulcagens cosmovisionárias, derivações, reviravoltas, rombos, intersecções de golpes impermanentes, levantados contra o mundo-por-dentro entre aprendizagens em devir( uma língua sem sujeito age, aqui-agora):

 

o poema escapa ininterruptamente ao apoderamento, ao comércio-ensino da língua porque nos faz escutar as artimanhas sígnicas em ressuscitação intermitente fora das jurisdições, das supremacias, das soberanias, sim, o texto-animal se torna um lugar-sem-lugar de escuta de fluxos de vozes, um assalto de vocalidades que invadem o mundo dos mundos entre movimentos de atraimento, recusa, altercação, expansibilidade, sim, a poesia é um animal provocador de sensações incontroláveis, um animal atravessado por jogos de plasticidade sem denominações como se transformasse numa partitura de ritornelos em rede infinitiva: os timbres, os intervalos musicais dos interfaces ondulatórios activam-se nos movimentos vertiginosos das traduções do acontecimento-sem-si, das transduções da hemolinfa espiritual, dos roubos vivificadores do mundo para fugir aos desígnios do poder e da história. Na necessidade do nada-escapatório, cria anomalias e sobrevém nos mosaicos de capturas de permutas do real inexaurível e das cirandas estéticas que rasgam firmamentos, misturam as linhas de variação de contrários numa golpeadura afirmadora do acaso, compondo, proliferando caos e sensações com as vazaduras do corpo sem terapias, nem socializações porque tudo passa por entrecortes e por intercessores de intensidades dos despojos multissígnicos que esperam decifrações, teias e desamparam as percepções, porque o animal-poema-sisyphos é um interminável rastro obstinado, obscuro, bastardo, desmesurado e anterior ao pavor do verbo e a qualquer verbosidade, sim, tudo é varado, dilatado, lapidado, entrelaçado pelas dobras variegáveis, impróvidas, impulsionadas pelo desmontável, reversível, modificável dos alfabetos estranhados: repercussões distantes dos gritos do não nascido que se expandem até ao infinito e retêm o vazio arrastador de rizomas cartográficos, de relações do absurdo e de metamorfoses disformes em confronto com o devir, com o mapa-mundo, sim, forças das vacâncias linguísticas andarilham as indeterminações do invisível, asseveram o não-significante de vida-que-nunca-morre através de pensamentos escorregáveis, de ondas cerebrais repletas de afectologias, de coreografias imanentes (zonas de vizinhança de indiferenciação fazem o poema escutar as linhas cristalinas da devaneação e jamais dizer, o olhar sinuoso da palavra tenta ventilar os gritos acósmicos da errância que envolvem os jogos de contrastes da morte, os restos e o transe do texto, dramatizando o espaço com a cegueira dos verbos energéticos que vêm antes dos escultores do real em transformação onde a falsidade faz estetizar o rigor: o movimento mutável da vida é a arte dançarina do poema, é a fisga da inesgotável a-consciência fora das identidades humanas)!

 

A poesia não suporta a genialidade produzida pela vanglória-tolaria ao serviço dos deuses-metafísicos e de soluções miraculosas. Ela é uma linha matérica-de-forças-espirituais, de fiandeiras atemporais que resiste a si-mesma sem finalidades, é força dos transpiradeiros aracnídeos, é o animal do reentrante das superfícies acopladoras de matérias tremulantes de semióticas-novas, dos atravessamentos da carnagem da língua com transparências invertidas ou de uma língua que não acontece porque produz o hibridismo da vida com sensações irredutíveis entre-desertos, flutua, penetra no vicejo vibrador da atracção feronomática em múltiplas perspectivas dos afectos-impessoais onde as almas-corporais renascem continuamente carregadas de veemências da indiscernibilidade, anulando, esculpindo e misturando substâncias nas cartografias aberrantes, é a política estética-do-intermezzo adentro da correnteza do impossível, de uma miríade sensorial estranhada nas efracções dos aprendizes dos rastos imperceptíveis que atravessam o corpo,sim, o poema não vive de manifestos, nem de irmandades, seu exercício é não ter função, nem descendências porque navega desabaladamente no passado-presentificado da diferenciação esboçada pela ductilidade da matéria irrepresentável onde a vida se transforma em alvoroços sensíveis, em impessoalidades, em heteronomias, procurando zonas de arrepsia na invenção-de-si, sim, acontece nos vigores proliferantes da insubordinação, do engendramento sensorial, não se submete ao organismo, à inteligência, à acepção, produz desvios na construção de inabituais territórios, adquirindo novos sentidos no tempo que é a fusão dos instantes espiritualizados no real-virtual do cérebro-caleidoscópico onde a linguagem se retém para se desenhar no avesso através da trepidação do seu próprio crime em profusas angulações: estimular a inesperada ecologia da palavra, os seus intervalos movediços e o enigma do seu afastamento, sim, construir um espelho quebrado de tensões permanentes sem catarses para ampliar, transformar as síncopes dos olhares que ziguezagueiam por detrás dos nomes em abalos permanentes e sobre o mundo transhistórico-acronológico, fazendo-nos apreender os sentidos traçadores de mapas com alisamentos de superfícies enrugadas que catapultam as palavras fora das experiências recognitivas (sentidos que presentificam o mundo antes do seu ressurgimento, uma força avassaladora insubstituível, a errância de um corpo inventivo):

 

