Entrevista de Maria Estela Guedes realizada por e-mail. A tripontuação pertence ao entrevistado.
Maria Estela Guedes: Paulo, desde «A minha tropa foram os ‘Rolling Stones’» fizeste um percurso que te projectou para fora da linha musical, pelo menos a rockeira. Que marcas deixou o «Rock» na tua poesia??? E outra música???
Paulo Jorge Brito e Abreu: É bom dizê-lo, aqui, em viva vez e a voz: com justeza e com justiça, falar do «Rock and Roll» é falar da vida minha. Pouco depois de eu ser nado, em 1960, debutavam-se os «Beatles» na «Caverna» de Liverpool – e não tinham, ainda, gravado um LP. Porquanto o meu nascer foi o começo, e as primícias, de todos os começos. No atinente ao teu quesito, é bom que eu narre um facto importante e marcante: minha Poesia veio a lume sob o signo do «Rock». O caso é que, em 1969, um ano depós o Maio de 68, o grupo britânico «The Who» grava um álbum que ficou para a história da música – e me refiro, aqui, ao «Tommy» tempestivo. Na balada, no filme, e no balé-balancé. Foi tamanho o meu enlevo por essa Obra e essa ópera que chegamos, então, a 1975 – e com uma forte e uma firme determinação, o meu primeiro poema, túmido e terso, tem o título de «Quem?». Quatro anos mais tarde, em 1979 – e em minha estreia literária na «Viola Delta VI», das Edições Mic -, um dos sete poemas que eu ali publicito se chama, simplesmente, «A Janis Joplin», Janis Joplin janada como o Jano e a jorna. Em 1984, desta sorte, surde o lema e emblema do «Cântico Jovem para a tua Rebelião» – e no meu primeiro livro, oblativo e lectivo, eu dou a lume, liberal, a «Homenagem ( Poética ) a John Lennon», a menagem, patética, ao Poeta John Lennon. Dilucidando, agora um lance, jamais despiciendo: no ano 2000, em Mem Martins, quando eu celebro, no Teatro 2 M, os 21 anos de vida literária, eu regresso, forte e fértil, aos meus tempos de menino – e o faço cantando o «My Generation», mais um hino, mavioso, dos amados «The Who». Quanto a «A Minha Tropa Foram os ‘Rolling Stones’», ela faz parte, e participa, do melodrama edipiano – mas sendo a minha Obra mais conhecida, aqui há latente um jogo, e uma jornada, de Kabbalah fonética – e é como se fosse, radical, é como se fora, a «tropa», o feminino do «tropo». Valido, valente, e avassalador.
Não abandonei, dessarte, a música «Rock». O que eu abandonei, uma vez advinda a maturidade, foi o Surrealismo, o movimento «Beat». E a escola, figadal, do anarquismo juvenil. É força, aqui, é força dizê-lo: depois do passamento de meu querido, querido Pai, no ano 2012, interiorizei, preste e pronto, a sua «imago» paternal. Se eu quiser ser cristão, e cristiano até ao fim, terei de viver em paz com os militares, e os polícias, com os erários e factos das Autoridades. E não resisto, aqui, a fazer uma cita, uma curta e breve cita. Questionada, certa vez, sobre a obra de seu filho, a Mãe de Karl Marx redarguiu desta sorte: «Melhor seria que meu filho Karl conseguisse arranjar capital em vez de o combater.» E é por isso que eu sou, metaforicamente, nabantino e nazireu, e da Ordem da Milícia dos Cavaleiros do Templo.
MEG: Que Poetas apareceram ao mesmo tempo que tu e consideras teus «compagnons de route»???
