Eu dei conta de uma coisa estranha, que me pareceu uma ameixoeira que dava duas variedades diferentes de frutos, as ameixas amarelas vulgares e os cagoiços, que são muito docinhos e verdes mesmo em adultos, mais pequenos e redondos que as ameixas, porque essas ameixas são alongadas, e não sabia como era aquilo possível, porque híbridos não eram, isto é, lá híbridos são os frutos todos, mas o facto de uma árvore dar duas variedades diferentes não quer dizer que obrigatoriamente os frutos sejam híbridos por isso, pensei então que podia ser uma árvore enxertada noutra, e realmente, depois de observar com a máxima atenção, verifiquei que são duas árvores, tão agarradinhas uma à outra que parecem duas árvores enamoradas, vê-se perfeitamente que não é um ramo que dá duas variedades de frutos, são os ramos de uma árvore que dão os seus e os ramos da outra que dão os dela, eu não sei se a ameixoeira (Prunus sp.) foi enxertada no cagoiceiro (Prunus sp.) ou se nasceu ali um pé de ameixoeira coladinho à base do tronco do cagoiceiro, fotografei, não detectei sinais de enxertia, mas percebi que a ameixoeira tem sido podada, o que prova a intervenção humana no destino das duas árvores, mas isto do meu "Observatório da Natureza" é uma grande história, eu não observo Natureza nenhuma, se entendermos Natureza no sentido darwiniano, evolucionista, porque essa é uma Natureza conceptual, imagem de um paradigma, nunca perturbada pelo homem, até por ser anterior ao aparecimento do Homem na Terra, eu falo dos verdes, das paisagens, dos animais mais ou menos domésticos, que são quase todos, e não digo animais de estimação, digo domésticos, aqueles que moram na domus ou casa humana, que são todos, porque todo o planeta já foi domesticado, falo de tudo o que na Terra já foi transformado pela acção do Homem, e então a minha rubrica só por nostalgia romântica se chama "Observatório da Natureza", mais adequado seria chamar-se "Observatório da Cultura". |