a razão impura da poesia está nas próprias linhas abissais, nos desvios chispantes, nos cortes da velocidade infinita do poema: um alpinista-cartógrafo da devoração pura da vida-poema não traz certezas, mas tentativas-problemáticas e invenções de estratégias de multidões metamórficas, planos moventes das hibridizações da memória-corporal-futurível, golpes mergulhados em eternas polimorfias abertas aos estados afectivos do corpo-do-corpo, retransformando demoniacamente as dimensões caóticas dos materiais com as possibilidades criativas que estilhaçam percepções de órbita em órbita, presentificadas pelos devires perfuradores de sensações de um passado-devenir, sim, são sensações estranhadas, obliquidades sensórias em processo cataclismático porque jamais atingiremos a visão total do atractor estranho das polinizações verbais e não-verbais, sim, à medida que sentimos os atravessamentos sígnicos-fabulares, transbordámo-nos, absorvendo o nomadismo absoluto, consagrando a durabilidade dos instantes, as expressões para além das expressões que nos fazem contemplar o mundo de olhos fechados entre esfinges escutadoras de vozes mónadas, em bifurcação molecular, em aprendizagem heterônoma: as vozes perseguem e são perseguidas ao acolherem outras vocalidades proliferadas na curva do alfabeto das coexistências do mundo-criativo que é uma magnitude do fora misturador de perfulgências de pontos de vista, gerador de palavras inalcançáveis, palavras dobradas que engolfam nas germinações dos sentidos fractalizados, nos cromatismos geográficos, nas invaginações topológicas e nos levam até à paradoxalidade-eólica, à potência da interrogação dos ritornelos barrocos, aos interstícios de um texto quiasmático que nunca foi e nunca acontecerá, sim, palavras irradiadas pelo corpo perspectivista revivificam a linguagem muda porque fogem aos significados,às taxonomias, são escarificadas por experimentações vivas, navegam no silêncio do corpo imanente que se efectua na voz libertadora da matéria, adentrando-se na inquietação do real por meio do respiramento intensivo do mundo, sim, as palavras revolvem, disseminam o vazio com as bocas estrangeiras, são afectadas por energias não mensuráveis, por campos de interacções que desorientam, suspendem, adiam, destroem as soberanias do olhar, criam desertos, enervamentos, jogos de força entre visões e transfronteiras perpétuas( mónadas fractais, germes fractais, cristalinos fractais): aqui-agora: a poesia e o verbo se demovem, se derivam, estimulam distâncias sem avocar, porque articulam as suas perseguições ao tempo, fazem da queda uma respiração geodésica indecifrável, uma permutação de tempos-próprios, transformando possíveis rotas em volteaduras de espaços acústicos, de fendas imprevisíveis, de elevações-hápticas, são tecelagens esfiadas nas alucinantes sombras das palavras por meio das palavras-viróticas, são talhaduras órficas dentro da palavra-transversal a desmantelarem objectividades, conectando-se ao saber da polinização lisa do corpo, da equivocidade corporal entre processos desabaldamente inacabados e as perfídias da tradução do incomensurável porque nada está dado entre tremendas gradações, saltos, viragens das mutações dos planos existenciais:

 

a poesia é uma fracção da memória cósmica, um intervalo espiralado da reminiscência que lança dados contra a matéria musicada por forças espirituais, louca metamorfose galopante, fazendo das vibrações das falhas da excripta infinita, uma imbricação de musculaturas linguísticas que não decifram as imagems fabuladas,fugidiças, irrepresentáveis porque os limiares dos caminhos labirínticos fogem simultaneamente à perspicuidade absoluta e à espessura absoluta, sim, transuda alvos ao viver na imanência, nos ressurgimentos das línguas propulsoras de diferenças que se diferem no mundo em mudança (o poema acontece no nosso olhar porque a visão ainda não se completou, vive em impermanência contínua)

 

A poesia é insatisfazível, insaturável, está sempre em alta voltagem das forças inamanipuláveis, é uma epiderme de revolta em deslizamento, uma re-existência cortante da linguagem, uma transcodificação alastrada, uma decifração vidente entre as expectações por vir, as coexistências mutantes-acontecimentais e a impessoalidade impulsionadora do tremendo silêncio que envolve o arrasto incógnito da palavra (alcançar camadas sem memória e desviar gestos estimuladores de estremeções de um corpo inominável que nos faz ir ao encontro do canal-imperceptível, do êxtase diante do desconhecido, inventar entradas e saídas com a crueldade não aviltada dos rastros do animal-texto atravessado por hordas abstractas, por ecos dançantes que arremessam o leitor para a incisura desmedida, desterritorializando-o com esfinges verbais-móbiles incessantes: sopros pirocláticos nas raias do grito liso absorvendo partículas a-significantes, uma força-gaguejante que tenta pervagar a morte com o olhar-girador que se irradia quando assimila as tessituras do fora-adentrado do corpo, arrancando novas velocidades-lentas de vida, novas hipóteses de existência( ondas rítmicas atravessam a invenção destruidora, enfrentam a matéria etérica do corpo-poema):

 

sim, sem caos, sem contrastes, sem destruir a experimentação pela experimentação, a vida e a poesia não acontecem porque é com as monadologias-hápticas-histéricas que se constrói a vida da morte, o processamento dos mapas assimétricos da anti-memória): uma conflagração de esboços dos dons-sem-permuta afirmam as diferenças da estéticas das sensações por meio de movimentos ininterruptos de partículas disjuntivas, contemplativas, é uma sobreexcitação no pensamento, uma potência em acto nómada, quebradora de formas-arborescentes, de atitudes figurativas, porque lida com o abismo prestidigitador, com a deformação que tangencia intermitentemente as agripnias, a crueldade entre forças-ontológicas-trágicas e a arte de estar no-do-mundo, absorvendo a complexidão sensível do real contra o percepcionado onde as palavras só vibrarão se suas morateiras trespassarem os bofes do mundo, as reentrâncias obscuras do corpo com a sede de expirarem, de se esbulharem e de repulularem como auspícios inumanos, chamando para não nomear (atrair o copulável-multiespécie-amnésico das coisas inexistentes, inomináveis e secretar tempo por meio de processos contemplativos até ao impensado rupturador de contexturas psicológicas)!

 

A poesia é como o frevo e o maracatu de paroxismos-disjuntivos-anómalos, não invita, arrasta, estira linhas abstractas, transmove o tempo na matéria sem descendências, fragmenta a matéria da vida-da-morte com conexões heterogéneas, alavancando o ritmo intransitivo, misturando-se com o mundo para recolher os corpos de outras vozes sem história pessoal entre catervas de processos desejantes e epidemias sígnicas: aqui-agora: a palavra em torcimento suicida-se dentro de si própria porque arriscou em dizer o inexprimível por meio da jubilação da tragicidade, o povoamento em dupla cisma que a acolheu, cauteriza-se porque se aliou à desfocagem do tempo cristalino, às esponjas do inomeável, do anónimo, do incorporal, e do insondável, sim, com a indecifrabilidade das potências anorgânicas, as afecções expressionistas rasgam as normoses-filiais-socializantes que asfixiam as conexões de pontos-multimodais do mundo, sim, o poema não representa, mas transforma ao pontilhar os roubos das assintaxias hipnagógicas, os espelhos-sem-fundo para reforçar as sínteses transductoras do insulamento e a convulsividade nos limites mais silenciosos (a palavra experimenta-se com a multiplicidade exogâmica de outra palavra entre movimentos polifónicos e as heteronímias contemporâneas do futuro)!

