Os rios

DAVID AUGUSTO BENE


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Ao Manuel Nopeia

Os rios. Cresceram desde o grande dilúvio. Muitos deles acabaram aliciando a calmaria dos grandes lagos. Dos grandes mares. Dos grandes oceanos. Descansaram para sempre. Alguns resistiram à gravidade e com o tempo conheceram os macacos. Na companhia deles, abriram a boca. Falaram e choraram. Pelos pequenos irmãos que eram engolidos pelo sol. Pelos grandes primos que aos poucos iam se apaixonando pela ideia de foder os grandes oceanos. Os contemporâneos conheceram Caruso, a viúva de Lucio Dalla. Com ela, amaram a Ópera e tal como Zambeze, tornaram-se tenores dos grandes planaltos de África. Não é pura coincidência que todos se vivam ao atravessá-los. Germinam ao dançá-los. Gemem ao fodê-los. Riem-se ao fitá-los.

Os rios. Cresceram desde o grande dilúvio. São mais velhos que as palavras. E os poetas.

 

David Augusto Bene