..COLÓQUIO INTERNACIONAL "A CRIAÇÃO". CONVENTO DE S. DOMINGOS. LISBOA. 2003 | |
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0. A comunicação da comunicação. |
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O termo ‘Comunicação’ significa, como sabemos, pôr em comum, na sua conotação latina original, communicare. Aquilo que pretendo colocar em comum convosco, hoje, são duas coisas: por um lado, uma temática, mas também, por outro lado, uma forma de comunicar. Em outras palavras: se o assunto que aqui me traz é o fenómeno da comunicação em geral, também pretendo analisar, muito brevemente, a comunicação de Colóquio ou de Congresso como figura de comunicação singularizada, e em particular enquanto expressão artística, para além da sua faceta científica mais habitual. Embora esta temática não seja propriamente nova, nada nos impede de a repensar e, quiçá, de contribuir, por pouco que seja, para a sua desconstrução. Nesta perspectiva, parece-nos que a comunicação de Colóquio ou de Congresso encerra certos traços peculiares, que a distinguem de outros modos de comunicação, dos quais alguns são os seguintes. |
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1. A substantividade do paper. |
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Vejamos, antes de mais, o que se passa quanto aos conteúdos científicos que o paper propõe. Em primeiro lugar, consideremos o plano abrangente, exterior e circundante ao Colóquio. Mesmo antes da apresentação de um texto neste evento cultural, o paper instila e destila - de acordo com o perfil sócio-estrutural e contextual do seu autor, bem como na sua produção escrita co-textual - ora uma dada representação da sociedade e do real, ora uma sua desconstrução. O conteúdo de um tal texto insere-se num processo de entendimento do mundo, que pode aproximá-lo ou distanciá-lo de outras comunicações científicas previstas para outros eventos científicos. Em termos mais específicos, o tema da comunicação de Colóquio pode incluir-se, menos ou mais profundamente, nestas cinco ordens processuais do conhecimento: o saber epocal ou epistémè; o saber de classe ou ideologia; o saber institucional ou discurso; o saber profissional ou qualificação/especialização; e o saber quotidiano ou senso comum. Em segundo lugar, numa óptica microssocial e concreta, o conteúdo dos textos de Colóquio distingue-se, para alguns deles, pela sua sintonia e pela sua inclusão no seio da problemática geral do Colóquio e das respectivas sessões plenárias. Ou, de um modo mais circunscrito, outros desses textos trairiam a sua identidade, isto é, o facto de serem comunicações de Colóquio - se não se incluíssem, alternativamente, nos contornos temáticos de um qualquer grupo de trabalho. Em terceiro lugar, numa perspectiva diacrónica, o conteúdo da comunicação de Colóquio ou de Congresso deverá encerrar alguma eventualidade, ou seja, o conjunto dos traços diferenciais da natureza do evento. Com efeito, tipicamente, este tipo de ensaios constitui aquilo que se chama uma fonte primária de informação / conhecimento. Uma fonte primária de informação / conhecimento possui três propriedades distintivas essenciais: 1ª particularidade: é actual; 2º atributo: é original, ou seja, contém informação recolhida em primeira mão; 3ª característica: o tratamento dos dados brutos é ainda relativamente incipiente, isto é, o texto foi escrito, pelo menos em parte, ‘a quente’, num estilo algo jornalístico, sem uma reflexão assaz profunda. |
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2. A figura sócio-semiótica da comunicação de Congresso. |