 

A poesia capta as substâncias emaranhadas dos saltos sígnicos, recriando-os nos movimentos aiónicos dos entre-tempos: linhas de expressão do intensivo geram acontecimentos, rupturas absolutas em cada mónada(  o poema reconstrói-se com a musicalidade do seu próprio corpo, desmanchando a dilatação orgânica-sedentária e  a prolongação do sensório-motor-termodinâmico-entrópico), assim, transporta-nos para as forças puras do tempo que dissolve o euísmo, muda de órbita e leva-nos para as composições das dobraduras sintomatológicas, afectadas pelas diferentes levadas-rítmicas da vida-himenal, pelas línguas analfabetas e antropologicamente abertas às lacunas acentradas, às vazantes reconfiguradoras de sentidos turbulentos que defrontam o grito indefinidamente variável, nos núcleos proliferantes da tentativa de conectarem malhas de contacto entre o lisamento das ex-criptas e as hesitações pulsáteis: a poesia alcança-nos inesperadamente de fora-multimodal e em ininterrupta decifração, acontece na presença do movimento infinito, no entrelaçamento de forças polimórficas, de acasos caológicos onde a palavra se esquarteja nos cruzamentos dos mapas cerebrais sempre em reconstrução: experimentar a transparência dos actos hesitantes que quebram o conhecimento e a dominação da consciência com o inumano-problematizador dentro da inesgotabilidade escorada do infinito-alógico onde se levantam, catapultam micropercepções em transmutação ininterrupta, em misturas ecoantes-incorpóreas( ampliar violentamente as sensações compositivas por meio de aprendizagens críticas e de subducções violentas da hiperestesia regurgitante)

 

A poesia acontece-na-contaminação-multilíngue dos choques estéticos para desencarcerar e retraduzir a vida, profanar a civilização do sagrado, rasgar, tornar visíveis sombras expressionistas, linhas intersectoras de excreções do corpo, remascar o imprevisível, libertar contrastes, trespassar-nos por meio de sensações desorientadas, encruzilhadas enciclopédicas, impessoais, dançar o caos com matérias espiritualizadas pela violência da transcodificação sem pontos de partida, sem pontos de chegada, sem gráficos, sem coordenadas, sim, enfrentar a transdução do estranho, o magnetismo estilizador da existência extrema que nos leva para o subversivo das perspectivas do acontecimento em demudança e escavador da duração, dos ângulos cristalinos, sim, brincar com o APEIRON do pensamento avassalador para arquitectar cortes diagonais no tempo labiríntico (escavações viventes do olho que distorce, dilacera e prismatiza o gesto da sinestesia das realidades imperceptíveis___multiplicidade de mónadas que fogem da servidão, dos órgãos, das espécies, das funções, dos géneros: composição de forças de sínteses disjuntivas onde passam os afectos em recomeços gaguejantes, ultrapassadores de tempos): um jogo de distâncias sem lugares faz das fagulhas pictóricas um acontecimento expressionista-etológico em variação contínua): são murmúrios das errâncias, das assonâncias, das elipses, das interfaces grafitadas, das fundições-olhantes sem respostas que abrem os dínamos virtuais das ventãs, porque seremos infindavelmente perseguidos por incógnitas do rumor ecológico do fora feito de transmutações vertiginosas do inapreensível, do indizível, do indiscernível, sim, sair da consciência totalizadora, juíza, da fantasmagoria por meio das cartografias esculpidoras do tempo-paradoxal, das zonas contíguas dos devires, das polinervuras do pensamento intensivo, intratemporal onde as fissuras sígnicas descomunais se abrem sem cicatrizações, destruindo percursos, inventando trajectórias dos desertos povoados: ressurgimentos em extravios estrangeiros, produzem solos intrusos com as experimentações sensíveis do corpo-palavra onde os limites se transudam fora das grandezas formais: aqui-agora: a palavra é cataclísmica, embriagada, exaltada porque alcantila sua potência destruidora, traça sua capacidade inventiva no confronto com o silêncio do mundo pulsional que sobrevém sem ser atraído como um risco em fuga acoplado a áreas desfocantes, às entrepausas da visão do não-vivido:

 

o tempo plástico e o poema absorvem a resistência das pluralidades e se aliam fazendo durar os rabiscos da vadiagem eterna na intensão ritmável do devir, multiplicam as arrancaduras báquicas nas luzes reencontradas na própria escureza, na malha esquiçada por lacunas re-semiotizadas que atravessam os intercessores dos sopros da desumanização, das mucosas-enérgon para recusarem a morte: é na plasticidade de golpes topológicos, nas intersecções geográficas, nos intervalos variantes das garatujas que nos desmoronamos cheios de falas indecifráveis e de contra-significações (emaranhado dos desejos dos futuros adjacentes das aprendizagens):dizem: são respiramentos sonoros da natureza entre as matizes das devorações que necessitam de deciframento e sentido, são ondas da duração de nós-mesmos, choques de diferenças mútuas, escutas dos espaços adentrados nas invenções que nos fazem acontecer longe dos objectos de recognição (inventar é um saber problematizado em transducção, são afectos indefiníveis com velocidades alteradas): sentir a avalanche demoníaca das tapeçarias áridas-informes, provocar visibilidades nas superfícies que não se efectuam, destruir as acepções na linguagem e absorver os vestígios acústicos do caos, os pactos incumpridos, intercalando memórias-ontológicas com as cartografias vazadoras de múltiplas ressonâncias do que-há-de-vir em curto-circuito (escapar das formas orgânicas e voltar em linhas transformáveis da estética convulsiva porque o intensivo não tem desígnio, é uma des-territorialização de si mesmo___fazer do erro uma experimentação do tempo, dançar o espaço a-sígnico para nos conectamos ao processo incorporal, às sombras expressionistas que ampliam as relações de forças, à bricolagem visual das colagens pulsáteis___forças que se dobram aproximando as matérias sem contornos às ressonâncias espasmódicas do tempo puro, sim, a poesia dilacera o real com os impensados rítmicos, regerminando-os com o rigor improvável das afecções entre a impossibilidade possível das paixões bordadas pelo relógio enlouquecido de MIRÓ: tornar amor fati-phaneron!)

