OBSERVATÓRIO DA NATUREZA

AVES OBSERVÁVEIS EM BRITIANDE E ARREDORES
Estela Guedes & Henrique Lima

PHASIANIDAE

Perdix perdix

Perdiz-cinzenta

Outrora a Charrela, ou Perdiz-cinzenta, povoava as serras do Norte de Portugal. Apesar da sua extinção no nosso país, ela ainda se encontra no Norte de Espanha, mas as suas populações continuam em declínio e cada vez mais longe das terras lusas.

Hoje em dia diversas espécies de aves estão ameaçadas de extinção global, e muitas outras não ameaçadas encontram-se em declínio. Entre estas, estão várias espécies de Galiformes, como é o caso da Perdiz-cinzenta (Perdix perdix), uma ave distribuída pela Europa, que no passado século sofreu um sério declínio em muitas regiões, sobretudo devido à intensificação agrícola.

Estão descritas oito sub-espécies de Perdiz-cinzenta:

- Perdix perdix perdix
- Perdix perdix robusta
- Perdix perdix canescens
- Perdix perdix lucida
- Perdix perdix italica
- Perdix perdix sphagnetorum
- Perdix perdix armoricana
- Perdix perdix hispaniensis


A P. p. hispaniensis, conhecida como Charrela em Portugal, é endémica da região ibero-pirenaica. A sub-especiação destas perdizes terá ocorrido com o seu asilo, a partir de núcleos de P. p. perdix, em zonas mais altas e de climas menos mediterrânicos, aquando da última glaciação. Esta sub-espécie foi primeiro distinguida por Lopez Seone, em 1891, na Galiza, como sendo a Perdix perdix charrela, mas acabou por ficar registada como Perdix perdix hispaniensis, segundo o nome designado por Reichenow, em 1892.

Registos históricos da Charrela em Portugal até à sua extinção

Em Portugal, noutros tempos, a Charrela era o Galiforme das terras altas, contrastando com a distribuição da Perdiz-vermelha (Alectoris rufa). Segundo as referências de Bocage (1896), Seabra (1910), Tait (1924) e Reis Júnior (1931), esta espécie distribuía-se pelo Norte de Portugal, provavelmente com elevada abundância, desde a Serra do Gerês até à Serra de Montesinho, descendo até à Serra do Marão e passando mesmo a sul do Douro, junto a Tarouca.

No final do século XIX a Charrela é descrita por Paulino de Oliveira como uma espécie sedentária, que não era rara em Trás-os-Montes. Nos anos 20 do século passado, William Tait observou bandos de Charrelas em Pitões das Junias, nas terras mais altas do concelho de Montalegre, na zona mais oriental da área que é hoje abrangida pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês. Ainda na mesma década, a maioria das Charrelas de Pitões terão sido caçadas. A estes exemplares somavam-se as Charrelas existentes na zona do concelho de Vieira do Minho (também no P.N.P.G.), nas serras do concelho de Bragança (actualmente pertencentes ao Parque Natural de Montesinho), e as que possivelmente ocorreriam muito raramente noutras serras altas do Norte de Portugal. Nesta altura, já há muitos anos que a espécie não era observada na Serra do Barroso, a sul de Montalegre, e Reis Junior considerava que ela já se encontrava quase extinta no país, sendo mesmo rara a captura de algum espécime nas zonas fronteiriças com Espanha, a norte de Bragança, onde a sua ocorrência era mais provável. Encontra-se referenciada uma nova observação, uma bando de 7 Charrelas, no conselho de Montalegre em 1936, a primeira no local ao fim de vários anos. Outro registo da década seguinte (1946) refere-se à captura de um espécime de Charrela fora da sua área natural de ocorrência, perto da Lagoa Comprida, na Serra da Estrela que, tal como Coverley conclui, terá sido resultado de uma introdução.

Os últimos registos de observações da ave no Parque Nacional remontam aos anos 50. Mais recentemente ter-se-á extinto numa já pequena área fronteiriça do Parque Natural de Montesinho. Esta área do Parque Natural transmontano continua a ser referenciada como a zona de Portugal onde ainda ocorre a Perdiz-cinzenta, mas de facto os trabalhos de campo nos anos 70 e 80 do último século, para a realização do Atlas de Aves Nacional e os trabalhos nos anos 90 para a realização do Atlas das Aves de Montesinho, assim como os correntes trabalhos para o Novo Atlas das Aves, não trazem qualquer registo de presença da Charrela. Diz-se, no entanto, que quando os montes de Sanábria estão cobertos de neve e o alimento escasseia, as Charrelas que ocupam estas zonas espanholas poderão descer às Serras de Montesinho.

Distribuição actual e situação das populações mais próximas de Portugal

Actualmente, nos Pirinéus franceses esta subespécie ocupa uma área de 9.216 km2. Em Espanha, além dos Pirinéus (6.279 Km2), ela encontra-se no Sistema Ibérico (636 km2) e na Cordilheira Cantábrica (12.453 km2). Aqui, a sua distribuição adjacente ao Parque Natural de Montesinho torna ainda possível, apesar de pouco provável, a observação destas perdizes em território nacional.

 
Fonte: http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=4924&iCanal=1&iSubCanal=41&iLingua=1
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