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Passemos em seguida à dimensão sígnica da comunicação de Colóquio. Começarei por enunciar, rapidamente, três atributos sócio-semiológicos centrais, da mesma maneira que se procedeu para a vertente de conteúdo da comunicação, atrás esboçada. Por um lado, no plano macrossocial, a figura comunicativa de Colóquio obedece a modelos legitimados de publicitação do saber, desde logo o discurso científico, que contém pelo menos cinco códigos ou sistemas de regras de organização dos significantes científicos em vista à produção do significados da Ciência: a racionalidade; a reflexividade; o carácter sistemático; o controlo dos procedimentos de recolha, análise e interpretação dos dados; e a crítica dos resultados. Por outro lado, no nível microssocial, a exposição de um paper no Colóquio assenta numa relação social intersubjectiva, onde a oralidade prevalece, no interior da deixis configurada pelo espaço / tempo da sala de apresentação e pelos respectivos sujeitos intervenientes no evento (os elementos da mesa e o público). Em termos mais sociológicos, trata-se de uma interacção manifesta ou explícita, segundo Erving Goffman, ou seja, aquela que utiliza, prioritariamente, a linguagem verbal, e não apenas as linguagens gestual, proxémica, etc., que pontificam na interacção implícita. Finalmente, no prisma de uma semiótica das temporalidades, uma tal comunicação oral desenvolve-se em três momentos típicos, cada um deles igualmente submetido a códigos diacrónico-comunicativos precisos: (a) a apresentação do orador pelo moderador; (b) a exposição pelo orador, e (c) o debate susbsquente entre os membros da mesa e o público. |
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3. A comunicação enquanto cria-actividade. |
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Dito isto, não seria desinteressante reintroduzir, nesta ordem de coisas, um pouco mais expressivamente, a acção de criar, ou criação, e a actividade de criação, ou cria-actividade. Por isso, a maneira de comunicar que aqui vos proponho para reflexão é uma espécie de diálogo, ou mesmo um dialogismo, entre, de um lado, a prosa sociológica que esbocei até aqui e, de outro lado, um modo poético de exposição das temáticas de Colóquio, que divulgarei a seguir. Desta feita, a anterior reflexão racional e reflexiva sobre a comunicação de Colóquio, de cariz mais científico, poderá obter uma maior impacto comunicativo, se a complementarmos, na dimensões formal, fática, conativa, etc., pela poesia. O conjunto das duas figuras de comunicação assim fusionadas produz uma escrita híbrida, a que chamei proesia. O resultado da escrita proética constitui o proema. Nesta perspectiva, repare-se que a própria natureza da prática e do discurso sociológicos podem transformar-se, de uma maneira algo alquímica, em Sociologia Poética, isto é, a interpretação do social através de um conjunto de poemas sociológicos. Ou, de um modo ainda mais intenso, a escrita do societal transmuta-se em Sociologia Proética, ou seja, o sócio-real captado, simultaneamente, por meio de prosa e de poesia sociológicas. Esta última denominação sugere ainda um sentido pró-ético, que pertende superar um défice que, por vezes, perpassa na Ciência, ou seja, alguma omissão do sentido ético da prática científica. Uma tal consciência ética deveria aliar-se, mais do que se fez até hoje, à dimensão estética da Ciência, por exemplo, mas não só, através da poesia, como Rómulo de Carvalho defendia para as Ciências da Natureza. Assim sendo, ofereço-vos, para vossa consideração, algumas ilustrações de Sociologia Poética, isto é, uns quantos poemas sociológicos, ainda inéditos, sobre (escritos) a comunicação, a informação e a interpretação, e sob (inscritos) nesses três processos sócio-sémicos. Uma tal Sociologia Poética funciona, desta feita, como uma espécie de sobreescrito que encerra, no seu seio, cartas (lettres), subscritas por letras (lettres) não tanto invisíveis, mas revisíveis pelo trabalho interpretativo do modo de escrita híbrida. Essa poesia do social, ou o social pela poesia, e acerca da sociedade de informação em particular, deverá comunicar, como referi, com a parte anterior da minha comunicação, aquela porção sobrescrita e subscrita em prosa. Sem isso, não poderemos falar, em pleno direito, nem de Socologia Proética, nem de proemas sobre a realidade e a irrealidade do social. |
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4. A Sociologia Poética, via para a proesia. |
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