 

A poesia nos movimenta num sangramento de perspectivas, de relações imagéticas com limites mutantes que lacerarm o percepcionado, o experimentado, sim, cria novas possibilidades de invasões no virtual, produz golfadas de afecções-desviantes que rasgam o mundo com o tempo unido a cada instante sem exposições, perfurando multiperceptividades por meio de babélicos pontos-de-vista-intermitentes que nos fazem coexistir nos ofícios das diferenças e nas forças inesperadas do invisível até à metamorfose alucinante do impensado onde o devir-autopoiético com linhas germinais refaz vida sem repouso, sem resoluções, sem formas fixas, sim, a poesia entrecruza tessituras intermitentes, interstícios resistindo ao seu amestramento, à sua manipulação, é uma afluência imprecisa, um caos-bactérico, um caos-agramatical entre o real e irreal que escapa às significações-totalizadoras, às binaridades, ao facciosismo, às recompensas, à consciência, surfando sustentáculos transitórios por meio de ritmicidades esquizofrénicas, hebefrénicas, vasculhadoras do brotamento dos cios geográficos onde as imagens translúcidas se misturam infinitamente entre fundos de tempos extasiados (o poema nunca aconteceu e nunca ocorrerá: múltiplas direcções se envolvem corpo-a-corpo a uma velocidade incomensurável, atravessam as matérias catalisadoras da durabilidade dos instantes que produzem diferença inventiva, sim, potências sem finalismos, quebram as agulhas do tempo, fazem das dobras minerais-vegetais-cibridas do acontecimento-poema um ciclo cósmico ininterruptamente irrecomeçável e inacabado:o poema não espera nada do mundo, extrai dimensões inexploradas ao tempo, foge à adstringência do hábito para dissolver objectos e intensificar o sensível com as esponjas-fílmicas-do-improvisado, vitalizadas por jogos de plasticidades da revivescência do transe, de cartografias de malhas afectivas sem denominações como se transformasse o pensamento numa partitura de ritornelos, de heteronímias entre as contemplações cegas do mundo e a desumanização presentificada no visionamento da inexistência (aparição de forças do desassossego institual vive a vida feiticeira e não a escrita ou qualquer tentativa de processo artístico sobre a vida): são timbres a transfronteirarem o mundo, são intervalos musicais, impulsionadores de golpeaduras perceptivas que entranham, escarçam, rasgam o tecido textual sem catarses numa dança captadora de vozes oraculares, de atracções cinemáticas microscópicas, de tonalidades angulosas, sim, não há instruções, nem escolas, nem oficinas, há micromovimentos desmedidos, irradiações labirínticas feitas de camadas de tempo entranhadas no não-figurativo-do-desejo: um complexo de virtualidades-reais adentro da sonoridade modulatória do abandono em sincronia com o colapso sensório-motor, falsificam a palavra, lapidam-na com o desaparição em ressurgência até à contrapeçonha do perceptível e da angulação absoluta de uma horda por vir( evitar o predomínio da consciência porque o poema intercala, entremeia, entrecorta com velocidades lentes fora das ordens sentimentais, mas atravessado por um jorro de sensações irrefreáveis):

 

o corpo de quem tenta excriptar sentirá o tremendo avesso das coalescências afectivas do mundo, a superfluidade do mundo, experimentando o inverosímil diferentemente entre as catervas quebradas pela visão bifurcada e os rastros apagadores de trilhos( assoalhar a existência estranhada na segmentação quase-totalizadora, multiperceptividades perfuradas pelas intuições intensíssimas de futuro), sim, o tempo absorve os planos hápticos,  foge da circularidade e treslouca para visionar novas possibilidades de existência! O poema relaciona as forças do sensível com os vigores do impensável, indiscernindo a sua animalidade criadora com geografias não artísticas, experimentando o tempo fora do esquema sensório-motor, das suas dobradiças aprisionantes (potência mutante de uma vizinhança insana a tocar o intangível, a escutar o insonoro, a incorporar rasgamentos sígnicos com ritmos incontroláveis, arrastadores de outros de nós-mesmos, tudo numa tensão transpessoal e acósmica): na fronteira extrema de si mesmo, o poema esponja o absoluto da singularidade e resiste à morte alucinadamente!

 

O poema é sempre uma vontade de não fazer-poema, experimenta-se até à saturação insaturável, insatisfazível, mistura-se e absorve as forças larvares do mundo, livra-se de si mesmo com o ritmo do esquecimento, torna-se clandestino, inacessível, atingindo um corpo dançante feito de multidões à deriva, um corpo à beira do caos, da catástrofe que nos faz submergir na imagem pura do tempo (um presente na renascença repetitiva dos instantes ou um corpo-cinema de durações possíveis porque a imagem não identifica nem classifica, é luz materializada a traçar mapas sem origem)!

 

Com a hesitação estética-ética, os ritmos turbilhonares de partículas-em-movimento-emaranhado, transformam o poema numa multiespécie ritmável-dionisíaca de cronotopias, de heterotopias, de linhas abstractas, infinitizando o anorgânico nómada, os ecos agramaticais, os estímulos irrefreáveis do aformal, o eterno retorno das contracturas sinestésicas, repletas de traços caleidoscópicos, de acasos conflituantes (o poema é um processo em multiplicidade, não tem configurações, fisionomias, não rostifica o significante, mas é atravessado por imperceptíveis reais, produzindo ininterruptamente ritmos sem predestinação, tapeçarias afectivas em movimento, fractalizam-se no grito insonoro e brotam-se dentro do cristal: surtam ao tornar atingível o invisível): aqui-agora: visualizámos a vida errante, intensificada, excessiva, a antimatéria na reviravolta, na dispersão sígnica, no rapto ininterrupto que transplanta os gritos da tremenda lucidez entre as locomotivas acesas do pensamento sem imagem, o misantropismo-delirante do tremedal, os hiatos-thaumazein e a variância-contínua-geodésica do corpo porque os dramas no espaço geometral se transpõem absolutamente, levinamente, antes de se abrirem aos pulmões ocasionais do alto-mar semantúrgico, à memória-futuração interpolada pela metamorfose cosmogónica:

 

