Eu ontem ia a subir o monte do Senhor do Calvário, ali onde os meus primos têm casas, e até me disseram "Vamos apanhar pêssegos", e eu fui, apanhei um grande saco de pêssegos, era um dó de alma vê-los caídos debaixo das árvores, e tantos que nem bandos imensos de pássaros e manadas de ouriços-cacheiros os conseguiriam comer, e depois de ver tal dó de alma fiquei perfeitamente persuadida de que há bons ladrões e bons roubos, bom, não falemos mais de pêssegos por hoje, ia eu com a minha prima a subir o monte e vimos no chão uma cobrinha amorosa, a cabeça não é maior que o meu dedo polegar, e no todo deve medir alguns 30 ou 40 centímetros, se calhar é uma cria, eu, quando vejo bichinhos amorosos e pequeninos, penso sempre que são juvenis, para azar ou nem por isso tinha saído sem máquina fotográfica, depois tive de trazer a bichinha para casa e experimentei pô-la no scanner, foi uma maravilha, a imagem não é nenhuma obra de arte mas ficou óptima para identificar a espécie, sabia lá eu qual era?, mas, depois de analisar várias descrições de Serpentes de Portugal, cheguei à conclusão de que só podia ser a Riscadinha, também chamada Cobra-de-escada, porque o padrão do dorso são duas linhas longitudinais com umas manchas dentro, a coisa parece uma escada, espero que não haja grandes erros, nós temos poucas espécies de Serpentes, e venenosas são só as víboras, nada que se pareça com o ror de mortes que há por exemplo na Índia por causa das cobras venenosas, e eu nem nunca vi notícia de mortes causadas por mordedura de cobras em Portugal, fiquei muito contente porque a Riscadinha é simpática, come ratos, e o naturalista Rosa de Carvalho, quando escrevia a Bocage, muitas vezes falava da Riscadinha, e até com alguma ternura (1; 2). |