PJBA: Em «alter ego», altivo e alteado lugar, o Poeta João Belo; a partir dos anos 80, fomos ambos artistas, artilheiros, na escola da Poesia. Era nosso, na escrita automática, no anarco-abjeccionismo e na Beleza convulsiva, o escol e a escola do Surrealismo. Na linha de Aragon, Poesia, para nós, era fervor e o estupor, era estupenda, estupefacta e a estupefaciente. Era, como em Pessoa, Nerval e Baudelaire, o êxtase e excelso, a ex-centricidade do Ser. Quero eu dizer, o «Teatro do Ser» como lema e emblema da Teresa Rita Lopes. Em mim, como em João Belo, o Amor extremoso e extremado por as magias ou imagens, as imagens, os mitos e as metáforas. Metáforas e metas que me conduziram, a partir do início dos anos 90, ao conhecimento, ou «con-naissance», de José Augusto Marques Pinheiro. Cognominado, cripticamente, «o Mago Merlin, de Tomar». Que foi, na Faculdade de Letras de Lisboa, o major, melhor aluno do Padre Manuel Antunes. Que foi professo e professor de Filosofia, de Português, de História e Geografia. Que unindo, e adunando, a Vara de José à Vara de Judá, foi Sumo Sacerdote, cabal e cordial, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o Sumo Sacerdote segundo a Ordem, sagrada, de Melquisedeque. Sendo já o Autor das «Confissões de um Místico», eu convivia, a miúdo ou amiúde, com os missionários, voluntários, aficionados de Joseph Smith. Em casa de José Augusto eu fomentava, alimentava, o «querigma», o canto e o carisma, foi daí que me nasceu o Amor e a paixão por alfarrábios, aleluias, e livros antigos. E sendo, formalmente, Católico, eu nunca vi, como eu vi na eclésia de Salt Lake City, tão magno interesse ou tamanho por as Letras, a Escritura, a impressa Palavra. A Palavra, a canção e a mundificação. E somos chegados, em vida tersa, ao terço, à tércia «persona» do meu Psicodrama: o Professor, o entusiasta e figadal António Cândido Franco. Ou melhor: àquele que me ajuda a dilatar, acalentar, alimentar a Boa Nova. E é cabal, aqui, a Santa Kabbalah, e é que a esperança da colheita reside na semente. E disso falarei, ovante, mais ovante, mas eu pertenci, a partir de fins dos anos 80, ao grupo de jovens que se reunia, entusiasta, derredor do Luiz Pacheco, Agostinho da Silva e António Barahona. Cada um destes nomes fazia parte, ou participava, da aristocracia, curial, do espírito e da esperança – e sendo, para o grémio, real e radical, não andava muito longe o Poeta Paulo Borges. Ou melhor: se através do Cândido Franco era Sol o Saudosismo, se era forte e era fértil a Filosofia, o Paulo Borges era a ponte e era fonte para o Movimento, ministério, da Filosofia Portuguesa. E pra a escolástica, saudosa, do Teixeira de Pascoaes. Era pois, e era meu, o ministério menestrel. Que continua, graças ao Cândido, nas loas e nas laudas da revista «A Ideia». E cada um destes nomes, que eu citei, é de alento, é d’alor e alimento. Ele jornadeia, comigo, até à jardinagem.
MEG: Quais eram então os locais onde publicavam os Poetas? Achas que a situação mudou muito, no que diz respeito à publicação de livros e textos dispersos???
PJBA: Minha Poesia muito deve, deveras, a dous selectos, e dilectos jornais: o «Jornal de Almada», no qual me debutei a 06/ 07/ 1979 e, ademais, «O Setubalense», que acolheu minha escritura desde os fins, caroáveis, dos anos oitenta. Se nominava «Espaço Vivo», a secção literária do almadense jornal, foi lá que deram frol as minhas 20 Primaveras. E lá de Túbal o preste publicismo, se chamava, verde e Verdi, a «Arca do Verbo». Mesmo ao pé do monumento a Barbosa du Bocage, se reuniam, as hostes literárias, na livraria Alfarrabista Uni-Verso, onde pontificava, preclaro, João Carlos Raposo Nunes, o «Raposão», dessarte, na gíria juvenil. Aí nós líamos Poesia, se falava de Poesia, se partilhava, dolente, a meiga Poesia. E chegamos, então, aos anos noventa. Nos quais surdem, deveras, dous movimentos de cultura alternativa: a Associação Cultural Sol XXI e, ademais, o mensário, menestrel, do «Artes & Artes». Iniciada, solerte, em Setembro de 1992, a «Sol XXI», ela foi, outrossim, revista literária; nela se revelaram Ulisses Duarte, José Fernando Tavares, o Autor destas linhas, Fátima Oliveira e Avelino de Sousa. E cada ovelha, diz o povo, com sua parelha. Campeavam, no «Artes & Artes» ( «jornal de estudos, artes e letras» ) José