(o sentido do poema enuncia o intervalo das multidões rasgadoras do mundo onde lógicas combinatórias dançam com os despenhadeiros): são detalhes obscuros, germinativos e incitadores de aprendizagens ininterruptas, são tentativas anómalas de espiritualizar as intensões da matéria entre as afectologias em descodificação, em recomeço, em desvio porque o imperceptível nada tem a ver com a obscureza, o invisível e a indistinção nutrem-se dos olhares-do-vivo-dilacerado que tentam regressar ao silêncio multímoda, mergulhado num tempo que abandona desabaladamente os seus próprios fulcros___ sismicidade dos atractores estranhos, das forças relacionais___ ressurgência das micropercepções inconscientes destruidoras das analogias e das coesões intelectualizadas( abalos sígnicos rasgam o expectável, dissolvendo a matéria do poema): a língua tresmalha-se, evade-se das palavras por meio das intersecções verbais, por mudanças de pontos de potência onde o animal-poema sem repouso é joeirado por sintomatologias-gagas-delirantes antes de ser espostejado por si-próprio, porque não tem aversão ao caos nem ao tempo acentrado, ele produz tempo numa movência imóvel com correntezas diversas, com roubos estilizados entre complexões de confrontos e enciclopédias estrangeiras que escapam aos discursos identitários: é uma vibração não mensurável do mundo que se altera com velocidades lentas, instáveis e flutuadoras, abertas às conexões acontecimentais, aos mapas levantados dos silêncios etológicos, aos regressos transbordantes das superfícies em movimento, sim, o poema ao reintensificar-se extrai os traços de outro poema sem finalidades, eliminando o tempo do instinto da morte, destruindo o rosto da cabeça, devastando a paisagem da geografia)

 

A poesia é uma afecção-estrangeira-de-si-mesma, é um rigor-inventivo com uma miríade de fendas sinápticas que absorvem o estilhaçamento do mundo com o saber-ritornelo da natureza, esculpem incógnitas na babel pontilhada que estremece de alto a baixo ao acossar goticamente personagens abstractas, estéticos, acelerando devires feitos de entreteceduras duráveis, polimórficas( receptor de forças afectivas intensificadoras de mapas de novas semióticas que jamais salvarão o planeta, nem representarão a humanidade, nem desejam atingir alvos, nem regular consciências,sim, elas penetram nas coexistências dos diagramas dos processos de singularização que experimentam ininterruptamente as sensações com os vários pontos de vista-hápticos, eliminando as metafísicas-transcendentes e as utilidades perceptivas por meio do pensamento impensável em decifração onde o poema se prolonga entre alvoroços sensíveis, zonas de arrepsia e heteronomías para afirmar a sua existência na incomensurabilidade do estar dentro-e-fora de si mesmo transfronteirando o mundo com a vida num movimento de extremo vigor). Exaltada e com o tempo no corpo, a poesia sente os abalos do silêncio ao colocar tudo em risco, em vascolejamento, fica imperceptível ao asseverar a metamorfose completa dentro do cristalino dramático de Tarkovski: os ecos cataclismáticos do corpo-poema arrasam itinerários, anarquizando raias para presentificar sem objectivações o estranhamento do mundo antes do mundo, sim, colapsa autorias, instituições, binómios com resíduos sinestésicos dos ritmos do pensamento, com captações dos murmúrios incessantes (dramaticidades na fala-alçaprema do mundo que se abre para a vida anónima dos processos artísticos) porque não existem verdades mas indecifrabilidades, passagens, cruzamentos, prácticas fabulatórias indiscerníveis, matérias informes que escorregam nos devires balbuciantes até à extrema lucidez do incorporal experimentador da potência bruta do tempo (o devaneio da língua fora do idioma não permite sentimentalismos nem concretizações emocionais porque a eternidade está na matéria, na natureza pensante que espia o corpo construtor de afectos fora da fantasmagoria humana):

 

a poesia é força de insubordinação anorgânica que arquitecta um espaço de acontecimentos, devasta o que de humano existe em si, não quer ser compreendida, não quer ser agraciada, premiada, ressarcida, não tem contrato com a história, nem com o campus social-estadístico, ela sumula expansivamente sensações, deforma-se por meio de esboços de topologias indeterminadas, de contaminações lisas do cristalino-barroco-egípcio-bizantino-musical do tempo, sim, um animal decepado pelas intermitências, hesitações inflamadas que esperam verberantemente o grito multiespécie de uma arte órfã porque tudo termina em orlas invisíveis (o animal-poema estranha, esquece sempre a sua rota de retorno, é uma intrusão agramatical que cria realidade, exige forças paradoxais, um processo de intensidades a decompor a língua, a demolir as palavras e tudo se torna uma invenção de si, uma existência do imperceptível: aqui-agora: a expressão é processo acontecimental, refazendo existência sem repouso, sem resoluções, fazendo-nos entrar em novas estranhezas, novas cirandas sintomatologistas onde vida e pensamento se ligam rés aos alvéolos das forças dos corpos que jogam dados no real indizível, são transformações dos múltiplos intervalos mutantes__há um emaranhamento de linhas__ sim, o movimento do poema escapa-nos porque se avizinhou incomensuravelmente do tempo puro, do corpo histérico).

 

Não há virgindade na poesia mas excreções vivas, intercessores embruxados de voltagens decifradoras do mundo em confronto com o devir, nada é sublimado, tudo é fissura sem finalidade, é rasto de ondas pululantes, de palavras suspensas, regurgitantes que inundam rotas, enfrentam dimensões movediças, invaginações geodésicas imprecisas, caminhos labirínticos que ultrapassam os reflexos do mundo, são abaladuras de memórias-hibridas, fissuras de intermezzos-intangíveis que cavalgam sobre todas as línguas dos médiuns para recusarem a finitude, desescreverem com a visão dos avessos e dissiparem-se persistentemente entre as presenças acrobatas dos comuns, as hemorragias das infinitas codificações que procuram o acaso no mosaico anónimo, nos dédalos experimentados por vozes do esquecimento: ludicidade das afecções heréticas, cismáticas carregadas de lance de dados da obscuridade e do ilimitado repovoamento, sim, correr todos os riscos no instante fulgente da visão ritmada do mundo porque a poesia se devora a si-mesma, suspendendo o tempo na inquietação do real, o assombro da língua com a vertigem da aceleração intraduzível e do retardamento interrogante que nos faz cavar o vazio e mergulhar em zonas invisíveis (o poema recomeça com a natureza inédita fora da dialéctica, desacorrentando, atiçando sensações na extrema lucidez do enigma, nos choques vertiginosos dos movimentos sem imagens, intensificando o desejo contra o mundo por meio de verbos relampagueantes, sim, o poema articula sua perseguição, transforma seu possível rumo em volteaduras infinitas do roubo-outro, em forças inamanipuláveis entre espaços acústicos e as fracções espiraladas da memória cósmica: as assintaxias perfuradoras de vozes, as tecelagens esfiadas, as alucinantes sombras das palavras, arremessam as falhas da escrita contra o tempo da matéria que se move de modo absoluto ao vasculhar vestígios nas estremeções de conceitos móbiles, sem nome onde o poeta enfrenta a cada instante a morte, a linha do acontecimento, a crueldade, a sabotagem sígnica com sopros inexcedíveis do animal órfico perfurado por infinitas tonalidades: o murmúrio de uma perspectiva inventiva busca o corpo em exaltação!)

