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OSCAR PORTELA
DESENCARNADO
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Apagar-me, sim, apagar-me, não estar já,
não ser, levitar como uma estranha nuvem
junto a esse Deus efêmero
que em meus sonhos floresce
e assim permanecer "desencarnado"
sonhando na vigília e os sonhos
atento, sem saber já se vivo,
ou no Érebo estou, junto a Maria Estela,
oscilando como o pistilo
de uma flor de Ouro, ou eu, cansado já
das prisões da carne e
o tempo, das feridas e traições
que a solidão traz consigo,
imóvel, frágil, só, imóvel, junto a Maria Estela
onde meus cegos olhos
não contemplam mais nada
deste mundo onde triunfa o abismo
da terrível liberdade que possui
e que atrai mesmo assim
com a força do Caos, do abismo
sem fundo: assim queria estar
como invisível pássaro, na rama invisível
de um invisível amor, ai,
qual nuvenzinha etérea, já apenas canto,
já apenas sopro, já apenas poema,
sem dizer senão nada, tudo alminha invisível
de um fulgurante instante.
Oscar Portela: 18 de fevereiro de 2005
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VERA-LUZ |
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Vens a mim, surgida da espuma
e como o pássaro
que sente
"em toda intensidade
o ar", te sustentas em minhas obscuras
penas, em minhas profundas mágoas,
nos suspiros de Ícaro
que adormecem meu sangue,
tu, a meu lado
estrela, concha marinha,
fênix do espírito que no zênite
floresces, e fazes do tempo
cântaro, que eternidade incendia
longe no éter,
onde tudo é etéreo,
o canto de Serafins
e o clamor eterno
de belos Querubins: assim
estás junto a mim, assim a meu lado,
para alçar-me em tuas asas
quando caio ao abismo
onde a vertigem ascende,
e apenas sobram pressas,
prisões e tormentos:
tu, alma de mulher, onicompreensiva
violeta, Gaia, - "terra",
água, lua - que ocultas o nome
de quem virá a reinar.
Como nomear-te pois
senão daimon radioso
que em meus ouvidos sussurras
Melodias não escutadas ainda?
Oscar Portela. 8 de fevereiro de 2005 |
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