Fernando Tavares e, ademais, o Poeta e cantor Carlos Carranca, foi esta, portanto, a sua direcção. Curiosidade, aqui, da História Cultural: o primeiro número do «Artes & Artes» vai para as bancas, beletrista, em Junho, jornalista, de 1997. A partir de 1998, eu formo e forjo, o hinário-binário, com o Poeta e pintor Ulisses Duarte, e se diga, aqui, em abono da verdade: secundado era o periódico do «Artes & Artes» por a Universitária Editora, na qual eu laborei, levemente, como crítico literário. E se alteie, aqui, o valor e alor da impressa palavra. Foi à custa da hermenêutica à Poesia e à prosa de Tobias Pinheiro que eu ganhei, preste e pronto, dous prémios brasileiros: fui nomeado, a 30 de Novembro de 1999, Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras e, a 27 de Agosto do ano 2000, eu recebi, da União Brasileira de Escritores, a Medalha, e o modelo, Peregrino Júnior. E quanto à publicação de livros e dispersos em tempos hodiernos: a situação mudou, muito e muito, com a ática, fabulosa, e fantástica Internet. Em termos mediáticos, isso é belo e é boníssimo – mas nada chega até ao acme dos encontros e tertúlias nos anos oitenta. Na linha, portanto, dos filósofos avitos, alteemos, com alor, a palavra falada – e enalteçamos, então, a nossa «communio», em Paracleto e a «persona» do comunitário.
MEG: Hoje todos temos acesso à Internet. Foi fácil a tua assimilação das novas tecnologias e seus códigos???
PJBA: Como Jung e Schopenhauer, eu ando sempre em busca da platónica Ideia, e a custo me apercebo do que está aos meus pés – e era esse, dessarte, esse era o dilema de Tales de Mileto. Muito embora eu seja filho de Engenheiro Electrotécnico, tenho pouca destreza para as máquinas, motores, e a maquinaria. Se o meu Pai me auxiliava nos tempos, saudosos, do «Artes & Artes», me ajuda, hodiernamente, o meu Irmão Luís André, ele é técnico e terso nos computadores. É certo dizer que com a Filosofia, segundo Heidegger, não se pode fazer nada – e foi só devido e graças aos meus familiares que eu consegui, na Academia da escrita, comunicar, construir, e emitir para o mundo todo.
MEG: Entretanto, assinaste um livro com Filipe de Fiúza. Como foi escrever a quatro mãos? Que afinidade espiritual com o Filipe de Fiúza permitiu que a obra chegasse a bom termo???
PJBA: Eu quero, ao Filipe, como se ele fora meu filho. É tempo de afirmar que este jovem faz, da Poesia, a sua religião, que ele acredita ser Deus a força das imagens. Senão, vejamos nós: no Verão de 2003, com as vinte Primaveras, ele faz serviço voluntário na Ordem dos Irmãos de S. João de Deus, ele sana, sara e cura, na Casa de Saúde do Telhal, os dolentes, achacados e doentes. Surpreendeu-me, deveras, há uns anos atrás, o encarar com um jovem que não bebe, que não fuma, que tem altos, libertários, e lautos ideais. Sei que ele esteve ligado, «verbi gratia», ao PAN alternativo, ao Partido dos Animais, dessarte, e também da Natureza. Como Pacifista, por isso, que sou, senti que era chegado o tempo, a ocasião, de passar, aos mais novos, o meu testemunho – e graças, desta sorte, ao bom do Filipe, eu tenho, desde há 3 anos, um Site na Internet. Que o que faz, afinal, o nosso querido Filipe, é pôr, ao serviço das forças da Luz, a electrónica, alfim, e o espaço virtual, o espaço Cibernauta em que as palavras são naus. Quando essas palavras se adunam à ciência, e à magia das imagens, se alcança, de boamente, a maravilha do miráculo – e a nossa cultura, nos tópicos e tropos, é qual ventura, afinal, e é cultura de encontros. Ou melhor: se é certo, como queria Rimbaud, que o «Je est un autre», o eu pactua, desta sorte, com o Outro, para a construção comunitária do grupo e do Nós – e são «Os Nós e os Laços» de que falava, preclaro, o Alçada Baptista. E é, outrossim, e é a lauta letradura cultuando, caroal, a tradição do soneto. E cultuando, na Internet, a liga, a ligação, a Língua Portuguesa. Pois parafraseando, cautamente e levemente, o Leonardo Coimbra, a Grande Obra, a Obra ao Rubro, não está feita, radical, de uma vez por todas – e é preciso apostar, no «rapport» e apostilha, no orbe, e na Obra, ainda a fazer. Por estas, afinal, e outras razões, é bom que eu labore, lealmente, com a nova geração; quando eu chegar, bem geronte, à provecta senectude, eu fixarei, do Almada: é preciso começar.