 

A poesia inventa questões gaguejadas, balbuciadas, inventa uma língua tarada, bruxa em mutação, sem justiça divina, sem justiça dos homens, sem corpos infalíveis, sem direitos, sem público, sem órgãos capturados, sem desejos esgotados, ELA é acontecimento violentamente ecológico aliado à estremeção dos verbos emergidos na musicalidade regurgitadora do impensável, é a visão secreta em transbordância, é fabulação intersticial do olhar mais primitivo, é a dança dos mapas do vazio, é a imaginação-esquizofrénica-contraente nos trilhos sem memória: as sonoridades explosivas não-orgânicas arrastam e arremessam o corpo-mundo na experimentação do devir, nos lugares de passagem corporificadoras do silêncio, sim, tudo se torna imperceptível dentro do tempo enlouquecido e das ondas rítmicas dentro dos intervalos da natureza (jogo de sensações estendem linhas abstractas numa língua que busca forças sígnicas ao escavar-se dentro do tempo do cristal para desprender suas ressonâncias a-significantes na variação tensionada entre o labirinto da modificação do desejo que nos faz recomeçar perpetuamente no irrecomeçável e a assimilação de visões fragmentadas num processamento impessoal, evitando as pulsões de morte com a jovialidade do ethos da tragédia porque o poema e a natureza não se expulsam de si-mesmos, são pluralidades afectivas, são o excesso do mundo, a vida sem pânico do risco e do fundo do tempo).

 

A poesia é atravessada por hordas movediças a uma velocidade infinita (intensificadores de forças a-humanas, a-conscientes quebram o organismo): a poesia é invadida por vocalidades em ritornelos descomunicalizantes onde os desejos-jazzísticos se transformam a si-próprios e nos lançam para o mundo das agitações a-conscientes e nos desertam através do silêncio cosmovisionário, da afecção rítmica que escuta o intervalo do tempo, rasga o percepcionado e entrecruza zonas antinómicas (auscultar as capturas da fragmentação espiritual fora dos eixos que carreteiam o infinito da phaneroscopia): aqui-agora: os ritmos catalíticos nos forçam a enunciar o inefável, a ver o oculto e a sondar o insonoro, assim, traçamos rotas no real-sem-rostificações por meio dos vestígios dos horizontes abstractos em continuidade com os sismógrafos-silabares para nos vitalizarmos entre as avalanches erráticas, dançantes do corpo, os eclipses do mundo e o transe antecipador da vida sem origem, absorvendo os retornos rasgadores de estruturas psicológicas (as ulcerações mescladas da língua recolhem-se, expandem-se e transversalizam-se na excrescência dos vectores da catástrofe para suplantar báratros, andarilhar incisuras, entrelaçar tempos, desfazer funções e perscrutar áreas ignoradas num ritual expurgatório, cheio de espirais infinitesimais, porque o impensado abre o corpo ao acentramento do mundo, arquitecta os cortes móveis do espaço, faz o leitor acontecer no espírito do instante, no silêncio da impossibilidade:

 

o leitor mergulha ininterruptamente no eterno da excripta com as intuições do viver-desaparecendo, sim, resistir, re-existir, se vazar e se dividir através de mónadas intensivas e de invisibilidades sensíveis (não há metas conscienciais) ___tentar extrair o tempo sem destinguir qualquer dimensão___: esfraldar relações de forças e experimentar o oblívio, a multidão incorpórea para criar, criticar, inventar, gerar dobras no limiar da escureza-melancólica, nos pontos cartografantes das expressões, sim, o leitor entrega-se ao inesperado inamanipulável da palavra e conecta-se às mutações insanas das indefinibilidades que escapam às referências dos sensórios-motores: sentir simultaneamente adentro e fora de nós uma turba bastarda fora do comportamento para esculpirmos a desrazão, a estrangeiridade do-no mundo com milhares de bifurcações afectivas-vibráteis a combaterem as vazaduras da morte na língua, fugir ao fluxo da cognição, experimentar o desconhecido( vitalizar a contemplação animista do agramatical, bifurcar labirintos com todo o campo do saber da transdução): fugir aos clichés do conhecimento, da serventia por meio de uma terceira pessoa acósmica-estranha, de intercessores de tapeçarias abstractas, de imagens indizíveis porque a poesia é uma energia tremenda da vadiagem obscura que sabota ininterruptamente o dizer, a palavra, sobrevém na desaparição, faz do tremendo mistério verbal um recomeço-ininterrupto, espalha sentidos por todo o corpo, cria permanentemente desrazões problemáticas com o fluxo fabulatório que arrasta uma miríade de signos além das cifras linguísticas( enervamentos transverbais-DAIMON conquistam afectos): o poema destaca, revela signos e faz-nos viver adentradamente no fora, no sentido alógico, nas tensões inexprimíveis dos corpos libertadores de singularidades, na busca de contexturas infinitas do pensamento , tudo sobressai cruelmente sem criação de sujeitos( intensidades de entre-tempos da ética imanente: eis, o desejo inconsciente da vida que não produz línguas, mas experimenta-as intensivamente com liames espirituais-olhantes-expressionistas da natureza)

 

A poesia dá consistência às forças das aberturas do pensamento desmedido, tacteia transumâncias desejantes, quebra o prolongamento da percepção cartesiana, quebra os horizontes entre as alagarças das deslocações intrusas e as profusões expressionistas que apreendem as pluralizações moventes do mundo, refazendo o involuntário da memória-futurível perante a ruptura da supremacia do olhar): afectividades sem emoções entre desequilíbrios plurivocálicos e traços descomunais do real-figural que se infectam criativamente por meio de planos pluriformes do próprio transbordamento dos limites, das cartografias do tempo-sentido onde as expansões das vizinhanças sedutoras, retraçam violentamente os corpos-buscadores de lances de insânia que reconstroem os redemoinhos trapezistas da vida, relembrando Claudel entre os conceitos turbilhonantes de Heinz Von Foerster, a des-ordem ritualística de MORIN, a harmonia vinda dos despenhadeiros de René Thom e os desastres do pensamento-estético:

 

a poesia é força catapultadora de multiperceptividades perfuradas, de espantos perspectivistas, de ralentações-góticas-cristalinas que mergulham nos povoamentos sígnicos, rachando interioridades ao subverter o já-dito com os enigmas irresolúveis, contagiados pelas energias-larvares do colosso: uma revinda do cérebro instintivo, equívoco e intensamente histérico dança o espaço semiótico do poema que luta contra o tempo do instante da morte.

