Mais um bicho morto para enriquecer as nossas observações de naturalista amador, ou amadora, tanto me faz, aconteceu há dias, ia eu com a minha prima Saurita na estrada, mais ou menos junto ao caminho que vai para uma bonita casa em Cepões, onde ela diz que iam em tempos buscar camélias para a igreja, as pessoas gostam muito de flores, mas as flores são bonitas nos jardins e outros lugares próprios, não há nada mais pindérico do que pendurarem-se vasos de flores das pontes, às vezes pontes romanas, é uma vergonha, as flores não se devem pôr à frente dos monumentos e obras de arte e de objectos litúrgicos, como nos altares, não se vê a talha dourada nem nada, nos cemitérios ainda vá, os mortos não se importam e eu também não, amanhã ou depois lá iremos ver as camélias ao solar de Cepões, há dias só passámos em baixo e então a minha prima mostrou o esqueleto de cobra, e é de cobra, de que espécie da Ordem Sepentes, ignoro, mas por exclusão de partes sempre saberíamos que não é de Anaconda (Eunectes sp.), nem de Python, nem de Dendraspis, nem sequer de Vipera berus, há-de ser o esqueleto de alguma cobra que atinja ao menos meio metro de comprimento, que era o que esta tinha, e mais não adianto, não vale a pena, só os herpetologistas saberiam, desde Cuvier que os biólogos sabem reconstituir todo um esqueleto, e portanto um ser vivo, a partir de um só osso, e com um esqueleto têm uma data de ossos, além disso os ossos prestam mil outras informações altamente científicas, como se pode ver na série de TV, "Bones", eu vejo sempre, acho graça à prova e dedução científicas, que já Sherlock Holmes usava, e ao ar blasé, tão pedante como vasos de flores pendurados nas pontes romanas, daqueles actores e actrizes. |