MEG: Sinto que fizeste uma evolução espiritual na tua obra. Gostava de saber quais consideras teus Mestres, e que doutrinas te norteiam.
PJBA: Antes de responder, cabalmente, à tua pergunta, farei, aqui, um filosófico excurso. A diversidade das religiões é apenas aparente, pois cada religião é o sentido, ou sentimento, do Altíssimo, segundo as coordenadas do espaço e do tempo, quer dizer, as coordenadas, a priori, da sensibilidade. O que faz, por isso, com que haja várias Teologias são as diferentes Histórias, as Geografias diversas de cada hombridade, ou melhor, comunidade. Se as línguas, por isso, são diferentes, a Ideia de Deus é dessarte universal, e os cultos são tantos quantas as culturas. Pois segundo, seguindo Hegel, as três fôrmas, ou formas, do Espírito Absoluto são a Arte, a Religião, a figadal Filosofia. Quero eu dizer: em todos os povos, sem excepção, a Arte nasceu pra dar a voz, e a vez, ao sentimento religioso. No respeitante, agora, no atinente, e concernente, à tua demanda: eu sou, essencialmente, um livre-pensador sem obediência maçónica – e Liberdade, Igualdade e Fraternidade é trilogia sagrada segundo Saint-Martin. Mas eis aqui o que eu anelo: que a Liberdade exterior, ela não esmague, e não anule, a Liberdade interior. Quero eu dizer: estudioso e aficionado da Santíssima Kabbalah, os meus três grandes Mestres, na Cultura Portuguesa, são Pinharanda Gomes, Álvaro Ribeiro e António de Macedo. Duas tradições concernentes, e atinentes, à Cultura Lusitana: o figadal apostolado, a Filosofia Portuguesa, e, outrossim, o Catolicismo. E por isso aqui eu alço, eu alteio ou realço os Numes e os nomes de Leonardo Coimbra, o Padre Manuel Antunes, o Padre, no vigor, António Vieira. Nótula vidente, e por isso nitente: eu pratico, todos os dias, o Tarot, a Numerologia, o dogma e ritual da Alta Magia. Tenho dessarte um grande apreço por Papus, Max Heindel e Madame Blavatsky, e procuro realçar, na minha escrita, as Ciências do culto e Ciências Ocultas. Quero aduzir, aqui: ciente e sabedor de que as palavras voam, mas os escritos permanecem, eu louvo, levemente, a Santidade – e eu faço, ginasta, o culto do Génio, esse o meu escopo e a Escolástica, alfim. Anelo, por isso, adunar, ou ligar, a Ciência das letras à Ciência dos números, e, nos recitais, a Ciência dos números à ciência dos sons. Às quais aditaria, leve e breve, a consciência das cores, e a magia das imagens, o mundo meigo, universal, e mágico-simbólico. E se «Deus super omnia, Deus super omnia», e «Dominus tecum», tu sê terso em minha escrita, prepara tu a messe para a vinda do Messias!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
MEG: Dás maior relevo a que livros teus??? A quais estás mais ligado???
PJBA: Ao fim de quarenta anos de vida literária, os meus livros mais dilectos são «Agricultura Celeste», «Liber Mundi», «O Livre e a Lavra» e «Loas à Lua». Os meus proémios principais foram feitos a Obras de Tobias Pinheiro, Antônio William Fontoura Chaves, Joaquim Evónio, Fernando Grade, Maria Azenha e Célia Moura, também. Mas não nos iludamos: como homem de estudo, e nanja e nunca como homem de Estado, a parte mais grada, e sagrada, da minha Obra, ela está, ainda, por fazer……………….
Que Luz, 07/ 06/ 2019
AD MAJOREM DEI GLORIAM
PAULO JORGE BRITO E ABREU