 

A poesia é prestidigitadora e faz-nos sentir a premência pendular do irrealizável, as cortaduras esguelhadas dos vestígios-bifurcantes que se extinguem nas próprias religaduras das palavras concomitantemente libertadas e retardadas na urgência de escutar a correnteza subversiva dos sons escondidos nas fissuras alucinatórias dos acontecimentos em fabulação orgiásmica, hierética! Esquecer-criar-o-impensado-o-cérebro-o-tempo, sim, a poesia é uma força ausente do intelecto, é a hesitação problemática que estraçalha a percepção e sustenta as superfícies dos acontecimentos em renovação-háptica que esponja as qualidades intensivas e desactualizadas dos corpos, é uma afecção indefinida de mundos-possíveis do fora em duração permanente, do desejo dadivoso-criativo que nos força a pensar-o-passar-se e a bosquejar espaços de acontecimento porque o poema é um processo intersemiótico da phaneroscopia, uma força contemplativa da revolta perante a absurdidade, é uma sensação-mundo dos nómadas sem mestres, sem oficiais porque sua imanência é uma assimilação do caos, é o aformal puro do vazio do tempo, uma violência desejante e transformadora que descentra ciclos dentro de um corpo sem nome com olhares-jogadores perdidos na existência vibratória, um corpo que age em deformação, sim, a poesia com os distanciamentos das vizindades não evita o antilogismo porque quer ficar vivíssima no diz-desdizendo-mundo, ampliando possibilidades no real, na imagem-pulsão-afecção: povoar desertos hiperbóreos com conexão de imagens incontroláveis-delirantes, com dinâmicas dos eco das afectividades sem análises que simultaneamente perfuram, envolvem as potências responsáveis pelo pensamento rupturador, ultrapassador de consciências, de essencialismos (as imagens em tensão variam entre-si, perfuram-se, produzem cortes transversais com as batidas das anamorfoses cronotópicas, dos planos entremeados por traços barrocos até ao infinito, sim, o poema vitaliza-se na germinação incógnita de um corpo sem finalidades, um corpo de vários corpos a serpentear nas contigências translúcidas)!

 

Poesia, traduz signos sem configurações antecipadas, estremece o mundo sensível em direcções infinitas, destrói o espelho com espaços-tempos lisos-acentrados e não batidos, produz desastres sem ser desastre com linhas curvas-germinais-inconclusivas, vivífica as sensações do real simulacral, do real virtualizado, dissemina as intensificações das sínteses erráticas das diferenças e das partículas ressoantes que nos transportam para o olhante-infinito da imagem-plural, das partituras duráveis-afectivas, sim, a poesia existe-em-si-e-por-si-sem-recognição, é vaticinadora de velocidades infinitas, é desmesurada, inventa-rumina línguas com tempos virtuais traçados pela desaparição do traço, sim, com dimensões de tempos inexistentes evita as quietudes nirvânicas, transborda e rebenta percepções vividas por meio da inoperância, do disfuncional, dos instantes sem crassidade e sem grandeza, fugindo sempre às razões psicológicas, ao organismo da representação, da generificação e da identidade, sim, extrair as polissemias infinitas dos afectos, falsificar o tempo com emaranhamentos das variáveis infinitas, ampliar sentidos de “rosebuld”, multiplicar sonoridades e resistir à morte com o vazio criativo da eternidade, com a profanação agitadora de mónadas (a poesia pensa por-si-mesma, é uma força falseadora, um lance com múltiplas golpeaduras involuntárias que paralisam a consciência para libertarem o tempo e a vida): as palavras expelem espaço na adivinhação acontecimental, faz-nos sentir a captação do repouso da antimatéria ao esgaravatarem o pensamento para se desmancharem, a língua torna-se sublime no estado selvático e em ressurgência, inverte-se, riscando desterritorializações, acoplando fulgores incisivos onde uma voz assomará na desaparição do pensamento-espaço! Robbe-Grillet “para que servem as teorias”…,…o poeta e o poema inventam as suas próprias correntezas estéticas-éticas ao absorverem as dádivas intransitivas, as zonas múltiplas dentro da virtualidade aberta. Nenhuma receita, nenhuma oficina, nenhum ensinamento, nenhum amestramento pode substituir este pensamento activo___NENHUM. A poesia cria só para si as próprias inutilidades, os falhanços, as trapaças, os itinerários das estranhezas, as viragens, os paradoxos, com razões contaminadas, sim, entranhar no tempo puro porque o mundo não está acabado, arrabeirado: produz as suas subversões, potencializando cérebros agramaticais e tempos assintácticos: quanto mais intensidades percorrerem o corpo de quem atravessa desertos-textos mais decifrações serão atingidas rés a outros corpos sem memórias-passadistas, corpos supra-pessoais, corpos estrangeiros-intercessores que espalham geologias com lapsos enciclopédicos das palavras em combustão, em irradiação de violências fabulatórias (palavras que não fazem lugar mas intensificam topologias de destinos desconhecidos, constelações de sentidos em confronto com o apoderamento das reflexões e as verdades instauradas).

