EDUARDO AROSO
Queria a palavra
Que fosse lanterna.
A que Diógenes erguia na mão
Era alheia ao movimento nas ruas
Incapaz para encontrar um amigo.
Procuro a lanterna
Uma outra que harmoniosamente
Se perdesse no sol do dia
Por não ser mais necessária.
Queria o verbo
O rio
Sem a facilidade do leito
Nem a sedução das margens.
A palavra que faz mover
Todos os rios
Talhados no curso perfeito
Para simplesmente correrem…
Queria emprestado
O canto dos pássaros
Para despertar a mudez
Das flores mais belas
E a resignação da melodia única
Que palpita na laringe das pedras
Num tom firme que não foge…
Equinócio de Outono, 2018
Eduardo Aroso (1952, Coimbra). Professor de Educação Musical e compositor. Foi regente do Coro de Professores de Coimbra, co-fundador da Academia Monteverdi, da Tertúlia do Fado de Coimbra e do Gresfoz. Algumas publicações: A Poesia vai à Escola, Poemas do Arquétipo, O Olhar da Serra, Habitante Sensível, A Quinta Nau e A Guitarra Portuguesa (ensaio). Incluído em: Antologia Ibero-Americana de Homenagem a Rosalía de Castro, Bienal de Poesia de Madrid, Álamo. Co-subscritor para a Fundação da Academia Ibero-Americana de Letras (Madrid); 1987. Na esfera do pensamento português: Teoremas de Filosofa (Porto). Conviveu com Agostinho da Silva e António Telmo.