 

Quem estilizou a vida esteticamente, produziu diferenciação, zonas abstractas, tempos imperceptíveis, tensões enigmáticas, incertezas expressionistas, destruiu sistemas reactivos da linguagem, foi sempre ostracizado, perseguido, odiado, afastado porque fugiu das leis da sintaxe, espiritualizou a matéria, quebrantou as leis gramaticais, experimentou a estética que desequilibrou e fracturou o sensório-motor, não se submeteu ao organismo da língua mãe, sim, apavorou a língua, decompôs a língua, espremeu-a, minorou-a, sabotou-a, torceu-a, colocou-a em fuga, levou-a ao limite do gerúndio, criou língua dentro da língua, obrigando-a a expelir um corpo vibrátil e estranho, um campo afectivo em variação contínua, um horizonte chegante__ o poema__ sim, a vida é uma ralentação decifradora de afectos indefiníveis, é o caos de forças sígnicas, tudo se atravessa nos pontos de vista problemáticos e nas interpretações de novas semióticas com descontinuidades-contínuas que nos fazem avaliar as aventuras existenciais, nada se fixa no culto da memória-ontológica-futurível, não há reconhecimento, nem sucesso, nem espelhismos-lavados, nem estruturas na poesia, o sentido refaz-se sempre no acontecimento que é afirmação da diferença multilingue na mesma língua! São os movimentos intersectores das forças aformais com os sentidos contra-poder e as intensidades afectivas que esculpem o arco voltaico da exaltação agramatical da arte poética (ocasionar novos espaços-tempos intempestivos, novas desrazões incandescentes)! Se existirem limites na poesia serão sempre transbordâncias de superfícies vertiginosas, diferenças de ritmos de sensível-abstracionista onde o tempo da experimentação penetra nas excreções dos corpos que se conectam à inquietação do real para afirmarem a ética com as coexistências do riso, do risco, da dança, dos roubos, rasgadores de sustentáculos (corpos histéricos dos figurais mergulham em novas línguas)!

 

A poesia é uma força ética-clandestina, é o turbilhão da matéria estranha, é a diferenciação no comum, é linha infinita de passagens a construir novos sentidos por meio do corpo, é o impensável dançado a escapar do rosto, sim, força os eixos com as energias involuntárias das reminiscências, fica imperceptível na fulguração fora do ser-mundo: um jogo de forças moventes funde instantes do esquecimento criativo, escapa às faculdades recognitivas, às histórias pessoais, aos aprisionamentos identitários, não informa, não descreve, não comunica, sim, é invenção inobjectivável, multidimensional, é cinema-tempo-nas-fendas-sinápticas, é multiplicidade imperceptível misturadora de campos de controvérsias-in-corpóreas, linhas de tempo irresolutas, linhas intersectoras de crítica heterónima que recusa tradições totalizadoras, dinastias-sensório-motoras porque ela vive da impessoalidade incontrolável, do contrassenso, dos acasos larvares dos encontros sem formas onde tudo se abisma violentamente e se experimenta entre simultaneidades de acontecimentos e a intensificação de sensações, exigindo decifração inconsciente e sentido no tempo sem sucessão:

 

sim, a poesia se esculpe no intervalo entre ecossistema percebido e bioma desejado ao mergulhar no infinito das dobras da lucidez do devir, é uma força usurpadora sígnica, uma força em descodificação ilimitada que se presentifica nos movimentos larvários do passado virtual, ruptura ideais históricos, psiquismos essencialistas com as velocidades incomensuráveis da desterritorialização absoluta, transforma o encadeamento com os contrapontos da vida caológica, evita consciências com almas que não desejam se salvarem, tornando activas-jazzísticas as sensações num panorama babélico de actratores estranhos, de insurreições da língua, de alvoroços sensíveis de heteronomias e….encontro de ressonâncias do acaso, de zonas de irresolução vasculhadora de corpos analfabetos, de percepções esburacadas, de hesitações problemáticas onde se escavam línguas enciclopédicas-cambiantes( forças duráveis de diferenciação, expandem aluimentos, claridades sem clarezas sem exaurir os processos criativos, sendo estes sempre incompletos, desabaladamente abertos, transcodificados e varados por transduções indiscerníveis do fabulatório, nada é identificado, nem informado, mas contagiado por pontos de vista pulsáteis: sensações avassaladoras em intensivas variações ritmáveis quebram as superfícies-do-espelho com as irrigações com as dimensões caóticas, a pluralização de mundos do ritornelo ): uma voragem criadora de tensões, de superfícies transbordantes, de translocalizações ritmáveis onde os devires-do-phaneron se atravessam e se encontram com a vida num movimento vitalizado por impermanências, sim, a poesia é um processo do impensável dentro da complexidade da natureza, de mapas desejantes que nos invade sem previsões, sem gestos sepulcrais, nem entropias da igualização, provoca crise nos sistemas teóricos, é um mosaico de perspectivas chegantes onde o futuro se torna dimensão virtual accionadora do presente que assimila as energias do desejo entre mapas imanentes do mundo! A poesia não constrói projectos, pessoalismos, taxionomias, biografias, não produz ídolos, moralismos, tiranias, sentenças, razões, conhecimentos, nem deuses, não vive de esperanças, de ideais, de cógitos intelectuais, de competências racionais, de identidades, de representações, de aprovações, de gurulogias, de empoderamentos, de estruturações, de assistências sociais, de psicologismos, de guetizações, de memórias patológicas, de consciências-julgadoras, de sentimentos, de dialécticas, de reconhecimentos, de recompensas: a poesia é uma força da desumanização!


LUIS SERGUILHA: nasceu em Portugal, escreveu 14 livros de poesia e ensaio. KOAE, KALAHARI, PLANTAR ROSAS NA BARBÁRIE, são os títulos dos seus livros mais recentes. Foi professor de motricidade humana e coordenador de academia de dança e de actividades físicas-artísticas, seus ensaios destacam os atractores estranhos que atravessam o corpo-arte-pensamento! Participou em encontros internacionais de arte e literatura. Seus processos criativos têm sido objecto de estudo, de crítica e ensaio por parte de académicos, críticos, poetas, pensadores, artistas, escritores de Língua ibero-afro-americana.   Possui textos publicados em diversas revistas de literatura e arte. Alguns dos seus textos foram traduzidos para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e catalão. Criador da estética do LAHARSISMO e responsável por uma colecção de poesia contemporânea brasileira na prestigiada Editora Cosmorama (Coimbra-Portugal). Pesquisador da Poesia Brasileira Actual. É Curador do RAIAS-POÉTICAS: Afluentes IBERO-AFRO-AMERICANOS de ARTE e PENSAMENTO. Nos últimos anos fez conferências, palestras, conversações em várias universidades ibero-americanas focando as problemáticas do corpo, da arte, da literatura e do pensamento!